Personalidades do mundo jurídico e empresários se uniram à sociedade no repúdio aos planos golpistas de Bolsonaro. Ataques do chefe da Casa Civil não passam de recibos do isolamento do governo e de seus arroubos antidemocráticos
O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), passou um grande recibo nesta terça-feira (26) ao dar um chilique contra a adesão de empresários e banqueiros ao manifesto à nação desautorizando as articulações antidemocráticas de seu chefe.
O manifesto contra os planos do Planalto de tumultuar as eleições, que ganhou a adesão dos principais empresários do país, revela o esvaziamento político do governo. É exatamente isso o que irritou Ciro Nogueira, que está vislumbrando para breve o fim da mamata.
O manifesto é uma clara reprimenda aos planos golpistas de Jair Bolsonaro (PL). Diversas instituições, como o Supremo Tribunal Federal (STF), o Senado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Tribunal de Contas da União (TCU), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Centrais Sindicais, Federação das Indústrias de São Paulo e, até, a Embaixada americana e o Departamento de Estado dos EUA condenaram os planos de ruptura constitucional de Bolsonaro.
Todos esses protestos vieram a público depois que o chefe do Executivo chamou uma reunião de embaixadores de países estrangeiros no Palácio da Alvorada para atacar o sistema eleitoral brasileiro, agredir ministros do TSE e repetir mentiras sobre uma suposta – e nunca provada – insegurança das urnas eletrônicas.
Agora, são os empresários, banqueiros e personalidades que repudiam a tentativa por parte do Planalto de afrontar a democracia brasileira. Até o momento, foram 6 mil adesões ao documento. Gestado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), o manifesto circula desde a semana passada e tem ganhado assinaturas de peso do mundo empresarial e financeiro.
Entre os signatários do documento estão Roberto Setúbal e Candido Bracher (Itaú Unibanco), representantes da indústria, como Walter Schalka (Suzano) e de empresas de bens de consumo como Pedro Passos e Guilherme Leal (Natura). A mobilização terá como ápice um ato no dia 11 de agosto, nas arcadas do Largo de São Francisco, no centro de São Paulo.
Aderiram também ao manifesto Eduardo Vassimon (Votorantim), Horácio Lafer Piva (Klabin), Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique Cardoso), o economista José Roberto Mendonça de Barros e o cineasta João Moreira Salles. A diretoria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) também deu aval para que a entidade participe do movimento em defesa da democracia e da Justiça Eleitoral.
Em seu desespero pelo esvaziamento do governo e da candidatura Bolsonaro, Nogueira partiu para o ataque aos empresários. Disse que o manifesto de representantes da sociedade civil em defesa da democracia seria uma manifestação contra Jair Bolsonaro (PL) porque eles teriam perdido “R$ 40 bilhões” por ano pelo resultado do sucesso do Pix. Porém, nem isso Bolsonaro fez. O Pix foi gestado durante o governo Michel Temer, quando o economista Ilan Goldfajn presidia o Banco Central (BC).
Em maio deste ano, servidores do BC criticaram o “uso eleitoral” do Pix por Bolsonaro e alegaram que o tema não estava nem presente em seu plano de governo nas eleições de 2018. Dois meses depois de implantado, quando foi parabenizado por apoiadores pelo Pix, Bolsonaro disse não saber do que se tratava a ferramenta. “Não tomei conhecimento”, confessou.
O político do centrão prosseguiu em seu ataque de nervos contra os empresários: “Sabe por que os banqueiros hoje podem assinar cartas inclusive contra o presidente da República, ao invés de se calarem com medo dos congelamentos de câmbio do passado? Porque hoje, graças ao desprendimento do poder do senhor (Bolsonaro) e à visão de país do ministro Paulo Guedes, o Brasil passou a ter um Banco Central independente. Antes, o Banco Central podia ser o chicote ou o bombom dos governos para os banqueiros”, escreveu ele em publicação no Twitter.
A ira é compreensível: Bolsonaro está com alto nível de rejeição e não consegue se mover nas pesquisas eleitorais, que mostram uma forte liderança do ex-presidente Lula. A reunião de Bolsonaro com os embaixadores foi considerada, até por seus aliados, como um tiro no pé, demonstrsndo a fraqueza e o desespero do Planalto com a proximidade das eleições.
Ao insinuar que não respeitaria o resultado das urnas, Bolsonaro também sinalizou que prepara um golpe de Estado e assustou os embaixadores. EUA Inglaterra divulgaram nota repudiando o planos antidemocráticos do governo.