As medidas de restrição de circulação estabelecidas pelas autoridades de saúde chinesas alcançaram nesta sexta-feira (24) ao menos dez cidades na província de Hubei. As medidas foram tomadas para frear a epidemia de coronavírus, que já matou 25 pessoas e tem mais de 800 casos confirmados.
Wuhan, que fica na província de Hubei, cidade considerada epicentro da doença, já estava sob quarentena. As outras cidades afetadas pela medida são Ezhou, Huanggang, Chibi, Xiantao, Zhijiang, Qianjiang, Huangshi, Xianning e Yichang.
As restrições incluem fechamento de estações de trens, rodoviárias, transportes urbanos e de circulação de carros por algumas estradas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou na quinta-feira (23) que o surto de coronavírus em curso na China não constitui uma “emergência de saúde pública de âmbito internacional”, após reunião de dois dias em Genebra com um comitê de especialistas convocado para examinar a ameaça.
Em entrevista coletiva, o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreysus, confirmou que há “uma emergência na China”, mas “ainda não é uma emergência de saúde global”, embora haja admitido que “poderia se tornar”. Ghebreyesus elogiou o governo chinês pelas “medidas muito fortes” que tomou para conter o surto, considerando que “reduziriam” os riscos de propagação internacional.
Na segunda-feira, o presidente Xi Jinping lançou uma convocação de mobilização geral no país para conter o surto e seu governo exigiu de todos “transparência” sobre os fatos. O novo coronavírus é da mesma família de patógenos que causou 800 mortes durante a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS) de 2003.
“O conselho ao [diretor-geral] fornecido pelo comitê de emergência é que agora não é a hora” e que é “muito cedo para considerar que este evento é uma emergência de saúde pública de interesse internacional”, anunciou o chefe dos especialistas, Didier Houssin. Inicialmente, a decisão seria tomada na quarta-feira, mas havia divisão no comitê de emergência meio a meio.
A OMS define uma emergência de saúde pública de interesse internacional como “um evento extraordinário” que constitui “risco à saúde pública de outros Estados através da disseminação internacional de doenças” e “que requer uma resposta internacional coordenada”. Como já ocorreu anteriormente com Ebola, Zika e H1N1.
Na China, apenas três províncias ainda não relataram casos do coronavírus, que já chegaram a Hong Kong. No exterior, há casos identificados nos EUA, Japão, Coreia do Sul, Tailândia, Taiwan, Vietnã, Cingapura e Arábia Saudita, sempre com alguém relacionado a Wuhan. Há ainda casos suspeitos nas Filipinas, na Austrália e na Grã-Bretanha. Como prevenção, foi imposto o controle de temperatura em aeroportos da Ásia, da região do Pacífico, além da Grã-Bretanha e Itália.
QUARENTENA
O feriado de Ano Novo Lunar, com duração de uma semana, vai de sábado 25 até 8 de fevereiro. Em Pequim, todas as comemorações, inclusive na Cidade Proibida, foram suspensas, e a orientação ao público é que evite aglomerações. O mesmo foi anunciado pela região especial de Macau.
Maior festividade do povo chinês, o cancelamento de comemorações do Ano Novo Lunar teria como equivalente, no Ocidente, suspender o Natal. Ou o Carnaval no Rio ou em Salvador.
O vírus foi detectado em um mercado de peixe de Wuhan, agora fechado, mas onde eram vendidos ilegalmente – e consumidos – animais como morcegos e serpentes. O período de incubação seria de cerca de 14 dias. Ao que se supõe, depois da transmissão animal-humano, o vírus sofreu alguma mutação e passou a haver transmissão humano a humano. O novo vírus foi identificado pela OMS como 2019-ncoV (o primeiro caso foi registrado no dia 31 de dezembro passado).
A taxa de letalidade (18 mortes em 622 casos diagnosticados) é de 2,9% – menor do que a da epidemia do SARS, que foi de 9,6%. Há temor de que o patógeno sofra outra mutação que torne sua transmissão humano a humano mais rápida. Na noite de quarta-feira, já havia 100 casos diagnosticados em províncias fora de Hubei, onde tudo começou.
Como registrou o jornal chinês de língua inglesa Global Times, “é a primeira vez que a China, desde 1949, fecha as vias de saída de uma capital provincial tão grande” e que interconecta nove províncias. “Sem dúvida, difícil tomar a decisão de fechar a cidade: é preciso muita coragem e racionalidade para dar esse passo”. A publicação agradece “sinceramente aos sacrifícios feitos pelos cidadãos de Wuhan” para conter o surto. “Somente quando a China vencer a batalha de defender Wuhan poderá haver uma vitória nacional na luta contra a nova pneumonia”, acrescentou.
MOBILIZAÇÃO GERAL
Na reunião de emergência da OMS, o diretor Ghebreysus se disse “muito impressionado” com os detalhes e a profundidade da apresentação da China sobre a situação do novo surto de coronavírus. A intervenção da liderança chinesa, afirmou o chefe da OMS, tem sido “inestimável”.
A mobilização geral contra o surto, ordenada pelo presidente Xi, exige que todos os recursos disponíveis sejam acionados e que se tomem medidas concretas e eficazes contra o surto e para salvar e tratar os infectados.
O governo ordenou ainda que sejam elaborados planos meticulosos e fortalecidos os sistemas de monitoramento e os procedimentos de diagnóstico. Após advertir contra qualquer encobrimento, conclamou a aprofundar a cooperação internacional.
Na quinta-feira, a embaixada da China nos EUA emitiu declaração com novos detalhes sobre essa cooperação. A seqüência genética do novo vírus foi oferecida à OMS. Informações sobre a ameaça e os procedimentos de contenção foram compartilhados com a OMS e outros países 15 vezes. A Comissão Nacional de Saúde organizou, ainda, quatro encontros com especialistas da OMS, além de os convidar a ir a Wuhan para coletarem informação em primeira mão.