Leste asiático não precisa de confrontação de blocos militares, diz ex-chanceler Wang Yi, que chamou todos a apoiarem sinceramente os esforços pela paz ensejados pelo bloco ASEAN e diz a EUA que pare de atiçar com provocações
A China rechaçou a ambição da Otan de se intrometer na Ásia-Pacífico e criticou na sexta-feira (14) as tentativas de minar o papel central da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) na arquitetura de cooperação regional do Leste Asiático. Criada em 1967, a Asean reúne Indonésia, Malásia, Vietnã, Singapura, Brunei, Laos, Camboja, Tailândia, Myanmar e Filipinas.
O “alerta severo” – na expressão do jornal China Daily – foi feito pelo principal diplomata chinês, Wang Yi, ex-chanceler e responsável, no Partido Comunista Chinês (PCCh), pelas relações exteriores, durante a reunião anual dos Ministros das Relações Exteriores da Cúpula do Sudeste Asiático, em Jacarta. A Ásia-Pacífico não precisa de uma corrida armamentista, nem de confronto de blocos militares e é ainda “mais irracional a Otan intervir no Leste Asiático”, ele explicitou.
O encontro em Jacarta, capital da Indonésia, reuniu representantes de 10 países da Asean junto com outros oito países — Austrália, China, Japão, Índia, Nova Zelândia, República da Coreia, Rússia e Estados Unidos. Wang os exortou a “apoiarem sinceramente o papel central da Asean e a construírem uma base sólida para a paz”.
Destacando que o papel central da Asean é o resultado natural da evolução histórica e do terreno comum de seus integrantes, Wang rejeitou as tentativas de minar e substituir o papel da Asean. “A paz regional depende do desenvolvimento universal e da prosperidade comum de todos os países e não deve ser baseada na busca de segurança absoluta por um pequeno número de países”, frisou o representante chinês.
Wang assinalou que a China está disposta a explorar a cooperação com todas as partes em relação à Iniciativa de Segurança Global que propôs. Ele reiterou também a disposição da China de assumir a liderança na assinatura do Protocolo ao Tratado da Zona Livre de Armas Nucleares do Sudeste Asiático.
Analistas apontaram que a presença militar reforçada dos EUA e seus aliados no Mar da China Meridional e as políticas que buscam a “desvinculação” econômica com a China e o alcance expandido da Otan na região vêm perturbando a paz e o desenvolvimento regional, que é o desejo mútuo de todos os paises do Leste asiático. A região também se vê afetada pelas conseqüências da guerra de procuração dos EUA/Otan contra a Rússia na Ucrania e pelas sanções econômicas que a completam e suas conseqüências no preço da energia e dos alimentos.
No discurso de Wang, o diplomata sênior pediu o apoio ao multilateralismo genuíno, o fortalecimento da interação benigna e a volta da cooperação na região ao caminho certo.
Ele também pediu a todos os países que se unam para tornar a região um centro de crescimento econômico, promover o desenvolvimento comum, defender o caminho certo com a globalização econômica e proteger o sistema multilateral de comércio. Ele acrescentou que a China está pronta para trabalhar com todas as partes para continuar o avanço da cooperação no alívio da pobreza e energia.
MAR DO SUL DA CHINA
Wang também se deteve sobre como as grandes potências não regionais usam a questão do Mar da China Meridional para intervir em assuntos regionais, semear a discórdia e minar a solidariedade e a cooperação na região. Expondo a posição de princípios da China na questão do Mar do Sul da China, ele enfatizou que a China rejeita “a hegemonia da navegação em nome da liberdade de navegação”.
O Mar da China Meridional é atualmente uma das águas mais seguras e abertas do mundo para navegação, disse ele, observando que a China e os países litorâneos do Mar da China Meridional cumprem as leis internacionais, incluindo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. (UNCLOS). Wang acrescentou que Pequim sempre defendeu a solução pacífica de disputas por meio de consultas amistosas entre os países diretamente envolvidos, que é um princípio que também foi inscrito na UNCLOS.
Ele disse que espera que os países de fora da região respeitem os esforços da China e da Asean e desempenhem um papel positivo na manutenção da estabilidade regional. A China e a Asean não precisam de instrutores condescendentes, mas têm total confiança, sabedoria e capacidade para resolver adequadamente a questão do Mar do Sul da China por meio de esforços conjuntos, acrescentou.
Wang também disse que a descarga de água contaminada por rejeitos radioativos pelo Japão no oceano afetaria a segurança do ambiente marinho e a saúde das vidas humanas, e é um assunto de grande importância e, portanto, não deve ser realizada sem autorização.
BILATERAIS
Wang também se reuniu com vários ministros das Relações Exteriores à margem da cúpula de Jacarta, em que se manifestou por relações bilaterais estáveis e cooperação prática e pediu a salvaguarda dos interesses comuns, registrou a agência de notícias Xinhua.
Observando que a China e os EUA chegaram recentemente a alguns entendimentos comuns na recalibração dos laços China-EUA, o diplomata chinês destacou em sua reunião com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que os dois lados precisam começar com etapas específicas para criar condições e remover interrupções para estabilizar as relações bilaterais. Ele instou Washington a evitar interferir arbitrariamente nos assuntos internos da China ou minar a soberania e integridade territorial da China, parar de suprimir a China na economia, comércio, ciência e tecnologia e suspender as sanções ilegais e injustificadas contra a China.
Quanto a Taiwan, Wang foi claro: “Estamos dispostos a fazer os maiores esforços com a maior sinceridade para buscar a reunificação pacífica, mas nossa determinação em defender a soberania nacional e a integridade territorial permanecem inabaláveis”.
Saudando o firme apoio mútuo da China e da Rússia na salvaguarda de seus interesses legítimos e na adesão ao caminho da coexistência harmoniosa e da cooperação ganha-ganha, Wang pediu a ambos os lados que promovam conjuntamente a multipolaridade mundial e maior democracia nas relações internacionais durante sua reunião com chanceler russo, Sergei Lavrov .
No encontro com seu homólogo sul-coreano, Park Jin, Wang disse que a política de boa vizinhança e amigável da China em relação à Coreia do Sul é consistente e estável, acrescentando que não é direcionada a terceiros e não deve ser influenciada por terceiros.
As relações China-Japão estão em um momento crucial, disse Wang ao chanceler japonês, Yoshimasa Hayashi, observando que o posicionamento do Japão sobre a China como o maior desafio estratégico e exaltando a “ameaça da China” é seriamente inconsistente com a realidade das relações China-Japão e contraria o importante consenso de “ser parceiros, não ameaças”.
Wang expressou a esperança de que o Japão traga as relações bilaterais de volta aos trilhos, acrescentando que a China está aberta a manter contatos em todos os níveis, intercâmbios econômicos, comerciais e interpessoais.
Na recente cúpula da Otan em Vilna, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia compareceram como convidados. Proposta de criar um “escritório de ligação” da Otan no Japão foi adiada sine die, devido à oposição da França, cujo presidente observou que o Japão não pode ser considerado parte de uma “Aliança do Atlântico Norte”, por não ser da região. Durante a cúpula, não faltaram exortações a uma “Otan global” e provocações contra a China.