Neste sábado (29), os coletes amarelos voltam às ruas em Paris, Nantes, Bordeaux, Lyon, Marselha e outras cidades contra o arrocho e a arrogância do presidente Emmanuel Macron, e já anunciaram sua presença festiva nas celebrações da noite de Ano Novo por toda a França.
Em Paris, o “Ano Novo dos coletes amarelos” será na avenida Champs-Elysees para “continuar a luta pacífica e festiva”, afirmaram os organizadores, com quase 60 mil pessoas, pelas redes, apoiando. “Porque nossas vidas são uma festa e não serão derrotadas”. A Prefeitura da Cidade Luz reiterou que estão mantidas as festividades marcadas na avenida, incluindo um show de som e luzes e a queima de fogos no Arco do Triunfo.
Em Tolouse, está convocado o “Happy Holidays Macron” (nome que deve ser homenagem à performance dele no tour na Casa Branca). “Os coletes amarelos estarão mobilizados na noite de Ano Novo em todo o país. Não necessariamente para ações de bloqueio: muitos apenas estarão juntos para mostrar que a mobilização não vai acabar com o novo ano “, disse o líder do movimento na região, Benjamin Cauchy.
Ele acrescentou que as pessoas “estão começando a perceber que os anúncios feitos pelo presidente”, como o aumento de 100 euros para salários próximos ao salário mínimo e o orçamento de 2019, adotado nos últimos dias pelo parlamento, “não cumpriram as suas expectativas”. Em muitas rotatórias e praças de pedágio bloqueadas no interior do país, os coletes amarelos, como fizeram no Natal, vão confraternizar juntos.
É o sétimo sábado consecutivo de protestos, que tiveram início em 17 de novembro, após o presidente francês anunciar um imposto “ecológico” sobre o diesel, de que quase todos dependem, depois de ter abolido um imposto sobre fortunas, em favor dos ricaços, e de aumentar o preço do diesel em 23% em um ano. E de se isolar, ao exibir seu elitismo, desdenhar de desempregados, chamar seu próprio povo de “gauleses refratários” (por se oporem ao tudo para os bancos) e ronronar para a rainha do arrocho, Angela Merkel.
No início dos protestos, eram principalmente senhores e senhoras de meia idade, das cidades afetadas pelo desmonte neoliberal, que adotaram como símbolo a veste fosforescente obrigatória nos veículos, imposta pela Comunidade Europeia em 2008, ano do crash. A revolta rapidamente evoluiu para a denúncia do arrocho e para exigir a renúncia de Macron e criação de um mecanismo de iniciativa cidadã de convocação de referendos.
Tentando desmobilizar os protestos, Macron fez aprovar no parlamento, que ele controla, medidas meia-sola contra o arrocho, depois de ter revogado a contragosto o ‘imposto ecológico’ sobre o diesel. Estudantes, aposentados e centrais sindicais engrossaram os protestos, numa convergência de lutas populares que ameaça o próximo passo de Macron – piorar a já infame reforma da Previdência de Sarkozy de 2012.
Reenergizados pelos festejos de Ano Novo, os coletes amarelos já estão antevendo a retomada dos trabalhos em 2019, com o ato “De Volta a Paris: 12 de janeiro no Arco do Triunfo”. Isso, se a gana contra Macron não fizer os mais afoitos marcarem presença já no sábado 5. Parece que os ânimos continuam exaltados. Três jornalistas de um pequeno jornal, o Charente Libre, em Angoulême, estão sob risco de indiciamento por terem noticiado na rotatória local um “julgamento de Macron”, seguido pelo guilhotinamento de um boneco que o representava.
ANTONIO PIMENTA