PF indiciou o ex-presidente e mais 16 pessoas por associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema público no caso da falsificação de carteira de vacinação para Covid-19
O ex-ajudante de ordens de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, confirmou no novo depoimento à Polícia Federal (PF) que foi Bolsonaro quem lhe ordenou diretamente a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 dele e de sua filha nos sistemas do Ministério da Saúde.
A informação está no relatório da PF apresentado nesta terça-feira (19).
“Os elementos de prova colhidos corroboram as afirmações prestadas pelo colaborador MAURO CESAR BARBOSA CID, demonstrando que, por ordem do então Presidente JAIR BOLSONARO, MAURO CESAR CID solicitou a AILTON BARROS a inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em benefício do ex-Presidente da República e de sua filha”, diz o relatório da PF.
A PF diz ainda que “os elementos de prova coletados ao longo da presente investigação são convergentes em demonstrar que JAIR MESSIAS BOLSONARO agiu com consciência e vontade determinando que seu chefe da Ajudância de Ordens intermediasse a inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde em seu benefício e de sua filha. Não há nos autos, elementos que indiquem que MAURO CESAR CID, AILTON BARROS e JOÃO CARLOS BRECHA se uniram em unidade de desígnios para inserir os dados falsos à revelia do então Presidente da República JAIR BOLSONARO”.
INDICIAMENTO
A Polícia Federal indiciou o ex-presidente por associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema público no caso da falsificação de sua carteira de vacinação para Covid-19. Outras 16 pessoas também foram indiciadas por diferentes crimes.
A pena para associação criminosa varia entre 1 e 3 anos de prisão, enquanto para inserção de dados falsos em sistema varia entre 2 e 12 anos de cadeia.
Após o indiciamento, o caso vai para o Ministério Público Federal (MPF), que decide se apresentará uma denúncia para a Justiça.
Jair Bolsonaro usou seus assessores, entre eles o ajudante de ordens Mauro Cid, para falsificar seu cartão de vacina de Covid-19 antes de fugir para os Estados Unidos, nos últimos dias de dezembro de 2022.
O grupo criminoso contou com o secretário de Saúde de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, também indiciado pela PF, e com outros servidores municipais para conseguir acessar o sistema do Ministério da Saúde.
Brecha inseriu no sistema a informação de que Jair Bolsonaro e sua filha, Laura, teriam se vacinado em agosto e dezembro de 2022. Em nenhuma das datas, porém, Jair e Laura estavam em Duque de Caxias.
Nos dias 22 e 27 de dezembro de 2022, poucos dias antes da viagem para os Estados Unidos, Jair Bolsonaro emitiu, através do aplicativo ConecteSUS, seu certificado de vacinação contra Covid-19.
A Polícia Federal identificou que o acesso ao aplicativo ocorreu de dentro do Palácio do Planalto. A PF excluiu, assim, a possibilidade de “utilização indevida do usuário” de Jair Bolsonaro “por terceiros não autorizados”.
Logo depois da emissão dos certificados, uma servidora de Duque de Caxias chamada Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva retirou os dados referentes às falsas doses de Pfizer do sistema alegando “erro”. Ela deixou somente uma suposta dose da vacina Janssen.
A PF também a indiciou, apontando uma tentativa de cobrir os rastros do crime.
No dia 30 de dezembro, duas horas antes do avião de Bolsonaro decolar para Orlando, nos EUA, mais um certificado de vacinação é emitido através da conta de Bolsonaro no ConecteSUS, mas desta vez somente com a vacina Janssen.
Em abril de 2024, duas semanas antes do retorno de Jair ao Brasil, outro comprovante foi emitido.
O mesmo esquema criminoso foi utilizado para fraudar os certificados de Mauro Cid, sua esposa Gabriela Santiago Cid, suas filhas e dos assessores de Bolsonaro, Max Guilherme Machado de Moura e Sérgio Rocha Cordeiro, além do deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ).
A PF avalia que Bolsonaro ordenou a fraude nos cartões porque precisava viajar para os EUA no final de 2022 e que esse fato tem conexão com os atentados de 8 de janeiro. Da última vez que foi aos EUA Bolsonaro e sua comitiva não conseguiram entrar em restaurantes por falta de comprovantes de vacina contra a Covid-19.
Como ele precisava ficar fora do Brasil por muito tempo para não ser vinculado aos atos golpistas de 8 de janeiro, determinou que fosse feita a fraude.