Candidato do Pacto Histórico disputará eleições presidenciais do próximo dia 19 de junho com o de extrema-direita Rodolfo Hernández. Candidato do governo, Federico Gutiérrez sofreu duro revés
CAIO TEIXEIRA, FELIPE BIANCHI, LEONARDO WEXELL SEVERO E VANESSA MARTINA SILVA / COMUNICASUL*
“Hoje ganhamos, é um dia de triunfo, Mais de 40% dos votos, o dobro de quatro anos atrás e um crescimento inquestionável em relação à votação de 13 de março [data das eleições parlamentares]”, comemora Gustavo Petro, candidato da coalizão Pacto Histórico à presidência da Colômbia.
Acompanhado pela candidata à vice-presidência, Francia Márquez, das respectivas famílias, dirigentes e militantes dos movimentos sociais neste domingo (29), no encerramento da apuração, Petro ressalta que a frente oposicionista somou mais de 8,5 milhões de votos (40,3%) – contra 5,9 milhões de Rodolfo Hernández (28,1%), transformado em coringa do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).
Como o candidato da frente progressista fez questão de frisar, “derrotado o uribismo, o povo colombiano precisa agora decidir o que deseja para o seu país, qual mudança quer. Avançar ou cometer suicídio?”. “Nós queremos convocar a sociedade colombiana a fazer uma mudança para frente, construtiva, que nos permita um período novo muito mais próspero, para o povo e para a nação”, frisa Petro, alertando que o projeto político dos ex-presidentes Ivan Duque (2014-2018) e Uribe foi derrotado: “A votação total da Colômbia expressa uma mensagem ao mundo: se acabou um período, se acabou uma era”.
O fato é que, assim como os senadores e deputados alinhados com Uribe e Duque, e, por isso mesmo, varridos nas urnas recentemente, agora foi a vez do candidato presidencial Federico Gutiérrez amargar a derrota. Um terceiro lugar, com 23,9%, apesar do uso e abuso da maquinaria estatal e de praticamente a totalidade da mídia escrita, radial ou televisionada.
Frente a essa dura realidade, coube a Gutiérrez pronunciar cabisbaixo seu apoio a Rodolfo Hernández, carta tirada da manga às vésperas da eleição devido às alarmantes projeções de uma possível vitória de Petro em primeiro turno. “Rodolfo Hernándes fala em mudança, mas diz que a mulher tem de ficar em casa. Fala em mudança, mas já disse ser fã de um grande pensador chamado Adolf Hitler. Que mudança será essa que ele promete?”, questionou o líder do Pacto Histórico.
Petro fez uma conclamação às entidades empresariais que reflitam, pois se colocaram atemorizadas com a sua campanha, “gente poderosa e não tão poderosa, a quem diziam um monte de bobagens para que não votassem por nós”. “Eu lhes digo: é o momento de escolher. Eu proponho justiça social com estabilidade econômica”, explica, apontando que na sua opinião uma empresa jamais poderá crescer se a maioria da população empobrece.
CRESCIMENTO, GERAÇÃO DE EMPREGO E ESTABILIDADE
Em relação a conquistar a estabilidade econômica e reduzir o déficit fiscal, “uma vez que Duque nos deixou com o Estado praticamente quebrado”, o candidato do Pacto Histórico declarou que “o país não pode sair da crise sem crescer, sem que a juventude não possa ter acesso à universidade pública e gratuita”. Se conseguimos isso, declara, “as empresas serão maiores, haverá maior produtividade, poderemos concentrar conhecimento e ciência na indústria, na agricultura e no turismo, logo a produção crescerá e os lucros também. É isso que gerará bem-estar para a sociedade”.
“Por isso estamos pensando em justiça social. Não é estapafúrdio pensar em fazer que voltemos a garantir o direito à aposentadoria, nem absurdo pensar em levar médicos à casa das pessoas ou dizer que a educação superior se converta em direito. A justiça social não é algo esdrúxulo, é uma necessidade”, frisa. “Evidentemente”, emenda Petro,” é que não conseguiremos construir este novo país sem combater os desmandos e desvios da oligarquia que domina o Estado”.
“A corrupção não se combate com frases de efeito no TikTok [como faz Rodolfo Hernández]. Eu acredito que a corrupção se combate arriscando a vida, pois é um regime de corrupção que enfrentaremos. Nós arriscamos a vida para acabar com a corrupção e não estamos aqui para enganar com um discurso, mas para dizer à sociedade colombiana para onde vamos”, pontua.
“Não queremos mais violência, propusemos um caminho de paz. Há quatro anos quando disputávamos com Duque, a maioria da sociedade aparentemente decidiu que o caminho não era a paz. O que passou quando se fechou a porta ao progressismo colombiano? Hoje temos mais violência e mais corrupção. Violência, corrupção e fome”, recordou Petro, frisando que esta foi a jogada armada pelas elites para tentar impedir que se conquistasse “um Estado mais transparente e uma sociedade mais democrática”.
“Acredito que a sociedade colombiana tem que analisar hoje a decisão para os próximos quatro anos. Queremos um Estado tomado pela corrupção, um processo de mentiras? Retardar quatro anos mais o verdadeiro processo de mudanças só significará muito mais mortos, mais paralisia econômica. Assim, não construiremos uma sociedade do conhecimento, com um processo de energias limpas, descarbonizada, para o qual caminha a humanidade”, reflete.
O candidato do Pacto Histórico assinala, ainda, que “o cérebro dos colombianos não é diferente do dos chineses, estadunidenses ou europeus. E por que temos de nos condenar a mais ignorâncias induzidas com governos que não querem financiar a educação pública? Basta de ignorâncias induzidas que convencem a sociedade a se comportar como rebanho. Não somos o que as elites dizem”.
Não podemos admitir, enfatiza, que tenhamos “centenas de milhares de famílias pagando créditos hipotecários por anos a fio aos donos multimilionários desses apartamentos e casas”. “Será assim que construiremos justiça social? Então a mudança consiste em ter as mulheres condenadas a cuidar de casa e o trabalhador a viver para pagar hipotecas aos banqueiros? Será que poderemos chegar à paz e à convivência, chegar a ser uma grande nação se admiramos a Hitler?”, questiona.
“Nós queremos uma mudança real, verdadeira, em que a mulher tenha direitos, o que vai dar mais força à família. E a família se fortalece quando a comida chega à casa, se freamos importações caras para produzir na Colômbia. Se deixarmos de importar milhares de toneladas de milho poderemos produzir 250 mil postos de trabalho nos nossos campos”, propôs.
Diante da grave crise que assola o país, Petro pergunta “como levar comida à casa se a maioria da população ganha menos de três mil pesos diários [menos de um dólar], se um litro de leite vale três mil? Como come o povo? Por isso temos propostas como a de subsidiar os fertilizantes, comprar as colheitas e levá-las aos bairros pobres? Então como acabar com a fome?”.
O país que vamos construir com o voto de cada um, defendeu, “é que as mães não tenham medo que seus filhos e filhas possam ir às ruas e não passem mais temor ou terror como em algumas partes do país. O que queremos é justiça social, que os idosos tenham pensões e aposentadorias, que as crianças tenham leite e carne, e que o conjunto da sociedade possa ter acesso à saúde”.
Petro continua: “Estas propostas são fundamentais e eu peço à sociedade colombiana que não sejamos como estamos. Que não nos afundemos mais na violência e na corrupção. Que não saltemos ao suicídio. A mudança é pela vida! Porque buscamos uma Colômbia que seja potência mundial. Estamos a um milhão de votos de ganhar. Um milhão a mais que os oito milhões e meio de eleitores”, exclama.
Aos que não votaram pela coalizão, Petro pediu para que “a militância e todos os ativistas dialoguem, porque chegou o tempo da vida, de não dar nenhum passo atrás e colocar abaixo o mau governo”. “É preciso conquistar e convencer com amor a família e a comunidade para alcançar o que esta geração pode deixar à história da Colômbia: o primeiro governo popular e democrático, o primeiro governo de uma verdadeira mudança. O primeiro governo transparente e decente”, conclui.
*A reprodução deste conteúdo é livre, desde que citada a fonte e a lista de entidades e organizações que apoiam esta cobertura, como no rodapé a seguir.
Esta cobertura é feita pela Agência ComunicaSul graças ao apoio das seguintes entidades: da Associação dos/das Docentes da Universidade Federal de Lavras-MG, Federação Nacional dos Servidores do Poder Judiciário Federal e do MPU (Fenajufe), Confederação Sindical dos Trabalhadores/as das Américas (CSA), jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Sindicato dos Bancários do Piauí; Associação dos Professores do Ensino Oficial do Ceará (APEOC), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-Sul), Sindicato dos Bancários do Amapá, Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos de Betim-MG, Sindicato dos Correios de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste Centro), Associação dos Professores Universitários da Bahia, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal do RS (Sintrajufe-RS), Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Sindicato dos Químicos de Campinas, Osasco e Região, Sindicato dos Servidores de São Carlos, mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS), Agência Sindical, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais e centenas de contribuições individuais.