Cinco dias após ataque hacker, sistema ConecteSUS permanece fora do ar

Ataque que deixou milhões de brasileiros sem acesso ao certificado digital de vacinação afetou também outros órgãos do governo federal - Foto: Reprodução

Desde que o site e os sistemas do Ministério da Saúde foram alvos de ataques cibernéticos na última sexta-feira (10), o sistema ainda não se restabeleceu e não tem previsão para voltar ao normal. Um dos mais graves a ficar inacessível é o ConecteSUS, que reúne as informações sobre a vacinação da população e outros dados de saúde dos cidadãos, que está fora do ar há cinco dias.

O ataque que deixou milhões de brasileiros sem acesso ao certificado digital de vacinação afetou também outros órgãos do governo federal.

Polícia Rodoviária Federal (PRF), Instituto Federal do Paraná (IFPR), Controladoria-geral da União (CGU) e Escola Nacional de Administração Pública (Enap) são alguns órgãos do governo federal que confirmaram ter sofrido ataques hacker na sexta. Até a quarta-feira (15), alguns serviços continuavam indisponíveis.

Todos eles usam o mesmo sistema de nuvem, fornecido pela empresa americana AWS, que tem a Embratel como intermediária. Esse não é o único sistema de nuvem disponível para as instituições federais. A adesão é opcional. A CGU assinou o contrato em outubro de 2019.

Uma das cláusulas diz que a contratada deverá adotar todas as medidas necessárias para assegurar a disponibilidade, integridade, confidencialidade e autenticidade das informações a serem tratadas na nuvem.

O sistema de nuvem é o armazenamento de dados fora do computador, em servidores conectados à internet. Quando esse serviço é acessado, o usuário consegue enviar seus arquivos pela internet e deixá-los guardados em segurança em questão de segundos.

Qualquer grande instituição – seja empresa ou órgão público – tem um protocolo de segurança da informação que obedece um sistema de camadas. De acordo com o cargo do funcionário, ele pode ter mais ou menos acesso a dados sensíveis ou sigilosos.

O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) emitiu um alerta informando que “alguns casos de intrusão têm ocorrido com perfis legítimos”, o que dá a entender que o ataque aconteceu a partir de login e senha de funcionários do governo.

Segundo o órgão, o grupo hacker deve ter usado uma brecha para acessar o sistema com login e senha de um funcionário do governo. “Alguns casos de intrusão têm ocorrido com o uso de perfis legítimos de administrador, o que dispensa, ao atacante, ações para escalar privilégios”, afirma o órgão da Presidência.

A invasão dos hackers ao sistema foi utilizada pelo governo para adiar a exigência da comprovação de vacinação para a entrada de estrangeiros no Brasil. A medida, no entanto, foi barrada após decisão do ministro do STF, Luis Barros, que determinou que o governo acate a decisão da Anvisa sobre o passaporte sanitário.

Para Luiza Leite, advogada especialista em Direito Digital, o governo demonstra uma deficiência nos mecanismos de segurança e falta de cuidado do governo no processo de adequação com a Lei Geral de Proteção de Dados.

“O que percebemos é que todos esses acessos indevidos aos ambientes tecnológicos dessas entidades, bem como a incapacidade demonstrada para lidar com incidentes de proteção de dados, demonstram uma clara deficiência nos mecanismos de Segurança da Informação utilizados pelo governo”, comentou a advogada Luiza Leite, CEO da startup Dados Legais.

Este não é o primeiro o ataque que acontece nos últimos tempos nas redes federais: em novembro do ano passado o STJ sofreu ataque hacker, que forçou o tribunal a suspender as sessões e tirar o site do ar; em setembro deste ano, o site da Anvisa também foi alvo de hackers. O ataque foi do tipo defacement, ou seja, modificação de estética da página web), sem alteração de dados ou impacto nos demais sistemas da Anvisa; além disso, existem páginas criminosas que reúnem dados vazados do CadSUS e INSS e os vendem livremente na internet.

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