“Desrespeitando as negociações de paz, o governo de Daniel Ortega continua a prender e perseguir ativistas que lutam por liberdades democráticas e isso é inaceitável”, denunciou Maria Mercedes Salgado, do Coletivo de Nicaraguenses no Brasil, destacando a importância da solidariedade internacional com as centenas de presos políticos, em especial com Yader Parajón Gutierrez.
Conforme as últimas informações, o jovem membro de uma organização de familiares contra as atrocidades do regime orteguista – e que inclusive integrou uma delegação que esteve no Brasil no ano passado para alertar para os desmandos da ditadura, foi capturado por policiais próximo à sua casa e brutalmente espancado e preso, na última terça-feira, às vésperas de uma mobilização em defesa do cumprimento dos acordos de paz. (Matéria com detalhes sobre a delegação está no link:https://horadopovo.org.br/nicaraguenses-denunciam-no-brasil-a-ditadura-sanguinaria-de-ortega/ )
Jimmy, o único irmão de Yader, de 35 anos, pai de cinco filhos, foi assassinado por um franco-atirador no dia 11 de maio de 2018.
Desde a brutal repressão iniciada em 18 de abril do ano passado, foram mais de 500 assassinatos e 777 presos políticos, afirmam lideranças de organizações estudantis, ambientais e de familiares de vítimas, sem precisar o número de desaparecidos.
“Nas negociações do final de março o governo assinou que iria libertar as centenas de presos políticos em 90 dias e anular todos os processos judiciais existentes, restituindo as liberdades de reunião e manifestação. Em vez disso, liberou 634 presos comuns e apenas 13 presos políticos. De acordo com as listas das organizações de direitos humanos, que estão sendo monitoradas pela Cruz Vermelha Internacional, cerca de 300 ativistas continuam atrás das grades”, afirmou Mercedes.
Para o Coletivo de Nicaraguenses no Brasil, é chave neste momento ampliar o leque de forças e divulgar amplamente notícias sobre o que vem ocorrendo em seu país para isolar o regime orteguista, colocando imediatamente um freio à sequência de crimes. “Dizem que antes mesmo de ser indiciado Jimmy teria sido levado à prisão de El Chipote, tristemente conhecida nos tempos de Somoza como um centro de tortura. O fato é que ele estava na ativa, postando materiais, participando de piquetes, cobrando do governo a execução daquilo que foi acordado”, destacou Mercedes.
Enquanto a oposição cobra o cumprimento das negociações de paz, sublinhou Mercedes, o governo tenta ganhar tempo. “Na Nicarágua há um ditado conhecido: ‘firmar me harás, pagar jámas’. Isso quer dizer que se pode assinar tudo, sem cumprir nada. Ortega é conhecido por suas manobras diversionistas, por tentar ganhar tempo. Daí a importância da mobilização nacional e da solidariedade internacional”, concluiu.
Cada vez mais isolado em sua política vende-pátria, Ortega se encontra diante uma ampla força de rechaço, que inclui personalidades como Ernesto Cardenal, Dora MaríaTéllez, Víctor Hugo Tinoco, Mónica Baltodano, Jaime Wheelock, Alejandro Bendaña, Sergio Ramírez (ex-vice-presidente), o músico, cantor e compositor Carlos Mejía Godoy e Henry Ruiz, lideranças históricas da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) durante a revolução que depôs a ditadura dos Somoza.