A presidente do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, Tibisay Lucena, informou os primeiros resultados das eleições municipais a nível nacional realizadas no domingo último. Com uma abstenção de 72,6% foram eleitos 2.459 vereadores dos 335 municípios do país.
A participação nula da oposição permitiu à coalizão governista Grande Polo Patriótico, que lidera o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), ganhar 142 das 156 votações apuradas até o momento. Tibisay assinalou que por ser uma eleição local os resultados serão oferecidos por completo nos próximos dias pelas Juntas Regionais.
RECESSÃO
O país vive uma profunda recessão que já dura cinco anos e uma hiperinflação que pode chegar a 1.000.000% este ano, segundo a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), fato que mostra a deterioração das condições de vida no país.
“O horizonte sombrio apontado pelo FMI – com uma queda de 18% do PIB – não surpreende a população, cuja crise está no cotidiano. ‘Nada mais me surpreende. Todos os dias as coisas aumentam. Não é gradual, é exponencial’, comentou à AFP Marcos Salazar, enquanto comia um hambúrguer que custou um salário mínimo. Professor de 31 anos, ele sobrevive com três trabalhos e das remessas de familiares no exterior”, assinalou a Carta Capital na matéria “Como a Venezuela sobrevivera a uma inflação de 1.000.000%?.
Hoje o salário mínimo do venezuelano é de 1,50 dólar pela taxa do mercado paralelo e as finanças públicas se ressentem com a queda da produção petroleira, responsável por 96% das receitas. Apesar de ser o país que possui as maiores reservas provadas de petróleo do mundo, o dinheiro que essa riqueza produz não foi usado para diversificar a economia e industrializar o país. Até a alimentação dos venezuelanos depende da importação.
Os principais partidos de oposição como Primeiro Justiça, Vontade Popular, Ação Democrática ou Um Novo Tempo — integrantes da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), além de outros menores, não participaram da eleição de domingo, e também se abstiveram em maio, no pleito em que o presidente Nicolás Maduro ganhou uma questionada reeleição com abstenção de mais da metade do eleitorado venezuelano.
MADURO ENCONTRA PUTIN
Em meio à grave crise que atravessa o país, o presidente russo Vladimir Putin reuniu-se com Maduro em Moscou, dia 5 de dezembro, quando trataram dos problemas do país latino-americano e de questões que afetam à produção de petróleo, questão chave para as duas economias.
Durante o encontro, Putin repudiou “qualquer tentativa de mudar a situação política na Venezuela pelo uso da força”, em ações que caracterizou de “clara natureza terrorista” contra Caracas, em clara referência a ameaças proferidas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
“Sabemos que a situação na Venezuela continua complicada. Apoiamos os esforços para conseguir o entendimento na sociedade e a normalização das relações com a oposição”, disse Putin.
Com uma economia dependente do petróleo e sem outro setor produtivo ativo, o país sofreu com a queda do preço da commodity a nível internacional. A grave crise econômica que afeta a Venezuela, marcada por hiperinflação e escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos, provocou um êxodo de centenas de milhares de venezuelanos. A ONU estima que 3 milhões deixaram o país desde 2015.
“Quero agradecer à Rússia e ao seu Presidente, Vladimir Putin, à Arábia Saudita e a todos os sócios membros da OPEP e não OPEP por se ter conseguido um acordo para reduzir 1,2 milhões de barris diários [de produção de petróleo], o que permitirá estabilizar os preços a um nível justo para os produtores, consumidores e economia em geral”, disse Nicolas Maduro ao chegar da visita à Rússia.
A OPEP acertou na sexta-feira, 07, uma redução da sua produção em 1,2 milhões de barris por dia para buscar o aumento dos preços do petróleo cru.
Os 14 países da OPEP vão fazer uma redução na produção diária de 800 mil barris e outros dez parceiros, incluindo a Rússia, se comprometeram com uma diminuição de 400 mil barris, durante todo o primeiro semestre de 2019, informou a organização em conferência de imprensa na sua sede, em Viena. Imediatamente, os preços do petróleo subiram cerca de 5%, para mais de US$ 63 o barril, já que o corte combinado foi maior do que o mínimo de 1 milhão de barris esperado.
O corte na produção destina-se a barrar a queda do preço do petróleo, que em dois meses recuou cerca de 30%, em meio de preocupações com o excesso da oferta.
Segundo a imprensa venezuelana, na última década a produção de petróleo da Venezuela caiu de 3,2 milhões para 1,1 milhões de barris diários de cru.
De acordo com declarações de Maduro, os dois países assinaram uma série de acordos nas áreas de petróleo, telecomunicações, defesa, mineração e comercialização.
O chefe de Estado venezuelano disse que foi assinado um acordo com a Venezuela no valor de 5 bilhões de dólares, “para elevar a produção petroleira, com nossos sócios russos das empresas mistas”.
Por outro lado, a Venezuela anunciou a compra de até 600 mil toneladas de trigo russo, na tentativa de debelar a crise de oferta alimentar básica que aflige a população. Também foram firmados acordos para produção de armas e exploração de ouro. Além disso, uma reunião foi agendada com empresários russos para avaliar os investimentos na extração de diamantes no país sul-americano.