“[O governo] deveria ter apressado o auxílio às pessoas, para ficarem em casa, e às microempresas, para que elas sobrevivessem. Ao invés disso, lutou contra o auxílio para a população, que foi dado pelo Congresso, e até hoje, o prometido crédito para microempresas não chegou a grande parte delas”
O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), afirmou que “a gestão bolsonarista da pandemia tem sido a pior do mundo” e “gerou a maior tragédia de nossa história”.
“A pandemia levou três meses a mais [aqui] do que na China e dois meses a mais do que na Europa para chegar aqui. Num primeiro momento, o que cabia ao governo fazer era controlar a entrada no país, entrar em acordo com a China em busca de reagentes para testagem em massa e comprar respiradores. Ao invés disso, [Bolsonaro] alinhou-se ao Trump e declarou guerra diplomática à China”, disse Ciro em entrevista ao UOL.
Para ele, “o que cabia ao governo, com o começo da transmissão comunitária do vírus, era promover rígidas quarentenas de vinte dias para controlar a doença no Brasil”.
“Ao invés disso, [Bolsonaro] se lançou numa cruzada contra o isolamento social e desinformou a população sobre a doença, que chamou de ‘gripezinha’, inclusive, receitando como mágico um remédio rejeitado pela comunidade científica nacional e internacional”.
“Tudo isso se reflete em números frios e terríveis. Enquanto o Brasil tem 208 milhões de habitantes, a China tem 1 bilhão e 400 milhões. A pandemia começou lá, três meses antes de chegar ao Brasil. Pois bem, na China morreram cerca de cinco mil pessoas de covid-19. No Brasil, hoje [13 de agosto], passamos de 105 mil”.
“Isso gerou a maior tragédia de nossa história”.
AUXÍLIO
“Mas o bolsonarismo não parou neste ponto. [O governo] deveria ter apressado o auxílio às pessoas, para ficarem em casa, e às microempresas, para que elas sobrevivessem. Ao invés disso, lutou contra o auxílio para a população, que foi dado pelo Congresso, e até hoje, o prometido crédito para microempresas não chegou a grande parte delas”.
Ciro Gomes afirmou que caso tivesse sido eleito presidente em 2018 teria seguido “o conhecimento científico no combate à pandemia”. “Nesse momento, manteria a suspensão da abertura de shows, bares e restaurantes, escolas e universidades, e investiria pesado no desenvolvimento de uma vacina e em conseguir reagentes para aumentar a testagem no Brasil”.
“Este erro na política de saúde destruiu o nosso Produto Interno Bruto (PIB)”, avaliou.
“Os países que fizeram isolamento radical no começo e seguiram as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da ciência estimam um impacto negativo no PIB de 3% esse ano. O próprio governo brasileiro está estimando um impacto de menos 8%. A pior recessão de nossa história”.
“O que o Brasil tem de diferente dos outros países? O governo Bolsonaro. O pior governo do mundo e o pior governo brasileiro de todos os tempos”, afirmou.
“O neoliberalismo nos trouxe ao pior momento econômico de nossa história”, continuou. Para Ciro Gomes, “o neoliberalismo é a cloroquina da economia. Não controla o vírus e vai nos matar de infarto”.
“Isso não pode ser atribuído à pandemia, pois estamos nos desindustrializando e destruindo nossa balança de pagamentos desde o governo [Fernando] Collor, com a única exceção do governo Itamar [Franco]. Esse processo se agudizou com a ida de Joaquim Levy para o governo Dilma [Rousseff] e passou pela aprovação do Teto de Gastos, pela gestão de [Henrique] Meirelles e agora, com Guedes, tem o seu pior momento”.
“Guedes sofisticou isso baixando a Selic ao menor nível da história, ao mesmo tempo em que transferiu o grosso do pagamento de juros para as operações compromissadas. Enquanto isso, o investimento público é o menor da história em nome do Teto de Gastos”, explicou.
“No financiamento da crise da pandemia, outro desastre. Pois, como o neoliberalismo é menos uma teoria econômica e mais um manual de concentração de renda, prega, na prática, menos impostos para os ricos e mais impostos para os pobres”.
Segundo Ciro, “Guedes não cogita, em nenhum momento, financiar parte dos gastos extraordinários que são necessários esse ano com impostos para o andar de cima”. Essa política tem causado “a maior falência das contas públicas da história brasileira”.
“Estamos vivendo numa pandemia e temos que pagar para as empresas sobreviverem e as pessoas que puderem ficar em casa. Mas esse governo não pensou em nenhum momento em como financiar parte desse déficit para controlar a explosão da dívida, porque, evidentemente, essa conta teria que ser paga pelos ricos, no país mais desigual do mundo”, criticou o ex-governador.
“Já o crédito às microempresas simplesmente não chegou”.
“Essa demora, como revelou Guedes na vergonhosa reunião ministerial, era uma política de Estado de destruição das pequenas empresas para a manutenção das grandes. Todas essas insanidades nos levaram, nesses dois anos, ao recorde de evasão de capital da história do Brasil. O capital estrangeiro que, segundo os neoliberais, financiaria o nosso desenvolvimento, está fugindo em massa do país”.
PRIVATIZAÇÃO
“Esse é o pior momento para privatizar qualquer coisa e estão privatizando estatais que dão lucro, portanto, que ajudam a financiar o Estado. Estas negociatas vão nos jogar no pior buraco da história”.
“Ainda não tivemos apurado o escândalo da Itaipu Binacional, que levou à abertura do processo de impeachment contra o presidente paraguaio. Principalmente, não apuramos ainda a venda, sem licitação, de R$ 3 bilhões de créditos do Banco do Brasil a receber por somente R$ 300 milhões para o BTG, banco fundado pelo próprio ministro Paulo Guedes”.
“Estão saqueando o país”, disse.
A fórmula de Guedes consiste em “mais aplicação do teto em investimentos, mais reformas para cortar direitos”.
PANACEIA
“A reforma administrativa é a nova panaceia deles. Como eu disse da reforma da Previdência, não terá impacto nenhum na economia, o pagamento de salários de servidores tem impacto relativamente reduzido no orçamento, os direitos adquiridos têm que ser respeitados e qualquer impacto residual no orçamento seria de longuíssimo prazo”.
MEDIDAS
“Economicamente, implantaria o imposto sobre lucros e dividendos empresariais (o Brasil é o único país que não cobra), recriaria a alíquota de 35% do imposto de renda, que cobrei com o Itamar (Franco), e aumentaria o imposto sobre heranças. Abriria investigação imediata sobre as operações compromissadas e diminuiria sua remuneração. Cortaria 20% por igual de todas as desonerações do governo de saída antes de analisar caso por caso”.
“Todas essas medidas preparariam um orçamento equilibrado já em 2021. Contudo, o principal seria tirar o investimento público do limite do Teto de Gastos, retomando milhares de obras paradas e já licitadas por todo território nacional. Para restaurar a saúde financeira das empresas, um grande plano de refinanciamento nacional, e das famílias, meu plano de refinanciar as dívidas que levaram mais de sessenta milhões de cidadãs e cidadãos ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC)”.
“Essas seriam as medidas de curto e médio prazo que equilibrariam as contas, retomariam o esforço de desenvolvimento e preparariam a celebração de um novo projeto industrial para o Brasil”, concluiu.