O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ, suspendeu as marcações para clínica médica, cardiologia, geriatria, reumatologia, nefrologia, cirurgia torácica e ressonância magnética.
Referência em pesquisa e casos de alta complexidade, a unidade, na Ilha do Fundão, também deixou de fazer o procedimento de implantação de um neuroestimulador – comparado a um marcapasso no cérebro – em pessoas com mal de Parkinson. O hospital de ensino era o único do SUS no Rio a realizar a delicada operação, que melhora o equilíbrio e os movimentos e reduz a rigidez muscular e os tremores. A falta de recursos, que vem se agravando de 2014 para cá, atinge todos os setores do HUCFF, que sofre hoje com a interrupção de diferentes tipos de atendimento, pela ausência de insumos e medicamentos e de manutenção de seus equipamentos. Em uma série de ofícios enviados à Defensoria Pública da União (DPU), chefes de divisão relatam a situação catastrófica do hospital, onde até a falta de luvas se tornou frequente.
A defensoria chegou à conta de 1.200 pessoas à espera de cirurgia no hospital. Operações de hérnia, bariátricas e por vídeo, entre outras, não estão sendo feitas. O setor de ortopedia diz que operava, em anos passados, 1.200 pacientes ao ano. Agora, são apenas 400.
No Hospital do Fundão, como a unidade também é conhecida pelos cariocas, os materiais de traumatologia assim como todo material de osteossíntese é muito pouco. “Atualmente, não estamos recebendo qualquer tipo de fratura, pois não temos todo o material, ficando muito prejudicado o programa de residência médica. Devemos lembrar que somos um hospital escola, e que desta forma fica muito deficiente o ensino/aprendizado dos médicos residentes e dos médicos estagiários”, informa a chefia do Serviço de Traumato-Ortopedia do hospital.
Pelos corredores da unidade, circulam por dia cerca de mil pacientes. O número funcionários gira em torno em 3.500, incluindo 700 extraquadros (desses, de acordo com a denúncia, mais de 200 recebem menos de um salário mínimo) e 2.814 concursados, sendo 480 médicos. E o total de alunos da área de saúde é de 2.500. Diante do quadro caótico, o defensor Daniel Macedo diz que entrará com uma ação civil pública contra o Ministério da Educação e a UFRJ.
“Os hospitais universitários recebem pela tabela do SUS: quanto maior for a produção cirúrgica, mais são remunerados. Mas, para isso, é preciso medicamentos, organização e gestão qualificada. O Hospital do Fundão não tem nada disso”, afirma o defensor, acrescentando: “Enquanto isso, pessoas estão morrendo por não contarem com atendimento adequado”.