Em ato de apoio à candidatura de Haddad a presidente, organizado pelo PT no Ceará na segunda-feira, o ex-governador e senador eleito Cid Gomes (PDT) pediu que aqueles que votaram nele e em seu irmão, Ciro Gomes, no primeiro turno, “façam mais um sacrifício”, votando no candidato do PT: “Eu estou falando a vocês para que compreendam, engulam os que me tiverem atenção, engulam, façam mais um sacrifício”.
Cid considerou que os petistas “nunca mereceram um sacrifício, nunca mereceram, nunca deram nada em troca”.
E citou um acontecimento:
“Agora, faltando seis meses, quatro meses para a eleição, eu convidei a Dilma para ser candidata a senadora aqui no Estado do Ceará. Eu convidei! E o Lula impediu que ela viesse, porque queria que o Eunício fosse eleito aqui no Ceará. O Lula!”.
Eunício Oliveira, lavajatista do MDB e presidente do Senado, não conseguiu se reeleger nas últimas eleições.
Apesar disso, Cid Gomes apontou que “o Brasil está numa encruzilhada. Dessa encruzilhada pode sair um mal terrível para o Brasil. Terrível! Que pode colocar em risco a liberdade das pessoas, a liberdade das pessoas de se expressarem, a liberdade das pessoas de fazerem a sua opção de vida, qualquer que seja ela”.
Por essa razão, recomendou voto em Haddad no segundo turno: “Muito bem, amigos e amigas que me têm atenção. Vamos relevar, mais uma vez, mais uma vez, vamos relevar”.
O novo senador cearense compareceu ao ato com o governador Camilo Santana, do PT. Para surpresa de Cid, ao iniciar o ato, a coordenação passou imediatamente a palavra para ele – sem nem ao menos algumas palavras introdutórias.
Era como se esperassem dele o apoio a Haddad, sem mais e sem menos. Ou, para ser preciso, como se aqueles a quem Lula e o PT prejudicaram – como Ciro Gomes – para colocar no segundo turno o candidato com menos chance de vencer Bolsonaro, tivessem, agora, a obrigação de ganhar a eleição para o PT.
Cid Gomes, depois de afirmar que apoiava Haddad e recomendava o voto nele, pediu que o PT fizesse autocrítica de sua conduta no governo e depois de sair do governo:
“… se é para fazer a história, no segundo turno, tem que escolher um dos dois, eu conheço o Haddad, é uma boa pessoa, eu tenho zero problema de votar no Haddad, o Haddad é uma boa pessoa.
“Mas aí, fica para algum companheiro do PT que me suceda aqui na fala, se quiser dar um exemplo para o país, tem que fazer um mea culpa, tem que pedir desculpas, tem que ter humildade, tem que reconhecer que fizeram muita besteira…”.
Diante da postura agressiva de um petista, que vaiava e fazia sinais de não – e de reprovação, com os polegares para baixo – Cid se dirigiu a ele:
“É assim, é? Pois tu vais perder a eleição. Não admitiu mea culpa, não admitiu os erros que cometeram. Isso é para perder a eleição – e é bem feito. É bem feito perder a eleição.
“… o tipo assim acha que fez tudo certo. Quem acha que fez tudo certo… Pois vão perder feio, vão perder feio porque fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram donos de um país, e o Brasil não aceita ter dono, o Brasil é um país democrático, quem criou Bolsonaro foram essas figuras que acham que são donos da verdade, que acham que podem fazer tudo, que acham que o fim justifica os meios”.
Cid enfrentou as vaias dos petistas, falando durante 10 minutos – e encerrou pedindo que seus correligionários votassem em Haddad contra Bolsonaro.
Em resposta a Cid, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann publicou no Twitter que “nós fizemos uma disputa eleitoral e política legítima. Articulamos a favor de nossa candidatura, dentro das regras do jogo. Estamos no segundo turno por mérito, por votos conquistados”.
Segundo ela, o PT esperava que o apoio a Haddad “fosse um movimento natural”.
C.L.
Como a maior parte dos vídeos divulgados com a reunião em Fortaleza são parciais, enfatizando tal ou qual aspecto do pronunciamento do senador Cid Gomes, transcrevemos abaixo a íntegra. Mantivemos, na maior parte, o tom coloquial característico do orador.
Íntegra do discurso de Cid Gomes, na segunda-feira, 15/10/2018:
“Eu não esperava que fosse eu a abrir [o ato]. Me colocaram numa situação constrangedora. Pois todo mundo sabe que eu não votei no candidato do PT no primeiro turno. E essa transição agora, não é uma transição tão fácil. E acho que para essa transição acontecer, muita coisa teria que ter acontecido.”
[Grito na plateia: É pra ir pra rua, galera.]
“É. Pra ir para a rua, a gente tem que estar motivado… Ir pra rua sem estar motivado, não adianta nada. É até pior. [aplausos]
“Então eu, sinceramente, como fui tomado de surpresa e não teve assim uma introdução, que acho que alguém do Partido dos Trabalhadores devia ter feito, e eu não sou do Partido dos Trabalhadores, eu sou do PDT [grito na plateia: eu sou do PT. Cid responde:] Muito bem, seja você, mas eu não sou.
“Eu penso o seguinte: nós temos duas alternativas.
“Uma alternativa é a gente fazer de conta que futebol é isso mesmo, tem dois turnos, no segundo turno a gente tem que escolher.
“Para mim tudo bem, se é essa a alternativa, eu estou disposto, como aquele beija-florzinho da fábula do incêndio, a botar uma gotinha d’água no bico e levar para apagar o incêndio.
“Se é essa a alternativa, muito bem, podem ter certeza, o meu partido já tomou uma deliberação. Se eu votei no Eunício, eu voto no Haddad com muito mais prazer ainda [palmas].
“Agora, se a gente quer, daqui do Ceará, dar um exemplo para o Brasil, aí tem que haver o depois.
“Às vezes a gente pensa, tá faltando bem pouquinho tempo, hoje é dia 15, está faltando 13 dias, simbolicamente 13 dias [aplausos].
“Deus construiu o mundo em seis. Tudo bem que Deus é Deus. Mas a gente dobrando o tempo, seria possível a gente tentar, daqui do Ceará, dar um exemplo para o Brasil de como as coisas deveriam ser feitas – e aí eu não sei, porque também não cabe a mim cobrar mea culpa de ninguém, até por isso que eu já disse antes: se é para fazer a história, no segundo turno, tem que escolher um dos dois, eu conheço o Haddad, é uma boa pessoa, eu tenho zero problema de votar no Haddad, o Haddad é uma boa pessoa.
“Mas aí, fica para algum companheiro do PT, que me suceda aqui na fala, se quiser dar um exemplo para o país, tem que fazer um mea culpa, tem que pedir desculpas, tem que ter humildade [vaias], tem que ter humildade, tem que reconhecer que fizeram muita besteira…”
[Vaias, um petista grita, faz sinais de não para Cid, alternando com os polegares para baixo. Cid se dirige a ele:]
“É assim, é? Pois tu vais perder a eleição, não admitiu mea culpa, não admitiu os erros que cometeram, isso é para perder a eleição, e é bem feito, é bem feito perder a eleição.
“Vocês deviam ter um tipo… o tipo assim que acha que fez tudo certo. Quem acha que fez tudo certo… pois vão perder feio, vão perder feio porque fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram donos de um país, e o Brasil não aceita ter dono, o Brasil é um país democrático.
“Quem criou Bolsonaro foram essas figuras que acham que são donos da verdade, que acham que podem fazer tudo, que acham que o fim justifica os meios [vaias].
“Muito bem, eu me calo, eu me calo numa boa. Não sei porque me pediram para falar antes. É para fazer faz de conta, eu faço faz de conta.
[grito de Lula! e um coro: olê, olê, olê, olá, Lula, Lula]
“Que Lula o quê? O Lula está preso, babaca! E vai fazer o quê? Babaca! Isso é o PT e o PT desse jeito merece perder. Só pra rimar, só pra rimar.
“Eu, aos meus amigos, aos que me têm atenção, eu vou pedir o silêncio dos babacas do PT, eu só queria agora dirigir a palavra aos meus amigos, aos que votaram no Ciro no primeiro turno.
“A esses eu quero falar o seguinte: o Brasil está numa encruzilhada. Quem criou essa encruzilhada não fomos nós. Nós sempre fomos democratas, nós nunca quisemos ser hegemônicos, nós sempre compartilhamos o poder.
“Quer prova maior? Eu votei no PT em Sobral e o PT teve o prefeito de Sobral com todos os méritos, porque o PDT votou nele.
“Eu votei, e o Camilo só foi governador, com todos os méritos que ele tem – porque também não seria escolhido se não tivesse talento, se não tivesse competência, se não fosse amigo verdadeiro do povo – porque o PDT, compreendendo os momentos políticos e sem ser partido hegemônico, apoiou a candidatura do Camilo.
“Pois muito bem. O Brasil está numa encruzilhada. Dessa encruzilhada pode sair um mal terrível para o Brasil. Terrível! Que pode colocar em risco a liberdade das pessoas, a liberdade das pessoas de se expressarem, a liberdade das pessoas de fazerem a sua opção de vida, qualquer que seja ela.
“Por outro lado, tem um candidato que, eu repito, é sério, é bem intencionado, ama o Brasil, mas carrega um fardo pesado às suas costas. Mas eu não vou falar mais disso. Eu estou falando a vocês para que compreendam, engulam os que me tiverem atenção, engulam, façam mais um sacrifício.
“Nunca mereceram um sacrifício, nunca mereceram, nunca deram nada em troca.
“Agora, faltando seis meses, quatro meses para a eleição, eu convidei a Dilma para ser candidata a senadora aqui no Estado do Ceará. Eu convidei! E o Lula impediu que ela viesse, porque queria que o Eunício fosse eleito aqui no Ceará. O Lula!
“Muito bem, amigos e amigas que me têm atenção. Vamos relevar, mais uma vez, mais uma vez, vamos relevar.”
Abaixo, reproduzimos o vídeo mais completo que conseguimos sobre o evento no Ceará: