Com EUA, Alemanha, França e Japão se virando com um terço – ou menos – do crescimento do país asiático, o alarde sobre “o pior resultado em 28 anos” só confirma que a inveja é uma droga, como diz a sabedoria popular
O IBGE chinês anunciou que em 2018 o PIB da China cresceu 6,6%, 0,2 ponto percentual abaixo do resultado do ano passado e 0,1 acima da meta oficial de Pequim. Entre as 20 maiores economias do planeta (o G20, responsável por 90% do PIB mundial) só a Índia teve um crescimento maior, acima de 7%. A China continuou sendo responsável por 30% do crescimento do PIB global em 2018, como vem fazendo há uma década.
Com os centros imperialistas crescendo a taxas que são uma fração disso, as manchetes sobre “o pior resultado em 28 anos” são reveladoras de que, como diz a sabedoria popular, a inveja é uma droga. Trump, ao chegar à metade disso, soltou rojões; Merkel, Macron e Abe estão se virando como podem com um terço disso ou menos.
Considerando o difícil ano que acabou, em meio à guerra comercial, investida contra a alta tecnologia chinesa, aperto na liquidez global e sobressaltos na bolsa, a desaceleração foi leve e não se confirmaram os rumores de que a China ia tombar sob “a dívida” e o “excesso de capacidade”.
A pouco discreta torcida por um declínio da China foi rebatida pelo jornal Global Times, que assinalou o que houve foi “um processo de resolução de problemas difíceis, controlando sérios riscos e finalmente realizando um pouso suave. A China ajustou sua economia e manteve um crescimento de média a alta velocidade, mostrando resiliência como a segunda maior economia do mundo”.
Como o jornal ressaltou, se a China ainda estivesse, como há dez anos, com o crescimento “dependente das exportações”, pressões como a da guerra comercial de Washington, teriam “efeitos muito mais sérios”. Mas a China logrou tanto fortalecer o mercado interno, quanto investir na alta tecnologia, evoluindo da condição de plataforma de montagem para a de liderança na economia mundial.
“Embora a taxa de crescimento tenha diminuído para 6,6%, a China basicamente tornou sustentável seu crescimento de médio a alto”, ressaltou o GT. “Tal velocidade ajuda a China a continuar expandindo sua força abrangente, incluindo o progresso tecnológico que serve para elevar a qualidade do desenvolvimento. Também garante que os meios de subsistência das pessoas estão melhorando e que o meio ambiente está sendo protegido”.
De acordo com o NBS, o consumo contribuiu com 76,2% do crescimento do PIB, um aumento significativo de 18,6 pontos percentuais em relação ao ano passado. Também cresceu o poder aquisitivo: o rendimento disponível per capita situou-se em 28.228 yuans em 2018, 6,5% ano a ano em termos reais.
Como destacou o presidente do NBS, Ning Jizhe, “com uma população de quase 1,4 bilhão de pessoas e um grupo de renda média em expansão que chegou a 400 milhões em 2017, o consumo continuará sendo um grande impulsionador do crescimento, enquanto políticas para aumentar a renda dos residentes e melhorar a qualidade de bens e serviços irão liberar seu potencial”.
Separadamente, a renda disponível per capita urbana e rural atingiu 39.251 yuans e 14.617 yuans em 2018, um aumento respectivo de 5,6% e 6,6% em termos reais, o NBS. Até 2020, a China pretende dobrar a renda per capita de seus residentes urbanos e rurais em relação aos níveis de 2010 para construir uma sociedade moderadamente próspera.
Ning disse que a China tem uma força de trabalho de cerca de 900 milhões de pessoas, com mais de 700 milhões delas empregadas, o que representa certo espaço para maiores taxas de participação na força de trabalho. A melhoria da qualidade da força de trabalho, bem como cerca de oito milhões de recém-formados a cada ano, ajudará a impulsionar a modernização industrial da China e a impulsionar a inovação na sustentação da expansão econômica estável de médio e longo prazo da China, acrescentou.
Entre os aspectos mais positivos do ano que acabou, está alta de 5,9% nos investimentos em ativos fixos, em grande medida em infraestrutura e também na iniciativa da Rota da Seda. O investimento no setor imobiliário subiu 9,5%. As vendas no varejo cresceram 9%. A produção industrial avançou 6,2%, enquanto os serviços chegaram a 7% e a agricultura, 3,5%. Desproporcionalidades na economia, como o excesso de capacidade em áreas como aço e carvão, vem sendo enfrentados, e o Programa Made in China 2025, está em plena execução, da robótica, aos veículos autônomos, até a computação quântica.
Graças ao setor estratégico estatal e aos bancos públicos, a China tem conseguido fazer frente aos obstáculos. Ning contestou o exagero sobre ‘a derrubada para 6,4%’ no último trimestre do ano. “O entorno exterior é mais complexo e perigoso em 2019. Há desafios, mas também oportunidades. Temos que colocar as coisas em perspectiva: a economia mundial se desacelera, mas a China continua sendo o principal contribuidor para o crescimento global. Nossa economia é resistente e tem os meios de superar as dificuldades”. Pequim também tem usado criativamente as ferramentas à disposição, tendo no ano passado diminuído as reservas compulsórias dos bancos no BC, para aumentar o crédito. Numa recente reunião, o presidente Xi Jinping pediu medidas concretas para tornar o financiamento para médias, pequenas e micro empresas mais fácil e acessível, para estabilizar e apoiar o emprego.
ANTONIO PIMENTA