Soldados do exército colombiano abriram fogo na última quinta-feira contra o carro da líder comunitária Yolanda González García, ferida com três tiros, matando seu segurança Ezequiel Méndez, da Unidade Nacional de Proteção Nacional (UNP) – vinculada ao Ministério do Interior.
Desde a assinatura dos Acordos de Paz, são mais de 800 os dirigentes sindicais e populares assassinados por militares ou milicianos alinhados à política de terrorismo de Estado impulsionada pelo presidente Ivan Duque.
Ex-vereadora e dirigente da Aliança Social Independente para o departamento de Arauca, Yolanda denunciou que militares bloquearam seu carro e agiram de forma criminosa. “O motorista parou, nos cercaram, para que baixássemos do veículo. Meu escolta tirou o documento, se identificou, disse que era meu segurança, e que por isso estava armado. Mas eles não deram atenção, somente gritavam para que descêssemos do veículo. Me assustei porque gritavam muito. Eu abri a porta e, quando saí, um soldado gritou que levantasse as mãos. Foi quando começaram a disparar, me atirei para trás e fiquei um tempo inconsciente. Assim que recuperei os sentidos vi que meu segurança estava morto, ali, sentado, onde procurava a identidade”.
Conforme relata a líder comunitária, depois chegou um homem com roupas civis, mas portando armas, e começou a gritar com os soldados e questionar sobre qual a razão de terem disparado. A resposta dos militares foi que o segurança havia disparado primeiro, versão prontamente desmentida: “ele nunca sacou a arma, o que fez foi mostrar sua identidade, como sempre fazem, mas o mataram”. “Em que pese os gritos e pedidos de socorro, nada faziam por mim, e sangrava. Depois de muito tempo me colocaram num carro e me levaram a uma base militar, fizeram curativos e me levaram num helicóptero”, relatou Yolanda.
ASSASSINAM VÍTIMAS INDEFESAS
De acordo com a Fundação Joel Sierra, organização defensora de Direitos Humanos no departamento de Arauca, infelizmente esta tem sido a forma de atuar dos agentes da força pública, “voltada a assassinar vítimas indefesas”. “Estes fatos demonstram que a militarização não é garantia da proteção da vida e integridade dos civis, mas tudo pelo contrário, constitui um risco iminente de vulnerabilidade dos direitos humanos e do direito internacional humanitário”, frisou.
A Fundação Joel Sierra denunciou que “as lideranças sociais vêm sendo assassinadas, perseguidas, ameaçadas, encarceradas e estigmatizadas num genocídio cujos rigores têm aumentado”. “Para ninguém é segredo que o governo colombiano vem querendo minimizar a hecatombe humanitária relacionando estes fatos com questões econômicas e sentimentais”, condenou a organização, que exige do governo colombiano o cumprimento de suas obrigações legais, garantindo o direito à vida e ao pleno desenvolvimento de suas atividades legais e legítimas.
Yolanda foi submetida a um atendimento especializado, pois está com o movimento dos braços comprometido. Ela saiu do hospital protegida por um grupo de escoltas da UNP.
À ESPREITA CONTRA OS ACORDOS DE PAZ
O presidente do partido Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC), Rodrigo Londoño, líder histórico das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, conhecido como Timochenko, reafirmou “o compromisso com os Acordos de Paz assinados com o governo em novembro de 2016” e sublinhou que “nossa palavra hoje é a paz e a reconciliação”. Londoño assinalou que “a grande maioria dos ex-guerrilheiros segue comprometida com o estipulado pelos acordos, apesar de todas as dificuldades e perigos que espreitam”.
Para o secretário-geral do Partido Comunista Colombiano, Jaime Caicedo, é preciso construir uma “frente ampla pela paz que, com unidade e mobilização, faça valer o assinado e derrote a política de guerra e medo defendida pelo presidente Ivan Duque”. “Os Acordos de Paz não são um compromisso de governo, mas de Estado, que estão incluídos na nossa Constituição e nas normas legislativas, não podendo ser abandonados”, concluiu.