Disse que projeto relatado pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) contra fake news é censura. Quer repetir os crimes de 2018. Estava nervoso pela cobrança feita pelo parlamentar sobre a verdade em torno do áudio envolvendo a morte de Adriano da Nóbrega
Jair Bolsonaro usou sua live desta quinta-feira (7) para atacar o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), relator do projeto elaborado para inibir os crimes, mentiras e campanhas de ódio praticados na internet.
Bolsonaro é contra o projeto porque cometeu esses crimes na campanha eleitoral de 2018 e pretende cometê-los novamente este ano. Ele e suas milícias digitais são especializados em disseminar mentiras e propagar o ódio pelas redes sociais.
Tanto o deputado Orlando Silva quanto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vêm trabalhando para coibir essas práticas e garantir que as eleições deste ano sejam limpas. Bolsonaro já atacou as urnas eletrônicas e tentou voltar ao ambiente propício à fraudes com a velha contagem manual para tentar tumultuar as eleições.
Agora, quer impedir a regulamentação dos procedimentos na internet, cujo projeto está nas mãos de Orlando Silva. Quer voltar a cometer crimes. Por isso ataca o deputado e o TSE.
O projeto contra as fake news foi discutido durante meses no Congresso Nacional. O PL obriga as operadoras a serem transparentes, impede a disseminação de mentiras e não permite ataques fascistas e campanhas de ódio no pleito. Ou seja, garante uma eleição em condições adequadas, tudo o que Bolsonaro não quer de jeito nenhum.
O esforço do deputado Orlando Silva tem sido no sentido de que o projeto seja aprovado antes das eleições. Bolsonaro e seu “gabinete do ódio”, uma estrutura montada dentro do Palácio do Planalto com o objetivo de fabricar mentiras, chamaram o projeto relatado por Orlando Silva de “censura”. Eles trabalharam intensamente para impedir a urgência da votação da nova lei. O próprio chefe do Executivo ligou pessoalmente para vários parlamentares para impedir a urgência.
Bolsonaro mostrou também outro motivo para estar irritado com o combativo deputado paulista.
O parlamentar cobrou explicações dele sobre o áudio que veio a público e que está em poder da Polícia Civil do Rio de Janeiro, mostrando a irmã do miliciano Adriano da Nóbrega, de nome Daniela, em conversa com sua tia, afirmando que a morte de seu irmão, que era chefe da milícia de Rio das Pedras e do Escritório do Crime, tinha sido decidida dentro do Palácio do Planalto.
Não só Orlando, mas todo o Brasil, está esperando explicações de Bolsonaro sobre essas declarações da irmã do ex-policial morto.
No áudio da polícia, obtido pela Folha de S. Paulo, ela diz: “Ele [Adriano] já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo”.
Ouça o áudio em que a irmã do miliciano diz que sua morte foi decidida dentro do Palácio do Planalto
As ligações de Adriano com a família Bolsonaro eram intensas. A mãe e a ex-mulher de Adriano eram funcionárias fantasmas do gabinete de Flávio Bolsonaro, quando este era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Bolsonaro disse que a cobrança do deputado era uma fake news. Ora. O Brasil inteiro ouviu a irmã do miliciano dizer para sua tia, dois dias após a morte do irmão, que Adriano já estava com a pena decretada dentro do Planalto.
Adriano da Nóbrega foi homenageado duas vezes pelo filho do presidente. Flávio entregou a ele a Medalha Tiradentes, maior honraria do Rio por sua “bravura no desempenho de suas funções”. Ele recebeu a medalha quando já estava dentro da prisão, pelo assassinato de um jovem flanelinha que denunciou a milícia. Adriano foi defendido pelo próprio Bolsonaro em discurso feito no plenário da Câmara, quando era deputado.
Em 2018, época em que Adriano era chefe do Escritório do Crime, uma espécie de central de crimes por encomenda, onde também trabalhava o pistoleiro Ronnie Lessa, preso pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, o então policial repassava dinheiro dos salários de sua mãe, Raimunda Veras Magalhães e de sua ex-mulher, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, para Fabrício Queiroz, como devolução de parte de seus salários do gabinete de Flávio. Elas eram funcionárias de Flávio.
Cobrado a dar explicações pelo deputado Orlando Silva, Bolsonaro se irritou, atacou o parlamentar e chamou o áudio da Polícia Civil do Rio de Janeiro de fake news. Só que o áudio é um fato e está nas mãos da polícia. É uma prova. Bolsonaro não vai conseguir enganar ninguém. Terá que se explicar e não poderá dizer que a irmã de Adriano confundiu Palácio do Planalto com Palácio das Laranjeiras.
A fita foi obtida legalmente com autorização da Justiça, no âmbito da Operação Gárgula que investiga o esquema de lavagem de dinheiro e a estrutura de fuga de Adriano. Portanto, é uma prova concreta e não uma fake news. Não adianta caluniar o deputado Orlando Silva e dizer que ele quer censurar a internet. O que ele, o TSE e o país querem é que a internet deixe de ser uma terra sem lei para milicianos interferirem no resultado nas eleições.
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