O ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato a presidente pelo PDT, afirmou, em entrevista à rádio Padre Cícero, de Juazeiro do Norte (CE), que o Brasil tem todas as condições de se desenvolver em vários setores, sem precisar depender tanto da importação de produtos do estrangeiro. “Com isso nós enfrentaríamos o grave problema do desemprego”, disse ele. “Temos várias saídas para as dificuldades. É só acreditar mais na capacidade dos brasileiros”, destacou.
Ele disse que “nesse momento em que o Lula está fora da eleição, isso aumenta muito a minha responsabilidade”. “Na outra eleição, nós dividíamos o voto da esquerda. Sem ele, minha responsabilidade é muito maior”, acrescentou. Ciro afirmou ainda ter certeza de que, no segundo turno, ele e o PT estarão juntos. “Tem muita gente no PT que faz intriga, mas minha relação com o Lula é muito antiga e, mesmo que o PT lance um candidato, nós vamos nos encontrar mais adiante”, garantiu.
Ele falou sobre uma nova política industrial. Apontou os grande setores que o país poderia priorizar para resolver o problema do desemprego. “Apesar de todos essses graves problemas que afligem a população, como falta de segurança, dificuldades com a saúde pública, a corrupção, que tomou conta da política brasileira, todo mundo sabe que o que resolve mesmo é o desenvolvimento econômico”, disse Ciro. “O cidadão que consegue um bom emprego, ele consegue se virar de alguma forma. O emprego é a chave de tudo”, observou.
“O que mais me revolta é que o Brasil tem dez saídas. Você olha a velha Europa, ela não tem mais por onde ganhar produtividade, a infraestrutura já está construída, a indústria está com a robótica e cada vez com menos gente. Não é o caso do Brasil”, apontou Ciro. “Podemos estimular a construção civil”. “O Brasil tem 14 milhões de famílias sem moradia, ou morando em palafitas, em casebres, pendurados em morros, sofrendo bastante. Este é um setor que não importa nenhum insumo. Saneamento básico, as obras de infraestrutura, a transnordestina, o terminal São Francisco, o terminal Cinturão das Águas, etc. A infraestrutura, que absorve mão de obra, tem que ser detonada imediatamente”, avaliou o pré-candidato.
“O segundo é o setor de petróleo e gás. O Brasil é hoje um dos maiores exportadores mundiais de petróleo. Só que nós estamos exportando petróleo bruto barato. E hoje, o cidadão que roda de ônibus em Juazeiro, 60% do óleo diesel que é gasto aqui, vem do estrangeiro. Ou seja, nós estamos com a política estúpida, de uns 12 a 15 anos para cá, de vender petróleo bruto e barato para o estrangeiro e comprar gasolina, óleo diesel, lubrificantes, mas também os plásticos, polímeros e os materiais que vêm da petroquímica, gerando emprego na Europa, nos EUA e na China”, denunciou.
“Nós estamos gastando dinheiro, a Petrobrás sabe fazer, corresponde a uma demanda da sociedade, a gente poderia comprar isso em real e não em dólar e são milhões de empregos que o complexo industrial do óleo e gás pode criar. E aí você soma as energias alternativas, também como uma frente para resolver a questão do emprego. Tudo isso pode ser feito”, acrescentou o ex-governador.
Ciro citou também o complexo industrial da saúde. “Tem o hospital regional aqui, que o Cid fez, pois eu lhe digo, 80% do que nós usamos aqui neste hospital vem do estrangeiro”, denunciou o pré-candidato, citando próteses, cama de hospital, meios de diagnóstico médico, estetoscópio, todos os fármacos. “Tudo vem do estrangeiro, gerando pleno emprego na China, na Europa, nos EUA”, advertiu. “Isso é dinheiro que nós estamos gastando”, ponderou.
“Se eu encosto aqui nas universidades, pegamos a meninada, começamos a fazer engenharia reversa, copiar os perfis – não estou desacatando lei de propriedade intelectual nenhuma porque já venceu a patente -, é por onde vai ter a saída. O que está falhando estupidamente é a política. O povo vendo isso é triste. Desempregados, miseráveis perdendo os filhos para o narcotráfico. Isso não pode continuar”, afirmou Ciro.
Ele analisou também o complexo industrial do agronegócio. “Vamos passar a ser o maior produtor mundial de soja esse ano. Pois bem, 40% dos custos para produzir a soja ou o milho, vem do estrangeiro”, apontou. “Não temos uma fábrica nacional de implemento agrícola, não temos uma fábrica nacional de defensivo agrícola, praticamente 80 a 90% dos fertilizantes nós compramos de fora garantindo pleno emprego na China, na Europa, nos EUA. Todos os tratores, colheitadeiras, tudo é importado”, disse.
Ao falar do complexo industrial da defesa, ele disse que o país passa por verdadeiros vexames. “No último ano do governo da Dilma, uma empresa da China ganhou a concorrência para fornecer os uniformes do Exército brasileiro. Olha o vexame. Qual é a tecnologia. Qual é a dificuldade para você costurar o uniforme?”, indagou. “Eles são tão mais competitivos, por escala, por financiamento, por taxa de câmbio, por tudo isso a China põe aí mais barato para vender os uniformes do Exército brasileiro. Isso é ridículo”, sentenciou. “Agora, quando você olha, foguete, satélite, propulsão nuclear, microeletrônica, GPS, tudo isso que é despesa militar, 20 bilhões de reais, tudo comprado do estrangeiro”, denunciou Ciro Gomes, apontando que o Brasil pode reverter tudo isso e investir mais em sua gente. “Os brasileiros têm capacidade de sobra. Nesses tópicos, o Brasil tem expertise tecnológica, já tem um mercado garantido. Se a gente fizer isso, e sair também para outras coisas, aí o céu é o limite”, destacou.