No Dia da Indústria, 25 de maio, líderes do setor defenderam reverter o processo de desindustrialização que afeta a economia brasileira há décadas
Crítica dos altos juros da Banco Central, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) defendeu, no Dia da Indústria (25 de maio), a consolidação no Brasil de uma política industrial, que possa levar o país para um círculo virtuoso de desenvolvimento sustentável.
“Ficamos décadas sem uma política industrial estruturada. Não se pode pensar em indústria sem planejamento”, disse o presidente da CNI, Ricardo Alban. “Estamos voltando a ter um Ministério de Indústria e a discutir uma política industrial. Nossa política é o desenvolvimento econômico e social. A indústria está na mesa. Cabe a nós fazermos dela o melhor prato possível”, cravou Alban, em evento do Dia da Indústria, realizado pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB).
A indústria brasileira – que segue enfrentando juros altos, política de câmbio que favorece as importações de manufaturados, entre outras ações que impõe desvantagem ao setor – neste ano comemora a retomada de uma política industrial – que ficou ausente por cerca de 40 anos no país, lembra o diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, Rafael Lucchesi.
“A atual política industrial é um ponto de inflexão importante. Nos últimos 40 anos sofremos com a ausência de uma política industrial mais clara, como houve na China. A política Nova Indústria Brasil (NIB) é moderna, mas não deve ser nunca uma política de governo e, sim, uma política de Estado. A continuidade disso cria um círculo virtuoso de desenvolvimento”, disse Lucchesi, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”.
Com a política Nova Indústria Brasil (NIB), estratégia lançada pelo governo Lula em janeiro deste ano, o setor recebe um aporte de R$ 300 bilhões, distribuídos até 2026, via linhas de crédito e recursos não reembolsáveis, com o objetivo de reverter o processo de desindustrialização, que afeta a economia brasileira há décadas.
Para a CNI, a estratégia NIB é “um bom ponto de partida”, mas “não é suficiente”. “O mundo está colocando US$ 12 trilhões (R$ 61 trilhões) em política industrial, o Brasil, US$ 60 bilhões (R$ 309 bilhões)”, constatou Lucchesi, que defende uma versão do “Plano Safra” para a indústria.
“O Brasil tem uma elevada competitividade no setor agrícola, que foi feito com um case bem-sucedido, onde o governo criou toda uma política de financiamento, que é o Plano Safra. Foi criada há 20 anos com dinheiro público e tributação baixa com subvenção e subsídio. É uma agenda bem-sucedida, mostrando que o Brasil pode mudar uma situação. Partimos de uma situação em que o agro não era tão competitivo, e um conjunto de políticas públicas deu essa competitividade”, explica o economista.
Segundo a CNI, a atividade industrial no Brasil representa 25% do PIB brasileiro – sendo que a indústria de transformação corresponde a 15% – enquanto, a agricultura gira em torno de 7% do PIB.
“[A Nova Indústria Brasil] é um bom ponto de partida, não é suficiente, mas é importante para o Brasil sair do atraso, de uma visão de retrovisor, para o futuro. Estamos fazendo isso simultaneamente com outros países, o que é importante, pois há janelas de oportunidade que podem nos beneficiar”, afirmou Lucchesi.
JUROS ALTOS
A produção da indústria brasileira segue sendo hostilizada pelas altas taxas de juros no Brasil – impulsionadas pela política monetária contracionista do Banco Central (BC), que se estabelece pela taxa básica de juros da economia (Selic) em níveis elevados, hoje em 10,50% ao ano, para inibir os investimentos e a demanda por consumo de bens e serviços no país.
Com a taxa de juros nominal acima dos dois dígitos e a inflação em baixa, o setor produtivo está sendo submetido a uma carga de juros reais (descontada a inflação futura) próximas de 7%.
“É impraticável a continuidade do projeto de neoindustrialização com altos níveis de taxa de juros”, criticou Alban, três semanas atrás, após o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC de reduzir o ritmo de redução da Selic, que vinha de 0,5 ponto de corte – a cada reunião desde agosto de 2023 – para 0,25 ponto percentual (p.p). “Reduzir o ritmo de corte da taxa básica tira a oportunidade de o Brasil alcançar mais prosperidade econômica, aumento de emprego e de renda”, disse Alban.
Segundo o último dado disponível pelo IBGE, em março deste ano, a produção industrial brasileira cresceu 0,9%, frente a fevereiro (0,1%), mas o avanço foi insuficiente para recuperar a perda de -1,1% marcada em janeiro deste ano. Por região, houve recuos em 10 de 15 localidades pesquisadas IBGE, destaque para o Estado de São Paulo, queda de -0,4% em março, sendo segundo mês seguido em baixa. O Estado representa cerca de um terço da indústria brasileira.