A Ministra Luciana Santos afirmou, na abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que o plano “vai garantir a autonomia e a soberania do país”
Os cientistas brasileiros entregaram ao presidente Lula nesta terça-feira (30), durante a cerimônia de abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA).
O objetivo do plano, segundo a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, é construir uma inteligência artificial nacional que garanta a soberania do país.
“O presidente pediu este plano em março deste ano e pediu que a gente apresentasse na Conferência”, afirmou Luciana. “Foi um processo muito participativo, com mais de 300 pessoas, muitas oficinas, conversas bilaterais com a iniciativa privada, especialistas, sociedade civil organizada, procurando fazer uma sinergia do ecossistema na direção de cuidar para que o Brasil possa garantir sua autonomia, sua soberania”, destacou a ministra.
O PBIA foi encomendado por Lula no início deste ano ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. O futuro da IA e as recomendações de novas políticas ligadas a essa tecnologia serão abordadas ao longo da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que dará destaque a temas urgentes, como mudanças climáticas, transição energética, financiamento da ciência, políticas de apoio à inovação nas empresas, transição demográfica e outros.
Lula falou que o plano deve servir para melhorar a vida do povo brasileiro. “A nossa inteligência artificial tem que ser inteligente, e a gente quer fazer dela uma fonte de gerar emprego nesse país. Que a gente forme milhões e milhões de jovens preparados para este debate”, afirmou o presidente depois de receber o PBIA das mãos da ministra Luciana Santos e do diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi.
O presidente da República criticou as notícias de que a Inteligência Artificial vai provocar o desemprego. “Não é isso o que eu quero”, disse. “Eu fico muito assustado quando eu vejo matérias nos jornais dizendo ‘a inteligência artificial pode causar 16 milhões de desempregados’. Ora, se é para isso eu não quero. Que coisa é essa que é tão importante e vai causar problema para a sociedade?”, questionou.
Sobre a cobertura da imprensa sobre o tema, Lula cobrou que os cientistas brasileiros sejam chamados pelos órgãos de mídia para esclarecer a população. “Vamos discutir a inteligência artificial brasileira. Chamem os cientistas. Tem que preparar uma lista de 500 cientistas para dar para a imprensa”, disse Lula, dirigindo-se a Luciana Santos.
“Aqui não falta cientista capaz de debater”, acrescentou o presidente. “Agora, por favor, não vá procurar um que não concorde, que é contra. Pelo menos faça um debate para que a gente possa mostrar o que vocês [cientistas] foram capazes de produzir. Eu espero que nesta semana tenha um debate sobre inteligência artificial para esse país saber o que estamos discutindo”, acrescentou.
“Em todo debate que eu vou, em toda reunião ministerial, em toda conversa que eu tenho os caras falavam em inteligência artificial. E eu fico pensando: se essa coisa é tão boa, por que é artificial? Por que é artificial se ela é controlada pela inteligência humana? No fundo é a inteligência humana que pode aperfeiçoá-la. Nada mais é do que a gente ter a capacidade de fazer a coletânea de todos os dados, e nós temos as big techs que fazem isso sem pedir licença, sem pagar imposto e ainda cobram dinheiro e ficam ricas por divulgarem coisas que não deveriam ser divulgadas”, observou.
Assista a íntegra da cerimônia de abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação
Presidente Lula participa da abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação https://t.co/UzSnJQQ15N
— Lula (@LulaOficial) July 30, 2024
“E eu fiquei pensando”, acrescentou Lula, “será que nós, um país de 200 milhões de habitantes, que já completou 524 anos, que tem uma base intelectual respeitada no mundo, que tem um povo tão generoso, que vive em uma adversidade tão extraordinária, esse país não pode criar o seu mecanismo em vez de ficar esperando que a inteligência artificial venha da China, dos Estados Unidos, da Coreia do Sul, do Japão?”
O ex-ministro Sérgio Resende defendeu mudanças no sistema universitário brasileiro e o uso intensivo de ciência e tecnologia na Amazônia. O ex-ministro argumentou que é necessário aumentar os recursos para a ciência e tecnologia.
“Nós não podemos ficar com apenas 1,3% do PIB para a Ciência e Tecnologia enquanto outros países destinam muito mas do que isso”, argumentou. “País que paga 780 bilhões de reais de juros não é um país pobre”, disse Resende, defendendo a criação de um fundo do setor do agro e dos bancos para financiar a Ciência, Tecnologia e a Inovação no Brasil.
O principal objetivo da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação é construir a nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que será implementada até 2030, conforme decreto presidencial, e definir ações para os próximos anos com a contribuição de governo, cientistas, entidades e representantes da sociedade civil.
Serão mais de 50 sessões de debates, com nove agendas simultâneas por turno (manhã e tarde), além de sete plenárias. A previsão é que o encontro, que teve todas as vagas presenciais esgotadas, receberá até 2.200 participantes por dia, além de mais de 2.000 virtuais.