A bomba usada pela Arábia Saudita “em um ataque devastador sobre um ônibus escolar no Iêmen foi vendida como parte de acordo de venda de armas com o Departamento de Estado dos Estados Unidos para a Arábia Saudita”, afirma a rede norte-americana CNN.
A CNN descreve que a bomba modelo MK-82, fabricada por uma das maiores contratadas para fornecimento de armas pelos EUA, Lockheed Martin, pesa 227 quilos e é guiada a laser.
É a mesma que atacou um velório “em outubro de 2016 no qual 155 pessoas foram mortas e centenas de outras ficaram feridas”.
Vídeo exibido pela CNN mostra as crianças rindo e conversando instantes antes da explosão.
Segundo ainda a CNN “os EUA diz que não toma decisões acerca dos alvos contra os insurgentes houthis no Iêmen, mas apoia as operações” sauditas.
Apoio que “chega a bilhões de dólares em vendas de armas, reabastecimento dos aviões de combate e algum compartilhamento de inteligência”.
A rede reproduz a desculpa do secretário de “Defesa” James Mattis, apelidado de “Mad Dog” (Cachorro Louco): “Vou dizer a vocês que nós os ajudamos a planejar o que chamamos de tipo de alvo, mas não participamos da dinâmica das incursões no lugar deles”.
Na reportagem a dor dos que perderam seus entes, crianças que estavam no ônibus na aldeia de Dhahian, é relatada através de um dos pais enlutados, Zeid Al Homran, que “visita a tumba de seus dois pequenos filhos todo dia”. “Eu fiquei gritando de raiva e em torno de mim mulheres se atiravam no chão”, relatou, “pessoas gritavam o nome de suas crianças.
Eu tentei dizer às mulheres que aquilo não podia ser verdade, mas então um homem correu por dentro da multidão gritando que um avião havia bombardeado o ônibus das crianças”.
Dos 51 mortos, 40 eram crianças, segundo o ministro da Saúde iemenita, Taha al-Mutawakil. Uma das testemunhas informou que o ônibus foi atingido quando passava por um mercado lotado: “Os corpos estavam espalhados por todo canto. Eu fiquei apavorado”.
“Os especialistas em munição declaram que o número e outras indicações em estilhaços da bomba confirmam que a Lockheed foi o fabricante”, segue a matéria, que prossegue descrevendo que a porta-voz do Pentágono, Rebecca Rebarich, “declinou de confirmar a procedência da bomba”.
“Os EUA tem trabalhado com a coalizão liderada pelos sauditas para ajudar a melhorar procedimentos e supervisionar mecanismos de forma a reduzir perdas civis”, disse ela.
Depois do massacre, parlamentares norte-americanos passaram a exigir que os sauditas façam mais para reduzir a morte de civis no Iêmen, na agressão na qual mais de 15 mil iemenitas perderam a vida e uma crise de cólera atingiu dois milhões. Depois disso, segundo a CNN, “o presidente Donald Trump assinou uma norma de despesas militares que inclui uma cláusula requerendo que o Pentágono e o Departamento de Estado se certifiquem de que a Arábia Saudita e a União dos Emirados Árabes, outro membro da coalizão, estão fazendo o bastante para reduzir as baixas civis”.
Trump assinou acordo com o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud para suprimento de cerca de US$ 110 bilhões em armas, ano passado, em Riad, na sua primeira visita de Trump ao exterior após a posse.
John Kirby, porta-voz do Pentágono no governo Obama, perguntado se os EUA teriam a cumplicidade moral nas mortes do Iêmen, respondeu: “O que eu diria a vocês é que os advogados especializados em questões internacionais provavelmente são os melhores a saber sobre isso, não alguém como eu”. O cinismo descrito pela CNN é de um horror nauseante: “O embaixador da Arábia Saudita perante a ONU disse que o bombardeio foi ‘uma ação militar legítima’ e que ‘os líderes houthis atingidos eram reponsáveis por recrutar e treinar crianças jovens enviadas por eles aos campos de batalha’”.
A matéria da CNN termina dizendo que “o conflito no Iêmen já resultou na maior crise humanitária do mundo, hoje, com mais de 22 milhões de pessoas – três quartos da população – com necessidade desesperada de proteção e ajuda, de acordo com a ONU”.
Há que se registrar, porém, que à CNN custou três anos de longo sofrimento desde que a primeira criança foi mortalmente atingida por um míssil americano no Iêmen, até o escândalo da morte das crianças em um ônibus escolar, para emprestar seus repórteres e meios de divulgação as denúncias. Um espantoso silêncio que levou a articulista Caitlin Johnstone a escrever para o site Action Alert a matéria: “Faz um ano que a rede MSNBC não escreve sobre a guerra dos EUA no Iêmen”, onde mostra levantamento afirmando que, de 17 de março de 2017 a 17 de março de 2018, houve 455 matérias sobre a atriz pornô Stormy Daniels e seu rumoroso affair com Trump, o número de matérias sobre o Iêmen foi zero.
NATHANIEL BRAIA