Milhares de pessoas se manifestaram nas principais cidades da Colômbia, na sexta-feira, 11, para exigir a renúncia do procurador-geral, Néstor Martínez, acusado de participar na trama de corrupção da empreiteira Odebrecht no país.
As conversações que Martínez manteve em agosto de 2015 com Jorge Enrique Pizano, testemunha-chave do caso Odebrecht, morto no início do mês de novembro passado em decorrência de um infarto e em situação suspeita (acerca das suspeitas de envenenamento de Pizano publicamos a matéria https://horadopovo.org.br/colombia-confirma-morte-de-testemunha-do-caso-odebrecht-por-cianureto/), geram questionamentos ao seu trabalho à frente do órgão encarregado de investigar os milionários subornos pagos pela empreiteira a autoridades colombianas.
O presidente da Colômbia, Iván Duque, em um primeiro momento respaldou-o publicamente, mas em 19 de novembro pediu a nomeação de um promotor especial para administrar a apuração do caso. As forças da oposição não se conformam com essa opção e exigem sua renúncia.
Durante o protesto, os manifestantes acenderam lanternas, e carregaram faixas com as frases “Colômbia necessita a renúncia do promotor” e “Chega de corrupção e acobertamento”. As consignas eram as mesmas entre os manifestantes, que exigiam também: “Fora!” e “Corrupto!”.
Nas cidades de Medellín, Cali e Barranquilla, o povo parou na frente das promotorias locais para demonstrar seu descontentamento. Em outras capitais estaduais se realizaram manifestações similares.
“Quando um funcionário importantíssimo como o promotor é altamente questionado, o melhor e mais ético é que se afaste, não pode ficar repetindo frases vazias afirmando que é inocente quando as provas de seu envolvimento são mais que fartas”, assinalou Fabián Sanabria, sociólogo e professor da Universidade Nacional de Colômbia e um dos organizadores da marcha, em entrevista à W Rádio.
A corrupção é hoje na Colômbia uma preocupação assumida pela maioria da população. O senador Gustavo Petro, principal adversário de Duque nas últimas eleições presidenciais, afirma: “Em outro país o promotor teria renunciado por decência. Na Colômbia o que temos é um regime da corrupção e um sistema de impunidade”. Claudia López, líder da Aliança Verde, acha insuficiente a nomeação de um promotor especial. “Fomos tratados como loucos. De repente, todos propõem um promotor ad hoc, mas somente para a Odebrecht. Algum colombiano quer que com essa capacidade de mentir e manipular Martínez seja promotor em algum caso?”.
Martínez nega que as gravações conhecidas depois da morte de Pizano, auditor de um dos projetos dos quais a Odebrecht participou, demonstrem alguma responsabilidade, e argumenta com a conhecida ladainha de que é “vítima” de uma espécie de vingança por conta de sua luta contra a corrupção. Mas os áudios divulgados pelo telejornal Noticias Uno revelam que ele estava a par das irregularidades da companhia na construção de um trecho da rodovia Ruta del Sol, uma das principais do país, ligando a região andina de Cundinamarca ao Caribe. Na época, ele era o advogado do Grupo Aval, conglomerado bancário que controla a Corficolombiana, uma empresa de serviços financeiros que se envolveu no projeto.
Em outubro, a promotora do caso, Amparo Cerón, também sofreu um acidente automobilístico durante suas férias e passou duas semanas inconsciente. Sua delicada situação médica tem lhe impedido reintegrar-se ao trabalho.
O Tribunal Administrativo de Cundinamarca multou a Odebrecht, no dia 13 de dezembro passado, em 800 bilhões de pesos (cerca de US$ 251 milhões) e a proibiu de realizar contratos com entidades oficiais por 10 anos, como consequência dos atos de corrupção em que esteve envolvida na Colômbia.
A decisão também atinge os sócios da empreiteira na Colômbia, a exemplo da Episol, do banqueiro Luis Carlos Sarmiento. O tribunal também suspendeu o contrato da Odebrecht e associados com o Estado para a construção da Ruta del Sol II.
“Esta cifra supera mais de 22 vezes os US$ 11 milhões inicialmente oferecidos pela multinacional, para receber benefícios em seus processos penais, disciplinares e fiscais na Colômbia”, afirmou o Ministério Público em comunicado à imprensa.
Além de ordenar o embargo das contas bancárias, bens e dividendos obtidos pelas empresas implicadas, o despacho judicial declarou responsáveis por corrupção várias pessoas que participaram desse contrato: o ex-vice-ministro de Transporte Gabriel García, o ex-senador Otto Bula, o ex-presidente da Corficolombiana (proprietária da Episol) José Elías Melo e os ex-diretores da empreiteira brasileira na Colômbia Luiz Bueno, Luiz Mameri e Luiz da Rocha.