A China advertiu nesta quinta-feira (16) os EUA que o veto à gigante das telecomunicações Huawei estabelecido pelo presidente Donald Trump pode “prejudicar” ainda mais as relações comerciais entre os dois países.
“Pedimos aos Estados Unidos que interrompam suas ações incorretas (…) para evitar que isto provoque danos adicionais às relações econômicas e comerciais entre China e Estados Unidos”, afirmou o porta-voz do ministério do Comércio, Gao Feng, em uma entrevista coletiva.
A China se opõe a medidas unilaterais contra qualquer entidade do país, reiterou Gao, acrescentando que Pequim irá “salvaguardar o interesse legítimo de nossas empresas”.
Trump proibiu na quarta-feira que empresas de seu país utilizem equipamentos de telecomunicações de grupos estrangeiros considerados perigosos para a segurança nacional, medida cujo alvo óbvio é a chinesa Huawei, que lidera na tecnologia 5G e que suplantou a Apple como segunda maior fabricante de celulares do mundo.
Apesar disso, o secretário do Tesouro de Trump, o banqueiro Steven Mnuchin, asseverou que as restrições não valeriam apenas para a China, mas para “todos os países” que “tentam roubar” tecnologia dos EUA.
Na verdade, no 5G não são os EUA que têm ‘tecnologia a ser roubada’, mas a China, e em especial, a Huawei, reconhecidamente líder mundial no desenvolvimento das redes de alta velocidade. No 5G, as paquidérmicas corporações norte-americanas ficaram relegadas à rabeira.
Na Organização Mundial do Comércio (OMC), no início da semana o governo chinês já apresentara denúncia sobre o uso arbitrário da cláusula de “segurança nacional” para coibir a concorrência, de que o governo Trump vem usando e abusando.
GRAMPO GERAL É COM OS EUA
Embora não haja sido provado em nenhum momento que dispositivos da Huawei sejam utilizados para espionagem ou guerra cibernética, o mesmo não pode ser dito de produtos norte-americanos ou de seu satélite israelense.
Desde as contundentes denúncias de Edward Snowden, se sabe que são os EUA que espionam e grampeiam o mundo inteiro, com enorme envolvimento de suas empresas, sempre solícitas em fornecer portas dos fundos ou até salas especiais dentro das próprias operadoras norte-americanas.
Esta semana, também se tornou público a existência de um software israelense para espionar comunicações via Whatsapp, e que teria sido muito útil no assassinato do jornalista saudita, Jamal Khashoggi. No vazamento dos documentos ‘Vault Seven’, o WikiLeaks revelou as ferramentas da CIA para cometer ataques cibernéticos e colocar a culpa nos outros.
A guerra de Washington contra o desenvolvimento chinês da alta tecnologia, de carros elétricos à computação quântica, passando pela inteligência artificial, já levou até mesmo ao virtual seqüestro da diretora financeira da Huawei em escala de voo no Canadá, e filha do fundador da empresa, cuja extradição foi pedida pelos EUA por suposta violação de sanções contra o Irã.
Trégua na guerra comercial desencadeada por Washington foi rompida pelo governo Trump na semana passada, com escalada de tarifas sobre importações da China, já respondida por Pequim. O colapso das negociações se seguiu à recusa da China de se submeter aos limites do desenvolvimento da alta tecnologia, exigidos pelo governo Trump, que inclusive pretendia ‘redigir’ as leis chinesas que iriam consagrar tal sujeição.
Pelo plano chinês, até 2025, o país deverá produzir internamente 70% do que consumir de alta tecnologia, e deter a tecnologia mais avançada em cada setor de inovação. A China já é o país no mundo que mais forma engenheiros e cientistas e, nos gastos com pesquisa e desenvolvimento, já deixou para trás a União Europeia e o Japão e está quase empatada com os EUA.
A.P.