Durante o nono sábado de protestos, os brados de “Fora Macron!” tomaram conta da histórica Praça da Bastilha, que foi ocupada no dia 12 pelos Coletes Amarelos, em mais um protesto que se espraiou por diversas cidades francesas, além da capital, contra os cortes do governo.
Mais uma vez, barricadas incendiadas e choques com a polícia marcaram o final do dia, após uma grande marcha de manifestantes pelo centro de Paris. Nas ruas, além da exigência pela saída de Macron, foram ouvidas as palavras de ordem de “Poder ao Povo” e foi entoado o Hino da França.
A tensão tomou conta dos arredores do Arco do Triunfo, região em que o governo resolveu proibir atos públicos, com a polícia disparando jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. Em resposta, foram arremessadas pedras além de tinta vermelha contra os policiais.
A polícia também bloqueou, mais uma vez, a avenida Champs Élysées, que dá acesso ao Arco do Triunfo. Barreiras policiais fecharam o acesso ao Parlamento e ao Palácio Presidencial. As pontes sobre o rio Sena também foram fechadas pelo aparato policial que deteve mais de 200 participantes nos eventos.
O nono sábado foi uma retomada dos protestos com uma participação mais intensa do que nas manifestações do 7º e 8º sábados (final de 2018 e início de 2019) contrariando analistas que diziam que o movimento dos Coletes já mostrava um esvaziamento.
Segundo a rede BFMTV, 84 mil franceses participaram das manifestações deste dia 12, com mobilizações populares também nas ruas de Marselha, Bordeaux, Lyon, Estrasburgo, Nimes, Bourges, entre outras cidades. Em Toulouse, uma barricada gigante foi incendiada no centro da cidade.
“Vamos pra rua porque estamos de saco cheio”, afirmou um dos presentes ao protesto, mostrando que de nada adiantou a bravata do vice-ministro do Interior, Laurent Nunez, que prometera “tolerância zero” contra os “desordeiros”. Nunez prometeu ainda uma “resposta extremamente firme” no caso de “confusão”. Mesmo com as ameaças e a distribuição de mais de 80 mil policiais pelos principais focos de manifestação, as concentrações prosseguiram.
“Viemos a Paris para nos fazermos ouvir”, afirmou, à agência France Press, um dos que viajaram para garantir presença nas movimentações na capital francesa.
Mais de mil Coletes cercaram o hipódromo localizado em Chantilly, vizinha a Paris, atrasando as corridas de cavalo do dia. Ao final, das nove programadas, apenas quatro corridas puderam ocorrer.
O movimento dos Coletes Amarelos, que teve início em novembro do ano passado, depois do anúncio de aumento de taxas sobre combustíveis, prosseguiu mesmo depois do recuo anunciado por Macron com relação às elevadas taxas. Os protestos evoluíram para uma ampla exigência de saída do presidente, cujo governo prosseguiu encaminhando as políticas de arrocho de Sarkozy e Hollande, que levaram a uma piora nas condições de vida dos franceses.
Diante da avalanche de insatisfação Macron resolveu lançar uma proposta de Grande Debate Nacional que, apesar do nome pomposo, foge dos assuntos centrais que levaram a esta prolongada safra de demonstrações.
Manobras de Macron
Os líderes dos Coletes Amarelos veem no “Debate” apenas uma manobra de Macron e convocam os franceses a não participar. De fato, na Carta aos Franceses, o presidente mostra que sua intenção é fazer uma discussão limitada a questões que ele mesmo tenta determinar. Ao invés das taxas sobre grandes fortunas, ele pergunta: “Quais taxas vocês acham que devem ser reduzidas primeiro?”; ao invés do fim dos cortes nos programas sociais, propõe “Alguns dos serviços públicos que estão superados ou muito caros devem ser eliminados?” e ainda “Que propostas concretas vocês acham que devem acelerar nossa abordagem com relação ao meio ambiente?”
Além dessas propostas de fuga dos problemas centrais que os planos de cortes em investimentos e congelamento de salários causaram, ele também foi logo advertido que “não vamos desfazer medidas que introduzimos para acertar a economia, encorajar o investimento e garantir que o trabalho vale mais a pena”. Isso em um momento em que o “encorajamento” só serviu para garantir os interesses do sistema financeiro que atua no país e no conjunto da União Europeia.
Em matéria publicada em seu site, a central CGT delineia as questões chaves que levaram o movimento sindical a puxar manifestações e greves e que desembocaram na insatisfação generalizada de agora.
Reivindicações populares
Além da supressão do aumento dos impostos sobre os combustíveis, que foi acatada por Macron, exige-se a elevação real do salário mínimo, supressão do aumento dos impostos sobre os trabalhadores para a previdência, e das taxas a serem pagas pelos aposentados, indexação dos salários de acordo com a inflação e sobre os mais ricos, o restabelecimento do imposto sobre patrimônio e a luta contra a evasão fiscal que acaba reduzindo as condições do Estado prestar serviços ao conjunto da população.
A CGT denuncia que “Macron e seu governo se negam a ouvir as demandas populares e a negociar uma saída para a crise que deixa os franceses desesperançados com relação a conquistarem uma vida melhor e sem medo do futuro”.
Segundo a central o presidente achava que o movimento se esgotaria, principalmente depois que recuou dos aumentos dos impostos sobre combustíveis e, como isso não aconteceu, recorre a uma violência contra as manifestações o que “aumentou o cansaço, a desconfiança, e a decepção com as medidas cosméticas do governo” e joga no terreno perigoso de tentar parar o movimento com o recurso à “ameaça com o caos”.