O professor Didier Raoult, especialista em doenças infecciosas e membro do Comitê que assessora o presidente Macron em assuntos de Covid-19, defende que um tratamento contra a malária, com base em 600 mg de hidroxicloroquina a cada 12 horas, e um comprimido de azitromicina por dia, deveria ser usado para enfrentar a pandemia, segundo matéria da correspondente do Clarin em Paris, María Laura Avignolo. Até agora, contudo, o Conselho Superior de Saúde da França recomenda não usar o tratamento do cientista, exceto em casos graves e sob rigorosa supervisão médica.
A restrição ao amplo uso da cloroquina, no entanto, não impediu a autorização do governo para que Raoult levasse adiante testes clínicos em vários centros hospitalares da França e o prefeito de Nice, Christian Strossi, infectado, mandou começar a aplicá-lo em sua cidade.
O especialista detalha que os testes consistem na administração de hidroxicloroquina na dose de 600 mg por dia durante seis dias, na forma de Plaquenil, que é o nome do medicamento, em comprimidos, três vezes ao dia. E azitromicina [um antibiótico], a 250 mg, duas vezes ao dia no primeiro dia e uma vez ao dia por cinco dias.
Diretor do Instituto Mediterrâneo de Infecções de Marselha e reconhecido especialista mundial em doenças infecciosas transmissíveis, Didier Raoult iniciou suas pesquisas com um ensaio clínico realizado em dez hospitais chineses em Wuhan, Pequim e Xangai para avaliar a eficácia da cloroquina em tratamentos associados ao Covid-19.
Segundo o cientista, “os resultados obtidos até agora com mais de 100 pacientes demonstraram que o fosfato de cloroquina é mais eficaz que o tratamento recebido pelo grupo comparativo para conter a evolução da pneumonia, melhorar o estado dos pulmões, para que o paciente retorne a negativo para o vírus e diminui a duração da doença”. E acrescenta: “a capacidade antiviral e anti-inflamatória da cloroquina pode ter potencial eficácia no tratamento de pacientes afetados por pneumonia causada pelo Covid-19”.
O professor Raoult foi autorizado, no final de fevereiro, a iniciar ensaios clínicos em 24 pacientes com Covid-19 na França, com resultados positivos em 75% desse grupo e foi então convidado a compor o comitê de 11 especialistas consultivos do presidente Macron.
Os resultados foram conhecidos em 19 de março: aqueles que receberam Plaquenil (hidroxicloroquina) carregam o vírus em 25% após seis dias e aqueles que não foram tratados com este medicamento carregam o vírus em 90% após seis dias.
Segundo Claudio Tadeu Daniel-Ribeiro, chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz, “há muitos estudos sendo realizados com hidroxocloroquina na Covid-19, mas os únicos dados publicados que temos até agora em seres humanos são os do trabalho francês, que está sendo criticado pela comunidade científica”.
Entre os pontos negativos, destaca-se o fato da investigação ter sido conduzida com poucas pessoas [24] e dispensar ritos básicos nos testes de um medicamento. Exemplos: não houve comparação com um medicamento placebo e os resultados não foram submetidos à análise de outros cientistas antes da publicação.
Conforme aponta Marco Stephan, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), “trata-se de um medicamento tóxico, com risco de reações adversas”. Um dos principais perigos dessa pressa, ressaltam os especialistas, são os efeitos colaterais graves da hidroxocloroquina, incluindo complicações cardiovasculares, risco de insuficiência renal e hepática e alterações na visão.
O professor Roualt discorda desta abordagem: “Acreditamos que encontramos o tratamento com nossa equipe. E no nível da ética médica, acredito que não tenho o direito como médico de não usar o único tratamento que foi testado. Estou convencido de que, no final, todos usarão esse tratamento. É apenas uma questão de tempo”.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que a hidroxocloroquina é uma possibilidade a se considerar na busca de meios farmacêuticos contra a Covid-19, mas “condena o uso de medicamentos sem provas de sua eficácia” e defende que os testes sejam ampliados.