Documento já tem mais de 3 mil assinaturas e defende que condenações contra o fundador do Wikileaks, que denunciou crimes de guerra dos EUA, mostram abuso de poder e incorrem contra a liberdade de imprensa
Durante a sessão solene que anunciou a retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia realizada na última quarta-feira (12), o presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Renato Janine Ribeiro, aproveitou a ocasião e entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abaixo-assinado para que o Brasil conceda asilo político ao ativista australiano Julian Assange, fundador do Wikileaks, que está preso em Londres por ter denunciado crimes de guerra dos EUA.
O documento foi criado e lançado em junho passado. Renato Janine Ribeiro é ex-ministro da Educação.
Idealizado pelo conselheiro da SBPC, Renato Balão Cordeiro, e com apoio de grupo de cientistas, jornalistas, professores, sindicalistas, lideranças e entidades da sociedade civil, a petição propõe ao presidente Lula que promova esforço internacional para negociar o asilo político a Assange com o governo britânico.
Acesse, por meio do link, o documento, com as assinaturas: http://www.jornaldaciencia.org.br/wp-content/uploads/2023/07/Carta-Apoio-Assange-Presidente-LULA-Lista-final.pdf
O ativista está preso em Londres há mais de uma década e enfrenta batalha contra a extradição para os Estados Unidos, onde têm armadas contra si 18 acusações-farsas e pode ser condenado a até 175 anos de prisão.
‘HERÓI DA IMPRENSA LIVRE’
“Neste dia também de festa, quero aproveitar a oportunidade, lembrando que o senhor foi o único chefe de Estado a manifestar-se, antes e após a sua eleição, em favor da liberdade deste herói da imprensa livre, que é Julian Assange, para lhe entregar um manifesto, um abaixo-assinado com mais de 3 mil assinaturas, que apela ao senhor para que promova a concessão de asilo político a Julian Assange”, afirmou Janine Ribeiro.
O presidente da SBPC reforçou que a situação de Assange hoje é grave, já que o ativista pode passar toda a vida na prisão, quando, na realidade, deveria ser reconhecido por trazer à tona a barbárie norte-americana: “A democracia precisa fortemente da liberdade de imprensa e de expressão, e aqueles que denunciam as espionagens de Estado devem ser elogiados, e não punidos.”
PRECEDENTES PARA ARBITRARIEDADES COM OUTROS JORNALISTAS
O movimento do abaixo-assinado nasceu de conversas que o conselheiro da SBPC, Renato Cordeiro, teve com o jornalista e ex-coordenador de programa de análise e difusão de informação em saúde da Fiocruz, Álvaro Nascimento, sobre a possibilidade de trazer Assange para o Brasil, evitando assim a extradição dele para os EUA.
“Achamos lamentável o dramático silêncio da chamada grande mídia, que pouco aborda os fatos que cercam a prisão de Assange. No meu entender, o que está em jogo é a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, os direitos humanos e o futuro dos povos, nesse momento em que os regimes autoritários amordaçam a imprensa, mantendo a população apática e contida em todos os sentidos”, afirma Cordeiro.
“Agora, os estadunidenses e os ingleses se dão ao direito de processar, julgar e prender Assange, um brilhante jornalista, fundador do Wikileaks, que teve a coragem de revelar para o mundo documentos que os Estados Unidos consideram confidenciais sobre a guerra com o Afeganistão e Iraque, além de espionagem irregular em vários países”
Pesquisador emérito da Fiocruz, Cordeiro relata que os ataques autoritários à imprensa têm sido recorrentes, como a morte do jornalista Jamal Ahmad Khashoggi, no Consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, em 2018, ordenada pela família real da Arábia Saudita, aliada dos EUA, a quem fazia oposição.
‘PRESSÃO EXERCIDA SOBRE JORNALISTAS QUE PUBLICAM VERDADES’
“O assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi bem reflete a dramática pressão que é exercida sobre os jornalistas que publicam verdades. Sentimos bem essa situação nos trágicos 21 anos de ditadura militar no Brasil”, disse Cordeiro.
“Agora, os estadunidenses e os ingleses se dão ao direito de processar, julgar e prender Assange, um brilhante jornalista, fundador do Wikileaks, que teve a coragem de revelar para o mundo documentos que os Estados Unidos consideram confidenciais sobre a guerra com o Afeganistão e Iraque, além de espionagem irregular em vários países.”
Para o pesquisador, o que está em jogo não é apenas a liberdade de Assange, mas dos jornalistas em geral, já que, caso ocorra a extradição e prisão definitiva do fundador do Wikileaks, qualquer jornalista que obtenha informações verdadeiras e comprovadas sobre os Estados poderá vir a ser processado, extraditado e preso, já que é o próprio governo estadunidense quem decide quais informações devem ser protegidas em nome da segurança nacional.
“Já pensou se essa moda pega? Qualquer governo poderia seguir o exemplo americano e considerar de segurança nacional qualquer informação que não lhe interesse que seja divulgada”, alerta Cordeiro.
ABAIXO-ASSINADO REPRESENTATIVO
O abaixo-assinado entregue ao presidente Lula, que pede que o Brasil se ofereça para asilo político de Assange, conta com 3.200 assinaturas, incluindo membros signatários da SBPC, como o próprio presidente da entidade, Renato Janine Ribeiro, a vice-presidente, Fernanda Sobral, além de membros da diretoria, presidentes de honra e demais conselheiros.
“Estamos otimistas e acreditamos que, com sua extraordinária habilidade e capacidade de articulação, o presidente Lula, atuando em conjunto com os países do Brics e do G-20, e personalidades importantes como o Papa Francisco, o ator Leonardo DiCaprio, o Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o compositor e escritor Chico Buarque de Holanda, e jornalistas ganhadores do Prêmio Pulitzer como Seymour Hersh, poderá conseguir o asilo político para Assange no Brasil”, diz Cordeiro.
O especialista conclui citando trechos do documento entregue ao presidente da República: “‘independente do resultado, este esforço vigoroso em defesa de Assange contribuirá para marcar ainda mais a posição humanitária e progressista do governo brasileiro no mundo, como tem sido a nossa marca desde 1º de janeiro de 2023’”.
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