A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, programada para acontecer entre os dias 26 e 31 de março, deve representar uma clara sinalização do governo brasileiro da importância estratégica que o Brasil atribui à parceria com o país asiático e uma guinada em relação à política de descaso adotada pelo governo Bolsonaro na relação com os chineses.
“O objetivo é o aprofundamento da parceria estratégica global”, sentenciou o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores.
Os dois governos devem assinar pelo menos 20 acordos de cooperação bilateral, entre os quais se destaca o que prevê a construção e lançamento em órbita de um novo satélite para monitorar o desmatamento florestal na Amazônia e outros biomas.
O desenvolvimento do satélite sino-brasileiro servirá para aprimorar o monitoramento das áreas desmatadas e alvo de queimadas, disse Saboia. “O CBERS 6 (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) será o primeiro satélite desenvolvido entre os dois (países) que usa uma tecnologia que permite ao radar monitorar a floresta mesmo com nuvens. É um avanço”, afirmou.
Na área de Ciência, Tecnologia e Inovação, além do satélite, a pauta da viagem será reforçada com a ampliação em pesquisa de nanotecnologia, computação quântica e sistema 5G, conforme informou a ministra da área, Luciana Santos, que integrará a comitiva governamental.
A proposta é qualificar a produção do Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Avançada), estatal que ficou famosa por produzir chips para monitoramento de gado e que foi sabotada pelo governo anterior ao iniciar o encerramento das atividades da empresa.
A agenda do presidente Lula, reforçada com ampla representação política e empresarial, inclui também memorandos ligados ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ambiente, educação, ciência e tecnologia, finanças, protocolos sanitários e fitossanitários ligados a produtos do agronegócio.
“É uma visita de importância comercial, econômica, mas também política. Ela acontece na sequência da retomada de contatos de alto nível. Ocorre num momento auspicioso, de novo ciclo político no Brasil e na China”, disse o embaixador Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty. “O objetivo é o aprofundamento da parceria estratégica global”, afirmou o embaixador Saboia.
De acordo com o diplomata, a visita à China servirá também para diversificar a pauta comercial com aquele país, hoje baseada, essencialmente, em commodities exportadas (carne, soja, minério de ferro e derivados do petróleo) e manufaturas importadas.
Com a visita, o governo do presidente Lula pretende explorar outras possibilidades de desenvolvimento conjunto e complementar, especialmente nas áreas de ciência e tecnologia, transição energética, combate à fome e mudança climática, o que representa efetivamente uma mudança estratégica na relação com a China, o que sinalizará a disposição do Brasil de ser reconhecido no cenário mundial não só pela importância de suas matérias-primas, mas também em outros setores de serviços e produtos com valor agregado diferenciado.
Não é à toa que 240 empresários foram inscritos na comitiva presidencial, um fato absolutamente inédito. Importante assinalar que são representantes dos mais distintos segmentos econômicos e não só do agronegócio, considerado a locomotiva nas relações econômicas internacionais do país.
Em Pequim, estão previstas reuniões do presidente Lula com o presidente Xi, com o primeiro-ministro da China, senhor Li Qiang, e com o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji, quando serão tratados temas da ampla pauta bilateral entre os dois países. A agenda se estenderá, também, a Xangai, expressivo centro econômico e comercial da China, onde está localizada a sede do Banco do BRICS, que será comandado pela ex-presidente Dilma Rousseff.
MC