Neste domingo (25) os chilenos foram às urnas para decidir pela mudança na Constituição de 1980 imposta pela ditadura de Pinochet.
Com 99,57% das urnas apuradas, a revogação do arremedo de Constituição que, ao invés de garantir os direitos democráticos da maioria serviu de sustento legal ao autoritarismo e aos monopólios que com ele têm lucrado no Chile, foi aprovada por 78,28% dos votos. A rejeição à mudança foi derrotada de forma mais ampla do que todas as previsões, ficando com 21,72%.
A Praça da Dignidade – que ficou célebre por centralizar as manifestações que levaram à instauração do processo constitucional agora em vias de ser sacramentado – já está lotada com uma multidão celebrando a vitória.
Com bandeiras chilenas e a palavra de ordem que se ouviu desde o início do levante que desembocou no voto pela mudança, afirmando “Chile despertou! Chile despertou!” em defesa da vida, da dignidade e da democracia. Assim fica decretado o fim da Constituição antidemocrática e antipopular a qual permitiu que fosse forjado um sistema econômico onde prevaleceu a privatização da Saúde, da Educação e Previdência social.
Fica para trás uma Carta que apoiou o primeiro ensaio do funesto neoliberalismo forjado pelos economistas da escola de Chicago, os “Chicago Boys”, experiência garroteadora e desnacionalizadora da qual participou o atual ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes.
Com ela e outras leis complementares, houve um verdadeiro assalto ao Estado quando bancos e subsidiárias se apoderaram da previdência para manipular com a poupança dos trabalhadores, através das AFP (Administradoras de Fundos de Pensão) e pagar aposentadorias de fome, de até um terço do salário mínimo vigente, aos idosos chilenos, enquanto jogam com o dinheiro dos trabalhadores e obtêm lucros astronômicos.
O eleitor teve que responder a duas questões. A primeira se aprovava ou rejeitava a mudança constitucional. A segunda versando sobre a modalidade de Constituinte: Convenção Constitucional (155 eleitos para escrever a Constituição) ou Convenção Mista (composta por 86 parlamentares já no exercício do mandato e 86 eleitos para fins de redação da nova Constituição).
Aí também se verificou por ampla margem a vitória da opção mais democrática. O formato da Convenção Constitucional, com todos os seus membros eleitos com a finalidade de redigir a nova Carta, obteve 79,24% deixando para a fórmula “mista”, com parte dos constituintes escolhidos entre parlamentares já eleitos, com 20,76% dos votos.
Como no Chile o voto é voluntário, dos 14,7 milhões de aptos a votar, compareceram pouco mais de 50% dos eleitores.
“Nem nos anos de minha juventude, sonhei que no Chile seríamos capazes de nos unirmos para semelhante mudança. Nunca vi tanta gente com votando e com vontade de votar, de querer participar”, afirmou uma das que celebravam o resultado na Praça da Dignidade, Maria Isabel Nuñez, de 46 anos, ao lado de sua filha de 20.
Os chilenos celebraram nas ruas do país a vitória: