O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou nesta quarta-feira (31), em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, cujos principais trechos publicamos abaixo, que não pretende participar de nenhuma “aglutinação de esquerda” que seja “sinônimo oportunista de hegemonia petista”. “Quero fundar um novo campo, onde para ser de esquerda não tem de tapar o nariz com ladroeira, corrupção, falta de escrúpulo, oportunismo. Isso não é esquerda. É o velho caudilhismo populista sul-americano”, destacou o ex-governador.
Ciro disse que não pretende se afastar da luta. “Não sei se serei mais candidato, mas não posso me afastar agora da luta. O país ficou órfão”, disse ele. “Quem conhece o Brasil sabe que você afirmar uma candidatura a 2022 é um mero exercício de especulação, porque a adrenalina não pacificou. Só essa cúpula exacerbada do PT é que já começou a campanha de agressão. Eu não. Tenho sobriedade e modéstia. Acho que o país precisa se renovar”, acrescentou Ciro Gomes.
Sobre sua viagem, ele disse que o distanciamento permitiu uma análise melhor do que ocorreu no Brasil. “O que aconteceu foi uma reação impensada, espécie de histeria coletiva a um conjunto muito grave de fatores que dão razão a uma fração importante dessa maioria que votou no Bolsonaro. O lulopetismo virou um caudilhismo corrupto e corruptor que criou uma força antagônica que é a maior força política no Brasil hoje. E o Bolsonaro estava no lugar certo, na hora certa. Só o petismo fanático vai chamar os 60% do povo brasileiro de fascista. Eu não, de forma nenhuma”, salientou.
Ciro criticou as cobranças petistas sobre sua suposta neutralidade o segundo turno. “Não foi neutralidade. Quem declara o que eu declarei não está neutro. Agora, o que estava dizendo, por uma razão prática, não iria com eles se fossem vitoriosos, já estaria na oposição. Mas estava flagrante que já estava perdida a eleição”, afirmou Ciro, acrescentando que “a gente trai quando dá a palavra e faz o oposto. Quem tiver prestado a atenção no que falei, está muito clara a minha posição de que com o PT eu não iria”. Dizendo que não quer mais fazer campanha para o PT, Ciro questionou, “você acha que eu votei em quem?”. Questionado novamente se votou em Haddad, Ciro insistiu: “Vou continuar calado, mas você acha que votei em quem com a minha história?” Eles podem inventar o que quiserem”, observou.
O ex-governador não poupou os que ele chama de bajuladores de Lula. “Pega um bosta como esse Leonardo Boff. Estou com texto dele aqui. Aí porque não atendo o apelo dele, vai pelo lado inverso. Qual a opinião do Boff sobre o mensalão e petrolão? Ou ele achava que o Lula também não sabia da roubalheira da Petrobras? O Lula sabia porque eu disse a ele que, na Transpetro, Sérgio Machado estava roubando para Renan Calheiros. O Lula se corrompeu por isso, porque hoje está cercado de bajulador, com todo tipo de condescendências”, apontou.
Questionado quem seriam os bajuladores, Ciro Gomes nominou. “É tudo. Gleisi Hoffmann, Leonardo Boff, Frei Betto. Só a turma dele. Cadê os críticos? Quem disse a ele que não pode fazer o que ele fez? Que não pode fraudar a opinião pública do país, mentindo que era candidato?”
Sobre uma hipotética candidatura sua a vice de Lula, Ciro disse que não concordou com a proposta. “Isso é uma fraude. Para essa fraude, fui convidado a praticá-la”, informou. “Esses fanáticos do PT não sabem, mas o Lula, em momento de vacilação, me chamou para cumprir esse papelão que o Haddad cumpriu. E não aceitei. Me considerei insultado” esclareceu o líder pedetista.
“Meu irmão foi a um ato de apoio a Haddad, depois de tudo o que viu acontecendo de mesquinho, pusilânime e inescrupuloso. É muito engraçado o petismo ululante. É igual o bolsominion, rigorosamente a mesma coisa. O Cid está lá tentando elaborar uma fórmula de subverter o quadro e é vaiado”, contou Ciro.
“Estou devendo o que ao PT? Não declarei voto ao Haddad porque não quero mais fazer campanha com o PT. Agora, em uma eleição que tem só dois candidatos, na noite do primeiro turno, disse à imprensa: “Ele não”. O que ele quer mais agora?”, indagou o presidenciável.
Questionado que autocríticas seu irmão, Cid Gomes, cobrou dos petistas, Ciro não perdoou: “Fomos miseravelmente traídos. Aí, é traição, traição mesmo. Palavra dada e não cumprida, clandestinidade, acertos espúrios, grana”, disse. Ao ser perguntado por parte de quem eles tinha sido traídos, Ciro foi direto ao ponto. “Pelo ex-presidente Lula e seus asseclas. Você imagina conseguir do PSB neutralidade trocando o governo de Pernambuco e de Minas? Em nome de que foi feito isso? De qual espírito público, razão nacional, interesse popular? Projeto de poder miúdo. De poder e de ladroeira. O PT elegeu Bolsonaro”, respondeu o ex-governador.
“Todas as pesquisas, não sou eu quem estou dizendo, dizem isso. O Haddad é uma boa pessoa, mas ele, jamais, se fosse uma pessoa que tivesse mais fibra, deveria ter aceito esse papelão. Toda segunda ir lá [visitar Lula], rapaz. Quem acha que o povo vai eleger pessoa assim? Lula nunca permitiu nascer ninguém perto dele. E eles empurram para a direita, que é o querem fazer comigo”, afirmou Gomes.