No afã de apresentar o que supostamente seria uma “arma fumegante” no “Russiagate”, a CNN eclodiu na sexta-feira passada (8) a acusação – inteiramente falsa – de que o filho de Trump teria recebido no dia 4 de setembro acesso especial aos e-mails do Diretório Nacional Democrata – quatro a dez dias antes que o WikiLeaks divulgasse publicamente – o que constituiria a prova definitiva do conluio com uma potência estrangeira para eleger Trump presidente.
Foram 12 minutos seguidos no ar, logo repercutidos pela MNSBC e a CBS. Horas depois, o momento de glória se transformou em enorme humilhação quando o Washington Post – e deve ter sido muito a contragosto – revelou que o e-mail não fora datado de 4 de setembro como a CNN afirmara, mas 14 de setembro – o que implica em que foi enviado depois que o WikiLeaks publicou o acesso aos e-mails online.
Assim, o tal Michael J Erickson ao invés de ser alguém oferecendo acesso especial a Trump, era tão somente algum eleitor dele chamando o candidato a ver os e-mails publicados pelo WikiLeaks. Ou seja, era exatamente o contrário do que a CNN estava afirmando.
No lugar de simplesmente reconhecer sua espetacular e ridícula “barriga”, a CNN dedicou-se a um exercício de meias desculpas, chegando a afirmar que a data falsa provinha de “múltiplas fontes” – como se múltiplas fontes pudessem errar todas no mesmo sentido. O repórter da CNN envolvido no fiasco depois reduziria as “múltiplas fontes” a “duas fontes”, e deixaria claro que sequer vira o e-mail, contentando-se com a descrição de conteúdo feito pelas “fontes”.
Ativistas, parlamentares democratas e figurões neocons cuidaram de retransmitir em alta velocidade a “fake news” da CNN e, claro, mais tarde, não se deram ao trabalho de se retratarem. Como registrou o jornalista Glenn Greenwald, do Intercept, “nenhum anúncio russo no Facebook ou Twitter poderia sequer de perto ter o impacto que esta história da CNN teve quando se trata de enganar as pessoas com informações imprecisas”.
A parcialidade e incúria da mídia mainstream norte-americana pode ser medida pelo fato de que no meio do dia a CBS News asseverou ter “confirmado” de forma independente a mentira da CNN. Desastre que foi repetido pela MSNBC, cujo correspondente de “inteligência e segurança”, Ken Dilanian, se especializou em papaguear qualquer alegação da CIA sem a mínima evidência.
Como reiterou Greenwald, “praticamente todas as falsas histórias publicadas vão apenas em uma direção: ser tão inflamatório e prejudicial quanto possível na história Trump-Rússia e sobre a Rússia em particular. Em algum momento, uma vez que “erros” começam a seguir na mesma direção, para avançar na mesma agenda, eles deixam de parecer erros”. Ainda segundo ele, “tão numerosas são as falsas histórias sobre Rússia e Trump no último ano que eu literalmente não posso listá-las todas”.
A.P.