Segundo relatos, governo Sunak estuda ‘nacionalização de emergência’ da maior fornecedora de água da Grã Bretanha, que atende 15 milhões de pessoas em Londres e região sudeste.
“O experimento conservador da privatização foi um fracasso devastador”, afirmaram sindicatos britânicos diante da iminente inadimplência da Thames Water, cuja executiva-chefe renunciou na terça-feira, e dos relatos de que ministros do governo Sunak estão preparando uma nacionalização de emergência, assinalou o jornal inglês Morning Star.
Privatizada por Margareth Thatcher em 1989, a Thames é a maior fornecedora de água da Grã Bretanha, atendendo 15 milhões de pessoas em Londres e no sudeste do país com 2,5 bilhões de litros diários de água potável e tratando 4,7 bilhões de litros de águas residuais. Em março, a endividada empresa havia levantado £ 500 milhões sem conseguir deter o colapso da empresa.
“As famílias do Reino Unido foram roubadas por gananciosas empresas de água por muito tempo. Essas empresas obtiveram bilhões em lucros ao destruir nossos rios com esgoto bruto”, denunciou o secretário-geral da central sindical TUC, Paul Nowak.
“Está claro que o experimento de privatização foi um fracasso devastador. Funcionários e contratados agora precisam de uma garantia categórica de que seus salários, pensões e condições serão protegidos”, disse o dirigente nacional do sindicato GMB, Gary Carter.
“Quarenta anos desde a privatização e quase não vimos investimentos em infraestrutura e mão de obra, enquanto acionistas e gatos gordos drenavam fortunas do setor”, ele acrescentou.
Para Nowak, “a privatização é o problema, e a regulamentação não vai resolvê-lo. A Thames Water deve ser tomada como propriedade pública permanentemente. Bilhões em dívidas – contraídas em benefício de aproveitadores – não devem ser despejadas no público”.
Ele enfatizou ainda que “a melhor maneira de manter as contas de água acessíveis e de limpar nossos rios é acabar de vez com o lucro. Cada centavo de cada conta deve ser investido de volta em nosso abastecimento de água. E todas as empresas de água devem ser devolvidas ao poder público”.
CASTELO DE CARTAS
Já Carter responsabilizou o governo e os órgãos reguladores por “dormirem ao volante enquanto os salários dos executivos da Thames aumentavam e a relação dívida/ativos da empresa subia para um nível totalmente insustentável de 10:1”.
“Este recurso público vital foi exaurido por parasitas de private equity”, denunciou o líder sindical. “Com as taxas de juros subindo vertiginosamente, a coisa toda é um castelo de cartas esperando para desabar”.
Um porta-voz do regulador Ofwat confirmou que “no último dia, houve muitos comentários sobre a resiliência financeira no setor de água, com foco considerável na Thames Water em particular”.
Ofwat reconheceu que “a Thames Water tem problemas significativos a resolver – seu registro ambiental e desempenho de vazamento, por exemplo, são ruins. Juntamente com a recuperação de seu desempenho operacional, eles também precisam melhorar sua resiliência financeira”.
Um porta-voz do governo disse anteriormente que se prepara para uma “variedade de cenários” em setores regulamentados, como o setor de água. Por sua vez a mídia britânica assinalou que o agravamento da crise da empresa levou o órgão regulador Ofwat, o Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais e o Tesouro a discutirem o futuro da empresa.
Uma das opções que aparentemente está sendo considerada, registrou o Morning Star, é colocar a Thames Water sob o chamado “regime de administração especial” [SAR, na sigla em inglês], que é usado apenas em circunstâncias extremas, quando um negócio em um setor vital, como água ou energia, é grande demais para ser permitido falir.
Essa medida só foi usada uma vez antes – quando a fornecedora de eletricidade Bulb Energy entrou em colapso em novembro de 2021.
SITUAÇÃO DELICADA
A secretária de Negócios Kemi Badenoch disse que estava “muito preocupada” com as divulgações, mas que esforços devem ser feitos para garantir que a empresa “sobreviva”. Obviamente – continuou -, esta é “uma situação comercialmente sensível”.
“No momento, ou certamente até agora, o regulador tem se concentrado em manter as contas dos consumidores baixas, mas há muito trabalho de infraestrutura que precisa ser feito e precisamos que essa entidade sobreviva e continue.”
No parlamento, a ministra do Meio Ambiente, Rebecca Pow, disse que a população precisa “ter certeza de que seus suprimentos serão protegidos, tanto de água quanto de águas residuais”.
Já a direção da Thames assevera que está discutindo “com os acionistas” e que o Ofwat está a par das suas iniciativas. Segundo o jornal Independent, a empresa vem buscando levantar £ 1 bilhão “para escorar suas finanças”, com a consultoria da AlixPartners. A dívida é de £ 14 bilhões.
Desde o ano 2000 até os dias de hoje, houve 1.609 reestatizações de serviços públicos ao redor do mundo, incluindo os de distribuição de água. Entre os países europeus, a Alemanha foi o que mais reestatizou com 21 empresas privadas que forneciam água, de um total de 407 desprivatizações diversas. Na recente reestatização do fornecimento de água em Setúbal, Portugal, a queda nas tarifas ficou em 20% (geral) e 60% na tarifa social.