Para a entidade da indústria, “o desempenho econômico de 2023 não configura um novo ciclo de crescimento” e afirma que “a política monetária limitou a atividade econômica durante todo o ano”
Em informe conjuntural sobre a economia brasileira, divulgado na semana passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considera que “algumas das características do desempenho econômico de 2023 não configuram um novo ciclo de crescimento sustentado, pois são resultado de fatores conjunturais excepcionais” e “sem aumento do investimento em 2023 não constrói bases para melhor desempenho em 2024”.
“A política monetária, mesmo com o alívio parcial a partir de agosto, limitou a atividade econômica durante todo o ano”, afirma a entidade. A expectativa da CNI para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 é de 3,0%, “taxa de crescimento idêntica à de 2022”.
De acordo com a análise, o PIB da Indústria como um todo deve crescer 1,5% em 2023, na comparação com 202. Por outro lado, as indústrias de transformação e da construção encerram o ano de 2023 com queda, “penalizados sobretudo pelas altas taxas de juros”.
Mesmo com o início de cortes na taxa Selic, que vai encerrar o ano em 11,75%, “esse percentual leva a uma taxa de juros real de 7,6% ao ano”, alerta a CNI.
A entidade espera um avanço de 7,1% para o PIB da Indústria extrativa em 2023 e que o PIB da Indústria de transformação encerre o ano com queda de 0,7% e o da Construção uma retração de 0,6%.
Para 2024, “é esperada continuidade da perda de ritmo de crescimento observada na segunda metade de 2023. Isso porque os fatores que exerceram maior impulso sobre o crescimento econômico de 2023 não devem se repetir na mesma magnitude. Por isso, o crescimento do PIB deve ser de 1,7% em 2024”, estima a CNI. “Diferentemente de 2023, quando o consumo das famílias e o setor externo tiveram forte influência para o crescimento do PIB”, ressalta.
Já os juros “devem permanecer no campo contracionista”, diz a CNI, “encerrando o ano de 2024 em 9,25% a.a., apenas cumprindo um papel menos restritivo sobre a atividade econômica na comparação com 2023”..
INVESTIMENTOS
No estudo, a CNI destaca a queda na taxa de investimentos. “O investimento deverá recuar 3,5%, penalizado sobretudo pelas taxas de juros elevadas. Nesse cenário, a taxa de investimento recuará (relação entre a Formação bruta de capital fixo e o PIB), ficando em 18,1%, ante 19,3% em 2022”.
E aponta para o “caráter contraditório das políticas econômicas que se reflete na composição do crescimento econômico de 2023”.
“Assim, temos a política monetária, de um lado, que segue restritiva, tentando conter o consumo e a atividade econômica. De outro, a política fiscal expansionista e o bom desempenho do mercado de trabalho estimulando o consumo. Além disso, o setor externo possibilitou o forte desempenho dos setores agropecuário e da Indústria extrativa. A combinação desses fatores fez com que o desempenho dos diferentes setores da economia brasileira fosse bastante heterogêneo, uma característica marcante do crescimento do PIB em 2023”, assinala a CNI.
“Componentes do PIB menos sensíveis à política monetária e ao ciclo econômico em geral, como a Agropecuária e a Indústria extrativa, lideram o crescimento, com avanço de 18,1% e 7,9% em 2023, respectivamente. Isso se reflete no desempenho dos volumes exportados, que acumulam alta de 8,8% no ano, frente ao mesmo período de 2022. Já as Indústrias de transformação e da construção, setores mais sensíveis à política monetária, acumulam queda de 1,6% e 0,9% no ano, respectivamente.”
CONSTRUÇÃO
“A Indústria da construção, que já mostrava dificuldades de sustentar o ciclo de negócios ao longo de 2023, recuou 3,8% no terceiro trimestre, frente ao segundo trimestre. Esse desempenho levou o segmento industrial a uma queda de 0,9% no acumulado no ano até o terceiro trimestre. A expectativa da CNI para o PIB da Construção é de recuo de 0,6% em 2023”, assinala.
INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO
“Já a Indústria de transformação deve encerrar o ano com queda de 0,7%. Essa queda resulta de comportamentos bastante diferentes entre os setores. Em setores cuja demanda é mais sensível à renda, percebe-se alta de demanda. Em outros, mais sensíveis ao crédito, percebe-se queda. Além disso, em alguns desses setores, independentemente se há alta da demanda ou não, o aumento das importações – muitas vezes, significativo – absorveu grande parte da demanda”, destaca.
Já o setor de Serviços, por sua vez, deve encerrar 2023 com alta de 2,3%. “O varejo, impulsionado pela maior disponibilidade de renda das famílias, e os serviços de transporte, estimulado sobretudo pelo excepcional desempenho do setor agropecuário, são os principais motores para esse crescimento”.
“O PIB do Comércio acumulou crescimento de 0,9% no ano, impulsionado pelo mercado de trabalho aquecido, pela desaceleração da inflação e pelo aumento dos gastos do governo”, analisa.
“Segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC/IBGE), a atividade que mais influenciou o avanço do volume de vendas no varejo entre janeiro e setembro de 2023 foi o de Veículos, Motocicletas, Partes e Peças (6,9% no ano). Isso se deveu ao programa de estímulos do governo federal para a aquisição de veículos novos (Medida Provisória 1175/2023), que foi acompanhado por descontos adicionais por parte das montadoras na intenção de reduzir os estoques, que se encontravam elevados. Mas trata-se de uma exceção ao que se observou no restante do varejo”.