Greve denuncia plano de arrocho salarial, demissões e privatização da estatal
A greve dos funcionários da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) atinge todos os estados da federação. Os trabalhadores filiados à Federação Interestadual dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (FINDECT), que reúne os sindicatos de São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão e Tocantins, decidiram nesta terça-feira, 26, aderir à greve iniciada na semana passada.
Segundo a Findect, os dirigentes da entidade “seguiram os trâmites legais e negociaram à exaustão (…) e a proposta de reajuste apresentada pela empresa foi insuficiente para levar à assinatura de um acordo”. Agora a entidade se junta aos trabalhadores filiados à Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), parados desde o dia 19.
Além do aumento salarial – os Correios mantêm a proposta de reajuste de 3%, a ser adicionado somente a partir de janeiro, enquanto a data-base da categoria é 1º de agosto – os trabalhadores estão em greve contra o desmonte por que passa os Correios: o fechamento de agências por todo o país, pressão para adesão a um plano de demissão voluntária, ameaça de demissão motivada com alegação da crise, ameaça de privatização, corte de investimentos em todo o país, falta de concurso público, redução no número de funcionários, além de mudanças no plano de saúde e suspensão das férias para todos os trabalhadores (exceto para aqueles que já estão com férias vencidas) são motivo para a paralisação.
Ainda na semana passada, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu que existe a possibilidade de privatizar os Correios, embora tenha dito que ainda “não há uma decisão tomada”.
Guilherme Campos, presidente dos Correios, chegou a dizer que o principal problema da empresa, que enfrentou prejuízo dois anos seguidos, é a folha de pagamento dos funcionários. Nos últimos anos, mais de 10 mil trabalhadores deixaram a empresa por meio de Programas de Demissão Voluntária (PDVs). “Com a justificativa de que é preciso entendimento dos problemas da ECT, por parte da categoria, o governo tem ameaçado vender a empresa para sanar as dificuldades”, aponta a Fentect.
A entidade denuncia que, no entanto, “a má gestão nos Correios gerou gastos exorbitantes nos últimos anos, o que não é revelado para a sociedade, que é induzida ao erro, a acreditar que a culpa é dos trabalhadores. São patrocínios e consultorias milionárias, além de cargos frutos de indicações políticas. Para piorar a situação, o governo federal insiste em não pagar os valores retirados do caixa da empresa: quase R$ 6 bilhões. Ou seja, a estatal paga ao governo para trabalhar, enquanto poderia contar, por exemplo, com a fidelização dos serviços e programas sociais”.
Para rebater a mobilização dos trabalhadores, a ECT entrou com uma ação no Tribunal Superior do Trabalho (TST), cujo vice-presidente Emmanoel Pereira, determinou, por meio de liminar na segunda-feira (25), que a Fentect assegure o mínimo de 80% de trabalhadores em cada setor/unidade, sob pena de multa diária de R$ 100 mil em caso de descumprimento.
Frente à essa iniciativa, o sintect-RJ publicou uma nota direcionada ao presidente da estatal: “Caro Guilherme Campos, nós carregamos essa empresa nas costas, damos nosso suor e saúde para sustentá-la. O mínimo que vocês têm que fazer é manter nossos direitos e benefícios, que já não são muitos. É uma questão de respeito com quem trabalha todos os dias debaixo de sol e chuva”.
“Não aceitamos nenhuma retirada direitos. Não tememos às arbitrariedades. Greve é nosso direito e nossa forma de lutar por justiça”, aponta a nota do sindicato carioca, que está convocando nova assembleia para segunda-feira, 02. “Precisamos manter nossa posição para avançar na luta por diretos. É hora de resistir aos ataques. Juntos somos mais fortes”, ressaltou o presidente, Ronaldo Martins.