O ex-faz-tudo de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, falou por mais de 9h com a Polícia Federal, na quinta-feira (31), e está colaborando com “detalhes” e “preenchendo lacunas” na investigação sobre as joias desviadas pelo ex-presidente.
Jair Bolsonaro, sua esposa Michelle, seu advogado Fabio Wajngarten e o ex-assessor Marcelo Câmara optaram por ficar em silêncio nos depoimentos realizados simultaneamente.
O silêncio foi quebrado pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid, seu pai Mauro Lourena Cid, o ex-assessor Osmar Crivelatti e o advogado Frederick Wassef.
Os investigadores disseram à jornalista Camila Bomfim, da Globonews, que Mauro Cid tem “acrescentado detalhes relevantes” à investigação, buscando “preencher lacunas”.
Cid não apresentou fatos novos à investigação, mas os esclarecimentos feitos por ele são considerados “estratégicos” pela Polícia Federal. O ex-ajudante de ordens pode ser chamado para prestar novos depoimentos.
A colaboração que está ocorrendo é diferente de uma delação premiada, mas a defesa de Mauro Cid espera conseguir tirá-lo da prisão antes de um julgamento como forma de reconhecimento. Ele está preso desde maio por ter fraudado cartões de vacinação.
O conteúdo do depoimento do ex-ajudante de ordens está sendo mantido em total sigilo pela PF.
Segundo o advogado de Cid, Cezar Bitencourt, a decisão sobre uma delação premiada será tomada na próxima semana. “Lá por terça-feira ou quarta irei avaliar essa possibilidade. A ideia, ao menos agora, não é propor a delação”, disse.
Osmar Crivelatti, que também trabalhava na Ajudância de Ordens e chegou a ser indicado por Bolsonaro como assessor ao qual os ex-presidentes têm direito, também não ficou em silêncio. Ele ficou até meia noite na sede da PF, em Brasília.
Suas respostas “reforçam”, “fortalecem” e “aumentam a credibilidade” do que foi contado por Mauro Cid à PF, avaliam investigadores que conversaram com Camila Bomfim.
Mauro Lourena Cid, pai do ex-chefe da Ajudância de Ordens, e o advogado Frederick Wassef também responderam às perguntas feitas pela PF.
Os depoimentos aconteceram de forma simultânea, em salas separadas e com proibição de uso de celular para impedir que os investigados combinassem versões. Eles foram confrontados com novas provas e informações colhidas nos celulares de Mauro Lourena Cid e Frederick Wassef.
PROVAS DOS CRIMES
Toda a investigação começou a partir da denúncia de que o ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tentou entrar no país com joias e objetos de luxo sem declará-los à Receita Federal.
A PF descobriu que Jair Bolsonaro se apropriou ilegalmente dos presentes dados por países estrangeiros, especialmente da Arábia Saudita, e levou-os para os Estados Unidos, onde foram vendidos.
Os investigados, que prestaram depoimento à PF na quinta-feira (31), foram citados no relatório da investigação participando de diferentes momentos do esquema criminoso.
O grupo vendeu as joias para entregar o dinheiro para Jair Bolsonaro.
A investigação mostra que Bolsonaro recebeu o equivalente às joias em dinheiro vivo, fugindo de transações bancárias.
Depois que o Tribunal de Contas da União (TCU), informado da existência desses “presentes”, ordenou que eles fossem entregues ao estado brasileiro, os assessores de Bolsonaro tiveram que “recomprar” os objetos vendidos.