Netanyahu, que responde a quatro processos por peculato e prevaricação, tinha na recondução ao cargo de primeiro-ministro a esperança de escapar da cadeia.
Ainda que, pela lei israelense, o fato de estar no posto de primeiro-ministro, não o isentava de condenação e pena correspondente, a Procuradoria-Geral do país, sob o comando de Avichai Mandelblit, tem evitado indiciá-lo e enviar seu processo para medidas jurídicas e policiais até o pronunciamento das urnas, para evitar ser acusado de interferir na vontade dos israelenses.
Agora, se o provável resultado permanecer no decorrer das próximas horas que nos separam da contagem final, quem deve ser chamado pelo presidente Reuven Rivlin para compor o governo será o general Benny Gantz que, à frente da coligação Azul e Branco, está na possibilidade de vencer a disputa, e sua lista obter 33 cadeiras.
Netanyahu e sua coligação o Likud (Unidade) ficariam em segundo com 32 cadeiras.
Dentro do sistema parlamentarista israelense, qualquer força política precisa de, no mínimo 61 cadeiras de deputados federais para formar um gabinete e indicar o premiê.
Ao que tudo indica, Gantz terá a seu lado, de início, as cadeiras obtidas pelo Campo Democrático, Trabalhistas e Ponte, com as quais ficaria com 44 apoios.
Para chegar ou ultrapassar os 61 assentos teria que contar com os 12 integrantes da Lista Árabe Unida e mais os 8 da corrente direitista Israel Nossa Casa.
Ayman Odeh, líder da força árabe, que obteve o melhor resultado desde a fundação do Estado de Israel, já se disse disposto a negociar apoio a Gantz, mesmo que este não convide os árabes a compor o governo, indicando ministros palestinos, desde que o premiê assuma a retomada das negociações de paz com os palestinos, a elevação do orçamento para as municipalidades de maioria árabe (perfazem 21% da população os palestinos que ficaram em Israel no período adjacente à implantação do Estado de Israel e à limpeza étnica que aconteceu no processo) e ainda a liberação de permissões de construção nos perímetros urbanos destes municípios (hoje, com a finalidade de estrangular a existência dos moradores das aldeias e cidades árabes, os vistos de novas edificações lhes é sistematicamente negado).
Já Lieberman que, antes de se afastar de Netanyahu, compôs ministérios sob seu comando, já disse que não comporá com Gantz, no caso “absurdo” deste chamar árabes aos cargos ministeriais, ainda não se pronunciou sobre a aceitação de um governo de centro-esquerda que, mesmo que não aceite indicações dos pertencentes à Lista Árabe, assuma compromissos com o eleitorado árabe.
Uma alternativa aventada por Lieberman seria um governo direitista (que ele chama de ‘unidade nacional’) com a participação das listas de Gantz, de Netanyahu e dele. Uma tal junção obteria um total de 73 cadeiras.
Gantz já sinalizou que pode aceitar tal composição com a condição de que o novo governo não tenha Netanyahu na cabeça, deixando-o, também neste caso, exposto a julgamento e prisão.
Netanyahu tentou os mais baixos expedientes para evitar a atual situação de mudança radical para quem já foi apelidado por seus apoiadores de “Rei de Israel”.
Desde a tentativa, dos últimos dias antes do pleito, de levar o país a uma guerra de devastação com os palestinos da Faixa de Gaza, o que não foi aceito pelo comando militar, nem pela Procuradoria-Geral que exigiu que uma decisão de tal ataque passasse pelo Knesset, parlamento israelense, até a busca de intimidar o eleitorado árabe distribuindo câmeras de filmagem nas seções árabes, o que foi proibido pelo Comitê Nacional Eleitoral.
Ele tentou também atrair mais eleitores à direita às urnas prometendo atolar Israel mais profundamente no regime de apartheid ao dizer que, reeleito, anexaria mais um terço da Cisjordânia palestina. A menos que haja uma reviravolta nos 5% que ainda restam ser computados, fracassou.
Vale lembrar que, assim como outros políticos antipopulares aos quais Bolsonaro resolveu declarar admiração: Salvini, na Itália, o presidente Benitez, Paraguai, agora em palpos de aranha devido à negociata envolvendo Bolsonaro e Itaipu; Macri, já contando os dias para ser defenestrado da Casa Rosada, Bibi Netanyahu também dá adeus ao poder, sendo que este último tem a cadeia como o destino mais provável.
NATHANIEL BRAIA