Um grupo de cientistas decidiu que é hora de uma participação organizada na vida política nacional. A estagnação da economia, o desemprego, os cortes de verba das universidades, dos órgãos de pesquisa, a evasão de cérebros e, para completar, a crise moral que se abate sobre Brasília fizeram com que professores, pesquisadores e outros intelectuais formassem o movimento “Cientistas Engajados”. O grupo é da pesada, reúne expoentes da vida científica como o vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Ildo Sauer, e o professor titular da USP Walter Neves, o bioantropólogo que descobriu a Luzia e deu um rosto para a pré-história brasileira.
O movimento pretende não só se contrapor aos cortes de investimentos em ciência e tecnologia, mas também ter uma atuação forte pelo desenvolvimento, pela soberania, em defesa dos direitos humanos e por justiça social. “Os cientistas não podem ficar passivos diante do que está acontecendo. Não existe motivo lógico para existirem pessoas passando fome em nosso país. Nosso território dispõe de todas as riquezas naturais para permitir o bem estar da nossa população, e muito mais”, afirmou Walter, que se filiou no dia 7 de abril ao Partido Pátria Livre, por onde o grupo apresentará em São Paulo a sua candidatura a deputado federal. Neves fará uma parceria com Mariana Moura, 37, que é doutoranda em energia, na USP, e vai sair candidata a deputada estadual pelo mesmo partido. Para ela, “frente à grave crise econômica, social e moral que atravessa o país, acreditamos ser nossa obrigação oferecer uma alternativa à sociedade brasileira, uma alternativa que não tolera a corrupção”.
Ildo Sauer defende que a ciência tem um papel fundamental para o país garantir a sua soberania e retomar o crescimento: “Soberania significa o povo construir sua trajetória a partir do seu esforço e dos seus recursos. E nada é mais essencial para que se possa fazê-lo do que ciência e tecnologia que é a forma pela qual os seres humanos, ao longo de sua longa trajetória, se desenvolveram”. Ildo, que foi diretor da Área de Gás e Energia da Petrobrás, condenou as alterações feitas na Constituição de 1988, que, segundo ele, “arrancaram partes essenciais que visavam garantir a soberania do povo sobre seus recursos naturais e sobre o valor de seu trabalho”.
A queda sistemática do investimento em ciência e tecnologia é denunciado pelo grupo como um fato grave que provoca o estrangulamento da pesquisa científica do país. “Os países desenvolvidos se caracterizam por investirem em pesquisa e desenvolvimento entre 2,5% e 3% do PIB, enquanto isso, o Brasil estacionou na casa de 1%. E, para piorar, a execução orçamentária do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação em 2017 foi cerca de 40% menor, em termos reais, a 2013”, afirmou o economista Nilson Araújo.
Uma pequena amostra do currículo do grupo inicial é suficiente para se entender porque o movimento está crescendo rapidamente e repercutindo inclusive em outros Estados: Tércio Ambrizzi, que foi diretor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), da USP, é membro suplente do Comitê Municipal de Mudanças Climáticas e Ecoeconomia da Prefeitura de São Paulo. Tércio foi editor-chefe da Revista Brasileira de Metereologia.
O professor titular sênior Adolpho José Melfi foi reitor da USP entre 2001 e 2005, após ser por quatro anos vice-reitor da universidade. Melfi foi professor associado das universidades francesas de Strasbourg, Poitiers, Aix-Marseille III e Toulon. Detentor de vários prêmios acadêmicos, é membro desde 2009 do Conseil Scientifique et Industriel du Technopôle de l’Environnement Arbois-Méditerranée – França, e do Conselho Superior de Altos Estudos da Fiesp.
O professor titular José Roberto Castilho Piqueira, que foi diretor até março da Escola Politécnica da USP, é presidente do Conselho Superior do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), e membro da Academia Nacional de Engenharia e do conselho deliberativo do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP).
O professor titular Colombo Celso Gaeta Tassinari é diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP e já dirigiu o Instituto de Geociências, também da USP. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Paulista de Ciências, e participa da Academia de Ciências de Lisboa. Ele coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Analíticas Aplicadas à Exploração de Petróleo e Gás.
O economista Nilson Araújo de Souza é doutor em economia pela Universidad Nacional Autónoma de México e foi um dos organizadores, a partir de 2011, da Unila, Universidade Federal de Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu. Realizou o pós-doutorado na USP e faz parte do grupo de estudos Dialética da Dependência do IEE-USP. Presidente da Fundação Cláudio Campos, é autor de dezenas de livros sobre economia e desenvolvimento, e lidera o grupo de pesquisa “América Latina: Integração e Desenvolvimento”, cadastrado no CNPq.
O professor titular Marcos Egydio da Silva é diretor do Instituto de Geociências da USP. Com pós-doutorado na Universidade de Montpellier, França, é membro desde 2006 do corpo editorial do Journal of Structural Geology.
Diretor do Instituto Oceanográfico da USP de 2009 a 2013, e vice-diretor desde então, o professor titular Michel Michaelovitch de Mahiques é membro do corpo editorial do Journal of Coastal Research e Journal of Integrated Coastal Zone Management. Michel foi responsável pelo projeto que permitiu equipar o Instituto com dois navios oceanográficos, o Alpha Crucis, adquirido em 2012, e o Alpha Delphini, uma embarcação construída no Brasil, em 2013.
O professor Alexandre Ferreira Ramos, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP), tem pós-doutorado no Centro de Medicina Molecular da Stony Brook University, Nova Iorque, EUA, atua no estudo de novas tecnologias de fissão-fusão para geração de energia, uso de insumos estratégicos e reutilização do combustível irradiado.
Doutoranda em Energia e mestre em Ciências pelo programa de pós-graduação em energia do Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP), Mariana Nunes de Moura Souzaestuda a apropriação e transferência do valor produzido pelas fontes de energia. Coordenou a Associação de Pós-Graduandos da USP Capital entre 2014 e 2015.
O professor titular Ildo Luís Sauer é vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, que dirigiu entre 2011 e 2015. Com Ph.D. em engenharia nuclear pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT, Ildo foi diretor da Área de Gás e Energia da Petrobrás de janeiro de 2003 até setembro de 2007. Em 2016, foi professor visitante da Duke University, onde criou e lecionou as disciplinas Energy and Society e Petroleum Hegemony and Geopolitics. Desde 2012, é membro do Conselho Estadual de Energia, de São Paulo. Tem uma dedicação especial ao estudo da organização da indústria de energia e organização da produção e apropriação social da energia, atuando principalmente nos seguintes temas: planejamento energético, modelos de demanda e recursos e oferta de energia, uso racional de energia, avaliação e desenvolvimento de recursos, produção descentralizada de energia, regulação e controle, políticas energéticas, análise econômica, histórica e social da evolução das formações sociais e apropriação da energia (do petróleo e gás natural, bioenergia, nuclear, eólica e hidráulica).
Walter Neves, professor titular do departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP, fundou e coordenou o Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos, único do gênero na América Latina. Com uma longa trajetória de divulgação científica no país, com diversos livros publicados, inúmeras palestras, entrevistas e exposições museográficas, é o coordenador da exposição permanente “Do Macaco ao Homem”, sobre evolução humana, iniciada em 2014 no Instituto Catavento, em São Paulo. Há 20 anos, foi responsável por uma revolução na compreensão da chegada do homem ao continente americano, ao apresentar o estudo de que o “povo de Luzia” apresentava traços morfológicos semelhantes aos encontrados na África e Austrália, diferente do conjunto dos índios do continente, e representava uma imigração bem mais antiga do que se acreditava ser o início da povoação americana. Seu modelo de dupla imigração foi se confirmando ao longo dos anos por novas descobertas no Brasil e outros países das Américas, e por recentes estudos com DNA. Fez pré-doutorado nas universidades de Stanford e Berkeley, quando foi supervisionado pelo professor Cavalli-Sforza, uma das maiores autoridades mundiais da bioantropologia. Coordena, atualmente, escavações arqueológicas na Jordânia.
Médico assistente por 20 anos do Hospital Universitário, o Dr. Sérgio Cruz foi diretor de programas especiais da Secretaria de Saúde de Brasília e assessor especial do Ministério da Saúde. Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi integrante da Comissão Especial da VIII Conferência Nacional de Saúde, que criou o SUS, e é redator do Jornal Hora do Povo.
A professora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva é doutora em sociologia política pela USP. Foi fundadora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), onde foi professora e pró-reitora de Extensão.
CLOVIS MONTEIRO
Muito bom, tem que ter pessoas da Educação nessa politica sem noção, esse pais só muda se tiver pessoas engnjadas em fortalecer as pesquisas e um direcionamento em peso dos recursos públicos em educação.
Boas ideias, ainda que tardias!
Questões; porque esse Partido Novo!!
Por que alguém já se candidatar a um cargo eletivo?
Chama a atenção a total presença de cientistas ligados a ciências físicas e a total ausência de ciências humanas.
Vi pelo menos um cara da Economia aí. Exercendo, o Cristóvam Buarque se encaixa no perfil. O Congresso já seria repleto, pelo menos, de juristas. Dentro do Congresso, o mesmo compromisso que essas pessoas têm perante a comunidade universitária e seus títulos estaria em contato direto com os demais políticos. Partido novo, não sei. Se esse for o caso mesmo, uma estratégia seria porque ele começa com a história totalmente “limpa”, representando melhor a ideia de “novo caminho”. É a ideia deles, pelo que entendi.