O ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência da República, classificou como um factoide e uma ação “politiqueira” a decisão do presidente Michel Temer de intervir na segurança pública do Rio e afirmou que a intervenção foi mal planejada e está destinada a ser um “desastre”. “Esta iniciativa é mal intencionada, de motivações miúdas”, disse. “Entretanto”, acrescentou o ex-governador, “ela corresponde a um anseio, a um pedido comovente da comunidade nacional, com epicentro no Rio de Janeiro”.
O ex-ministro disse que o Exército está sendo jogado pelo governo para uma tarefa para a qual não está treinado e nem preparado. “A Única coisa que o Exército tem de parecido com a polícia é a farda. O resto é tudo diferente. A Polícia é treinada para proteger a comunidade, para formar culpa dos suspeitos e lavá-los ao aparato judiciário, o Exército é feito para matar o inimigo”, explicou o pedetista, nesta terça-feira (20), durante evento promovido pelo jornal Folha de São Paulo.
Ele falou também sobre as 15 medidas econômicas anunciadas pelo governo de Michel Temer em substituição à reforma da Previdência, cuja tramitação no Congresso está suspensa. “Essas 15 medidas são, por enquanto, um apanhado de manchetes”, disse o ex-ministro. “Privatização da Eletrobrás e autonomia do Banco Central nem pensar”, destacou Ciro. “Nenhum País do mundo entrega ao capital estrangeiro o manejo da sua infraestrutura hídrica”, alertou. Ele afirmou que propostas como simplificação do PIS-Confins, desoneração da folha de pagamento e mudança na Lei de Responsabilidade Fiscal precisam ser discutidas e ainda não se sabe o que exatamente o governo vai apresentar.
Ainda sobre a crise na segurança pública, Ciro chamou a atenção para o caráter nacional do problema. Segundo ele, nas estatísticas de homicídios por cem mil habitantes, indicador que ele considera o mais científico para classificar a gravidade das situações de violência em uma comunidade, o Rio de Janeiro ocuparia a 10ª posição entre os Estados brasileiros, o Ceará, segundo o ex-ministro, é o nono.
“Por que no Rio?”, questiona ele. “A sede do PCC é São Paulo, e tudo indica que aqui eles fizeram um acordo com as autoridades locais há mais de uma década”, disse Ciro. “Por que não é em São Paulo? Por que não é em Fortaleza, no Ceará?, volta a indagar. Na opinião de Ciro, há manipulação estatística em São Paulo e maior destaque na mídia para o Rio. “Não é que não existam os problemas, só há mais cobertura”, observa.
Sobre a situação do ex-presidente Lula, Ciro disse esperar dele um gesto de grandeza. Que ele não exacerbe e não estresse a divisão do país entre ódios e paixões. “Do alto de sua autoridade moral, ele deve convocar a nação a se reunificar em torno de um novo projeto nacional de desenvolvimento”, propôs Ciro. Para Ciro, Lula não deve disputar as eleições. Em sua opinião, se houver insistência de sua candidatura, fruto de chicanas e recursos advocatícios, “206 milhões de brasileiros vão ficar reféns dessa estratégia”. Ciro afirmou que não vai buscar o apoio do PT, porque “a natureza do PT, assim como a do escorpião, é sempre afundar sozinho, o que provavelmente vai fazer de novo”. “Pensando no país, [o PT] teria que fazer diferente, mas é problema deles”, concluiu.