China reage à provocação da premiê Takaichi sobre Taiwan: “quem brinca com fogo acaba incinerado”

Mísseis de produção recente são exibidos na parada de Pequim na comemoração dos 80 anos da vitória sobre as forças fascistas (Foto governo da China)

Na mesma semana, premiê se descomprometeu com a preservação da constituição pacifista do Japão, que proíbe armas nucleares

O Diário do Povo, porta-voz do PC da China e mais importante jornal chinês, reiterou nesta sexta-feira (14) a advertência ao Japão sobre “brincar com fogo”, após sua nova primeira-ministra, Sanae Takaichi, ter, descaradamente, no parlamento japonês, alegado uma “emergência de Taiwan” que poderia constituir em “ameaça à sobrevivência” do país, implicando em intervenção armada japonesa no Estreito.

“Esta é uma interferência flagrante nos assuntos internos da China, uma traição ao princípio de Uma Só China e um desafio flagrante à ordem internacional pós-Segunda Guerra Mundial”, afirmou o jornal.

Indivíduos perspicazes na China e no Japão – acrescenta o jornal – apontaram que a declaração de Takaichi marca “a primeira vez desde a derrota do Japão em 1945” que um líder japonês afirmou formalmente que “uma contingência de Taiwan” poderia constituir uma “situação de ameaça à sobrevivência” para o Japão e vincular isso ao exercício do direito à autodefesa coletiva, “a primeira vez que um líder japonês expressou ambições de tentar uma intervenção armada na questão de Taiwan”, e “a primeira vez que um líder japonês emitiu uma ameaça militar contra a China”.

O governo chinês e o povo chinês estão “fortemente indignados com isso e se opõem resolutamente”, continua o documento, denunciando as “intenções extremamente sinistras, sua natureza extremamente flagrante e suas consequências extremamente sérias” da provocação realizada por Takaichi.

“Desde os tempos modernos, o militarismo japonês se envolveu em agressão desenfreada e expansão no exterior, cometendo inúmeros crimes contra a China. Em 1895, o Japão anexou Taiwan à força por meio do Tratado de Shimonoseki, implementando um domínio colonial de 50 anos, reprimindo impiedosamente a resistência dos compatriotas de Taiwan, saqueando recursos maciços e causando graves danos à economia, cultura e meios de subsistência de Taiwan.”

“Em 1945, após 14 anos de luta árdua e sangrenta, o povo chinês alcançou uma grande vitória na Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e na Guerra Mundial Antifascista. O Japão assinou o instrumento de rendição e aceitou formalmente documentos legais internacionais que estipulavam a restauração de Taiwan à pátria, como a Declaração do Cairo e a Proclamação de Potsdam. A China recuperou Taiwan e retomou sua soberania sobre a ilha. Este foi um capítulo glorioso na defesa da unidade nacional da nação chinesa e uma parte importante da ordem internacional pós-Segunda Guerra Mundial.”

Este ano marca o 80º aniversário da vitória da Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e a Guerra Mundial Antifascista, e o 80º aniversário da restauração de Taiwan, destacou o Diário do Povo, enfatizando que a comunidade internacional há muito chegou a um amplo consenso sobre a adesão ao princípio de Uma Só China.

“Como nação derrotada, o Japão deve refletir profundamente sobre seus crimes históricos, honrar os compromissos assumidos com a China e a comunidade internacional e tomar medidas concretas para respeitar plenamente a soberania e a integridade territorial da China.”

PRETEXTO CÍNICO

Para o Diário do Povo, a ação de Takaichi, tentando vincular a região de Taiwan da China aos chamados “interesses de segurança” do Japão, busca “fornecer um pretexto para a intervenção militar japonesa na questão de Taiwan, expondo a trama sinistra do Japão e a ambição de envolvimento militar no Estreito de Taiwan”.

“Isso não apenas envia um sinal gravemente errado para as forças separatistas da ‘independência de Taiwan’, mas também viola gravemente o conteúdo central do princípio de Uma Só China na Declaração Conjunta China-Japão, bem como o quarto documento político entre a China e o Japão, que afirmou seu compromisso de que os dois lados são parceiros cooperativos e não representam uma ameaça um para o outro. Isso minou seriamente a base política das relações China-Japão.”

ARROGÂNCIA DA EXTREMA-DIREITA JAPONESA

Por trás das falácias de Takaichi sobre Taiwan está “a obsessão e a arrogância das forças de direita do Japão em romper as restrições da constituição pacifista e buscar o status de uma ‘potência militar’”.

O Diário do Povo denunciou que nos últimos anos o Japão vem “acelerando rapidamente sua militarização, minando continuamente sua constituição pacifista, abandonando completamente o princípio da “defesa exclusivamente defensiva” e tentando abandonar os ‘Três Princípios Não Nucleares’”.

Nesse contexto, a ligação de Takaichi da “emergência de Taiwan” com a autodefesa coletiva é um pretexto para a expansão militar do Japão, carregando sinais perigosos de um ressurgimento do militarismo.

“Desde suas frequentes visitas ao Santuário Yasukuni até sua negação do Massacre de Nanjing e sua persistente promoção da teoria da “Ameaça da China”, cada passo de Takaichi segue os velhos passos dos crimes históricos, buscando reverter o veredicto sobre a agressão histórica do Japão e reviver o militarismo”, advertiu o principal jornal chinês.

O DP lembra que o militarismo japonês ao longo da história usou a chamada “situação de ameaça à sobrevivência” como pretexto para lançar uma agressão estrangeira, “incluindo a criação descarada do Incidente de 18 de Setembro sob o pretexto de ‘exercer o direito de autodefesa’ e provocar a guerra de agressão contra a China”.

Hoje – questiona -, “ao trazer à tona uma retórica semelhante, o Japão está tentando repetir seus erros históricos?”.

LINHA VERMELHA

O Diário do Povo destacou que o grande rejuvenescimento da nação chinesa e a reunificação da China são “tendências históricas imparáveis”. “O governo e o povo chineses estão decididos a salvaguardar a soberania e a integridade territorial do país. A questão de Taiwan é o cerne dos interesses centrais da China, e qualquer um que se atreva a tocar nessa linha vermelha não será tolerado pelos mais de 1,4 bilhão de chineses ou por toda a nação chinesa!”

“O lado japonês deve corrigir imediatamente suas palavras e ações provocativas e cruzadas, retratar suas declarações flagrantes e cessar suas ações perigosas e imprudentes nos campos militar e de segurança; caso contrário, assumirá total responsabilidade pelas consequências.”

“Oitenta anos atrás, o povo chinês derrotou a agressão militarista japonesa. Hoje, a nação chinesa tem vontade firme, total confiança e capacidade suficiente para derrotar qualquer forma de esquemas separatistas de “independência de Taiwan” e interferência externa. Aqueles que brincam com fogo acabarão se queimando muito. Qualquer força que tente obstruir a reunificação da China será como um louva-a-deus tentando parar uma carruagem; enfrentará contramedidas resolutas e fracasso total.”

 “TRÊS PRINCÍPIOS NÃO NUCLEARES” SOB AMEAÇA

Tida como o mais extremista líder japonês desde a derrota de 1945, a premiê Takaichi voltou a emitir declarações incendiárias no parlamento (Dieta), agora tentando passar por cima da constituição pacifista japonesa e da proibição constitucional às armas nucleares, os chamados “três princípios não nucleares”: “não possuir, produzir ou introduzir armas nucleares em seu território”.

Takaichi disse na segunda-feira (10) que não poderia dizer se esses três princípios serão mantidos em uma próxima revisão da estratégia de segurança do Japão.

“Não posso fazer uma declaração definitiva ou dizer que ela será escrita dessa maneira”, disse ela, respondendo a uma pergunta de um parlamentar da oposição. Ela acrescentou que, por enquanto, o governo ainda adere a eles como uma diretriz política.

Também foi relatado que o Partido Liberal Democrático do Japão, o partido de Takaichi, e o Partido da Inovação do Japão realizaram discussões em 13 de novembro sobre a revisão do Artigo 9 da Constituição e a criação de uma cláusula de “poderes de emergência”. O secretário-chefe do gabinete, Minoru Kihara, afirmou que “nenhuma opção está fora da mesa” em relação à possível introdução de submarinos movidos a energia nuclear.

Grupos antinucleares no Japão – inclusive de sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, os hibakusha – se opõem ferozmente a essa “revisão”, cobrando que Tóquio é moralmente obrigada a se opor às armas nucleares, incluindo sua presença em solo japonês, devido aos horrores vividos pelo povo japonês sob os bombardeios atômicos norte-americanos no final da Segunda Guerra Mundial.

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