O ex-assessor da Presidência, Cleiton Henrique Holzschuk, afirmou à Polícia Federal que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, lhe disse que estava tentando recuperar as joias de R$ 16,5 milhões retidas pela Receita Federal para que fossem para o acervo pessoal de Jair Bolsonaro.
Isto é, para serem apossadas ilegalmente por Bolsonaro.
O conjunto de joias foi dado a Bolsonaro pela Arábia Saudita como “presente”, mas foi retido pela Receita porque os impostos de importação não foram pagos. Caso fossem para o estado brasileiro, e não para Bolsonaro pessoalmente, a entrada seria liberada.
Os bens foram apreendidos porque foram escondidos na mochila de um ex-assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que trouxe as joias para Bolsonaro em 2021. Não tinham nenhuma intenção de declarar como presente para o estado brasileiro e muito menos de pagar imposto.
Cleiton Henrique Holzschuk prestou depoimento à PF e contou que “foi falado pelo tenente-coronel Cid durante as conversas de WhatsApp relatadas que as joias iriam para o acervo pessoal do presidente da República”.
As conversas aconteceram entre os dias 28 e 29 de dezembro, quando Jair Bolsonaro e Mauro Cid organizaram uma última tentativa desesperada de retirar as peças ilegalmente e se apropriar delas. O celular onde ficou registrada a conversa foi devolvido por Cleiton depois que ele deixou o cargo.
O depoimento de Cleiton Henrique Holzschuk é importante porque confirma que as peças de luxo foram dadas pela Arábia Saudita para Bolsonaro através de Bento Albuquerque. Um presente pessoal no valor de R$ 16,5 milhões aumenta a suspeita de pagamento de propina.
Enquanto confirmava a Holzschuk que o destino das joias seria o acervo pessoal de Bolsonaro, Mauro Cid organizou uma tentativa de pegá-las da Receita Federal.
No dia 29 de dezembro, o ajudante de ordens de Bolsonaro enviou, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), um servidor da Ajudância de Ordens para o Aeroporto de Guarulhos, onde deveria pressionar os funcionários da alfândega para retirar as peças milionárias.
Esse funcionário da Ajudância de Ordens estava com um documento assinado por Mauro Cid e endereçado ao então chefe da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes, dizendo que as peças poderiam ser entregues sem o pagamento dos impostos. O ajudante de ordens não tinha esse poder, mas mesmo assim tentou.
Jair Bolsonaro jura que não sabia de nada que seu ajudante de ordens estava fazendo.
Essa versão foi desmentida por um funcionário do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, Marcelo da Silva Vieira, que confirmou à PF o envolvimento de Bolsonaro no esquema.
Marcelo Vieira se recusou a assinar o ofício para liberar o conjunto de luxo como bem pessoal para Bolsonaro, conforme pedido de Mauro Cid. Depois da negativa, os dois falaram ao telefone sobre o assunto, mas Vieira disse à PF não se lembrar quem fez a ligação.
Durante o contato, Vieira contou à PF que “Mauro Cid colocou a ligação no modo viva-voz e pediu ao declarante para que explicasse ao Presidente da República essa situação e por que não poderia assinar”. Vieira afirma, então, que deu explicações técnicas sobre a impossibilidade e que Bolsonaro disse “ok, obrigado”.
MAIS PRESENTES
Além deste pacote de joias, já foi identificada a existência de outros dois. Nenhum destes dois foi identificado pela Receita quando estavam entrando no país.
Esses dois pacotes foram entregues nas mãos de Bolsonaro, que os incorporou ao seu acervo pessoal.
Mesmo depois da divulgação na mídia do escândalo do primeiro pacote de R$ 16,5 milhões, Bolsonaro manteve silêncio sobre os outros presentes da Arábia.
Flagrado recebendo presentes milionários enquanto era presidente, Jair foi obrigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a entregar os pacotes. Juntos, foram avaliados em R$ 900 mil.
Bolsonaro: você está mentindo outra vez como sem fez durante toda a sua vida, e por isto tem que ser investigado e punido com todo rigor da lei.