Ciro: “temos que construir um pensamento autônomo para desenvolver o Brasil”

Ciro Gomes, vice-presidente do PDT, ex-governador e ex-ministro. Foto: Reprodução - Conexão Xangai

O ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, vice-presidente do PDT, participou, no domingo (6), do programa Conexão Xangai e reafirmou a necessidade de um Projeto Nacional para que o Brasil retome o desenvolvimento e a industrialização.

“Para além de um projeto nacional, nós temos que construir um pensamento autônomo”, disse Ciro Gomes.

O Conexão Xangai é apresentado por André Roncaglia, professor de Economia da Unifesp e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), e conta com a participação de Elias Jabbour, escritor e professor da UERJ; Paulo Gala, professor e doutor em Economia da EESP/FGV, e Uallace Moreira, professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

ESTADO

Durante o programa, Ciro Gomes disse que o Estado brasileiro deve ser o principal impulsionador do desenvolvimento brasileiro e da superação dos nossos atrasos, como em relação à reforma agrária, à industrialização e à economia do conhecimento.

“Não há um único experimento de êxito civilizatório que não encontre por detrás de si um Estado forte”, pontuou.

Para Ciro, o ponto de partida para o crescimento e retomada do desenvolvimento nacional é a revogação do teto de gastos, aprovado durante o governo Michel Temer, porque ele impede que o Estado tenha capacidade de investimento.

O ex-governador acredita que a esquerda brasileira não tem feito esse debate sobre o desenvolvimento econômico. “No campo dos intelectuais orgânicos do PT eu sinto uma falta de uma reflexão estratégica. O PT é a principal organização da esquerda brasileira e o debate foi paralisado por conta do pragmatismo eleitoral”, comentou.

Ciro Gomes defendeu uma política externa independente e que atue para estimular o desenvolvimento nacional. Segundo ele, “o conflito entre China e Estados Unidos não nos obriga a tomar lado”.

Gomes disse que essa política externa deve buscar regimes de preferências comerciais industriais, regime de transferências tecnológicas sensíveis e estratégicas e um regime de financiamento “rebelde à Bretton Woods”, ou seja, alternativos ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial.

Essa política externa “precisa ser guiada” por uma “revisão modernizada dos princípios do Barão de Rio Branco”, que prega a “solução pacífica dos conflitos, não intervenção nos assuntos domésticos, respeito à autodeterminação dos povos e por uma ordem internacional assentada no direito e não na violência”.

Ciro Gomes afirmou que todos esses princípios foram rasgados pela política externa praticada por Jair Bolsonaro.

O ex-governador criticou a destruição do Estado brasileiro e a submissão bolsonarista ao exterior.

“É ridículo um país ficar processando suas comunicações militares com satélite estrangeiro”, observou o ex-ministro da Fazenda. “O Brasil entrega a Base de Alcântara (MA) para os americanos e vai pagar agora projeção de satélite na Rússia e na Ucrânia. O que é isso?”, questionou.

AMARRAS

Ele expressou sua indignação pelo grau de dependência do país ao exterior, exemplificando com a situação atual do Brasil na pandemia, em que temos que importar vacinas, quando o país tem capacidade comprovada nesta área. Ele citou ainda a importação de equipamentos e insumos quando o Brasil poderia muito bem produzir se não tivesse sua estrutura destruída pelo atual e governos anteriores.

“O que é isso? Há 120 anos o Butantan sabe fazer vacinas!”, assinalou.

“E essa gente nunca botou nada no lugar. É só destruindo, só entregando e botando o país para trás na ilusão de que nós vamos pagar o modo moderno de vida ao qual nosso povo tem conhecimento e aspira acessar”, “trazendo tudo do estrangeiro pagando com bode, milho, ferro in natura e petróleo bruto, essa conta não fecha”.

Ciro criticou fortemente o engessamento (“amarras”, como ele disse) da economia brasileira para atender o setor financeiro da economia. Ele classificou essas medidas de “ajuste fiscal” como colocar o país “numa espécie de piloto automático”.

“[É] a idéia de colocar a economia brasileira numa espécie de piloto automático. Então, teto de gastos, meta de inflação, superávit primário, câmbio flutuante… Tudo desconsiderando a realidade, é um negócio absurdo”, protestou.

Para o vice-presidente do PDT, voltar a “crescer significa libertar o Brasil dessas amarras todas”.

AMAZÔNIA

Na defesa da Amazônia, o ex-governador defendeu a presença maior do Estado na região e criticou o desmonte dos mecanismos de fiscalização promovido pelo governo Bolsonaro.  

“O efetivo do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) é ridículo”. “O efetivo do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) é ridículo”.

“Bolsonaro botou um ministro [do Meio Ambiente, Ricardo Salles] que está ajudando contrabandista. Bolsonaro botou um ministro que está fazendo passar a boiada”, lembrou.

PEDRO BIANCO

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