“Cientificamente falando, as formas de danos causados pelas águas residuais contaminadas com energia nuclear são imprevisíveis, já que os efeitos colaterais da contaminação radioativa da água não se tornarão aparentes no curto prazo”, esclareceu o professor Chang Yen-chiang, executivo do Instituto de Pesquisa do Mar Amarelo e do Mar Bohai da Universidade Marítima de Dalian, na China.
Exemplo das graves implicações deste procedimento, citou o pesquisador, é a “doença de Minamata”, no Japão, que afeta o sistema nervoso e o cérebro, causando dormência nos membros, fraqueza muscular, deficiência visual, dificuldades de fala, paralisia, deformidades e levando à morte. Minamata é causada pelo consumo de peixes e mariscos contaminados por um composto de metilmercúrio descarregado de uma fábrica de produtos químicos, informou Chang Yen-chiang, mas a origem do dano “só foi descoberta 30 anos após o despejo”.
A China condenou a ação e disse estar “profundamente preocupada com o risco de contaminação radioativa trazida por produtos alimentícios e agrícolas do Japão”, frisando que o desenrolar dos atos se transformará numa “vergonha”. De forma contundente, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês ressaltou que “o Japão não deve causar danos à população local e às pessoas do mundo devido aos seus próprios interesses egoístas”.
De acordo com o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, diante da gravidade dos fatos, “é preciso agir com responsabilidade e tomar medidas preventivas legítimas, razoáveis e necessárias para salvaguardar a segurança do ambiente marinho, a segurança alimentar e a saúde das pessoas”.
CHINA PROÍBE IMPORTAÇÃO DE PRODUTOS MARINHOS JAPONESES
Diante do iminente risco de contaminação, o governo chinês anunciou nesta sexta-feira (25) a completa proibição da importação dos produtos aquáticos japoneses. Além disso, esclareceram as autoridades sanitárias, as preocupações não estão restritas aos frutos do mar, pois grande parte da população já começou a evitar outros produtos vindos do país, como cosméticos e produtos para mães e bebês.
Apesar da oposição generalizada, o Japão começou a despejar no oceano Pacífico, nesta quinta-feira (24), mais de um milhão de toneladas métricas de água radioativa “tratada” da usina nuclear de Fukushima.
Conforme analistas e pesquisadores, as ações criminosas do governo japonês não só terão impacto econômico, como na imagem internacional do país, que transfere o enorme risco de contaminação nuclear para o mundo.
Também na área turística, o Japão saiu perdendo, pois muitos grupos de excursões cancelaram suas viagens depois do anúncio do despejo das águas residuais contaminadas com energia nuclear.
COREANOS E FILIPINOS CONDENAM LIXO NUCLEAR
O líder do Partido Democrata da Coreia do Sul, de oposição, levantou a voz contra o Japão trilhar o caminho do crime de guerra ambiental. Para o dirigente Lee Jae-myung, ao tentar provocar um outro desastre nos países da orla, o Japão está promovendo uma “segunda Guerra do Pacífico” – aquela em que invadiu e banhou de sangue seus vizinhos no passado.
Na mesma linha, o Partido da Justiça da Coreia do Sul protestou em frente à Embaixada do Japão, denunciando o despejo de água contaminada. Foram exibidas pesquisas sobre a imensa reprovação ao crime japonês: mais de 80% dos entrevistados são contrários e mais de 60% afirmaram que deixarão de comer frutos do mar após o despejo da água, apurou a Associated Press.
O grupo Pamalakaya, organizado por pescadores das Filipinas, esclareceu que “o despejo de águas radioativas é mortal”, alertando que o início das monções do nordeste podem atingir a parte ocidental do Pacífico. “Isso matará os nossos pescadores e afetará a nossa segurança alimentar”, condenou Ronnel Arambulo, presidente da entidade.
Os Estados Unidos, da mesma forma que fizeram vista grossa à contaminação japonesa, reduziram bruscamente as importações de produtos agrícolas e aquáticos do país. Enquanto isso, serviçal dos EUA, o governo sul-coreano permanece calado.
Analistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) alertam que cenários imprevisíveis e falhas no tratamento são possíveis no longo prazo e que a água despejada é irrecuperável.