
Na enésima repetição da “doença americana” – os tiroteios em massa contra pessoas a esmo, sem qualquer empatia por quem quer que seja, em meio às frustrações -, um homem abriu fogo com um fuzil AR-15 em um prédio luxuoso de 44 andares na Park Avenue, em Nova Iorque, na noite de segunda-feira (28/7)
Shane Devon Tamura, de 27 anos, autor dos disparos, foi identificado como o ex-jogador de futebol americano . No local, prédio em Manhattan, funcionava a sede da liga desse esporte, a NFL. Segundo quatro autoridades de NY, depois do crime, o atirador cometeu suicídio com um tiro, informou a NBC.
Tamura acabou abatendo a tiros duas mulheres não identificadas, um executivo da gigante de investimentos Blackstone Inc, que tem escritórios no prédio, e o policial Didarul Islam, imigrante de Bangladesh, há três anos e meio na NYPD, casado, pai de dois filhos e com a esposa grávida do terceiro. Uma quarta pessoa, um funcionário da NFL, está em estado crítico, mas estável, segundo o comissário da liga, Roger Goodell.
Apesar do suposto alvo ser a sede da NFL, Tamura teria pegado o elevador errado. Segundo a comissária de polícia Jessica Tisch, ele trabalhava como segurança em um cassino de Las Vegas e teria “um histórico de problemas documentados de saúde mental”. Ele havia dirigido desde Las Vegas para cometer a matança.
De acordo com relatos da mídia norte-americana, a carreira de jogador de Taruma foi interrompida em decorrência de uma encefalopatia traumática crônica causada por traumatismo craniano. Ele culpava a NFL por sua situação.
Nas redes sociais, Tamura contou que sua carreira no futebol americano terminou após um ferimento na cabeça, e apontou que a NFL não faz o suficiente por aqueles afetados por esse tipo de problema.
Nas postagens, ele também relatou que não tinha nenhuma cobertura de saúde, situação bastante generalizada nos EUA. O prédio onde ocorreu o tiroteio, além da NFL abriga algumas das principais empresas financeiras do país e fica em uma área movimentada no centro de Manhattan.
Segundo o grupo de monitoramento de violência Gun Violence Archive, no ano passado foram mais de 500 os tiroteios em massa nos EUA. Em última instância, o que precisa ser respondido é o que leva indivíduos a responderem às frustrações, com um ritual de chacina contra desconhecidos e porque isso se repete e repete nos EUA.
Resposta a ser encontrada na própria história dos EUA, e sem dúvida reforçada pelo estímulo à violência glamourizado no cinema e na mídia norte-americana, além da licenciosidade no acesso a armas letais. História fundada na escravidão e na guerra de extermínio aos indígenas, mitologicamente descrita como a ‘conquista do Oeste’.
A que se sucederam as incursões “dos palácios de Montezuma às praias de Tripoli”, como exalta o hino dos marines, até às “guerras sem fim” do século 21, passando pelas Filipinas, Coreia, Vietnã, Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria – e massacres relacionados.
Na típica expressão norte-americana, trata-se de que – como afirmou Malcolm X – “as galinhas voltam para ciscar em casa”, depois de um século de chacinas, de que Mi Lai é um símbolo e um sintoma.
Desde o morticínio na escola Columbine, já faz 25 anos que as chacinas se repetem e se tornaram tão americanas quanto a torta de maçã, enquanto o Cartel do Rifle faz apologia da posse de armas de grosso calibre.
A governadora democrata Kathy Hochul do Estado de Nova Iorque reagiu ao caso Tamura, pedindo aos parlamentares que restaurem as restrições legais à venda das chamadas armas semiautomáticas, como a usada pelo atirador. Nos pertences do assassino, a polícia encontrou um bilhete em que oferecia seu cérebro para estudo da Encefalopatia Traumática Crônica.