Com bolsonaristas de cúmplices, Vorcaro praticou crimes “jamais vistos”, diz MPF

Ciro Nogueira defendeu negociata com BRB (reprodução)

Só de Ibaneis Rocha, do DF, o Banco Master recebeu R$ 12,5 bilhões, do BRB e, de Cláudio Castro, governador do Rio, outros R$ 2,6 bilhões, do fundo Rioprevidência

O procurador Gabriel Pimenta Alves, representante do Ministério Público Federal que pediu a prisão do presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, afirmou que o banco ‘lesa há anos investidores e os cofres públicos”. Ele disse que raramente se vê uma fraude sistemática tão bem documentada como a exposta agora, após denúncia do Banco Central.

“Há provas abundantes, como raramente se vê em crimes dessa espécie, de que opera na estrutura formal do Banco Master uma verdadeira organização criminosa, que atua consistentemente há anos, com divisão de tarefas e possível corrupção de agentes públicos, para praticar crimes contra o sistema financeiro nacional, contra a Administração Pública e contra investidores privados e fundos de pensão, causando prejuízos bilionários”, diz a peça escrita pelo procurador.

Para a Procuradoria, Vorcaro é o cabeça da organização criminosa. O MPF faz questão de afirmar que “a prática de crimes é extensa e variada, como talvez jamais se tenha visto no sistema financeiro nacional, por uma instituição formalmente constituída”.

“A CVM verificou a prática, pelo menos desde 2018, de diversos crimes graves envolvendo a gestão do Banco Master, em seguidos processos administrativos sancionadores do órgão. Em alguns deles, os investigados conseguiram encerrar o caso por meio de acordos, apesar da gravidade dos fatos e do histórico de reincidência, impedindo o envio de representação criminal ao MPF”, explica o procurador.

Ibaneis e Castro entraram com bilhões (reprodução)

A peça, ao longo de 102 páginas, afirma ainda que o Master focou sua atuação na lesão de bancos públicos e fundos de previdência social estatais, como o do Rio de Janeiro, responsável pelo maior aporte no banco em 2025, segundo informa a jornalista Daniela Lima, de UOL.

“Da análise desses processos sancionadores da CVM fica demonstrada a recorrência e sofisticação das práticas ilícitas envolvendo o grupo controlador e gestor do Banco Master (antigo Banco Máxima), com série de crimes contra o sistema financeiro e contra o mercado de capitais, para obtenção de vantagem ilícita, em prejuízo de investidores, especialmente em prejuízo a recursos públicos ou geridos ou com influência de servidores públicos, como seguro DPVAT e regimes e fundos de pensão públicos”, prossegue o MPF.

Entre os crimes do Master estão a apresentação ao Banco Central de uma carteira falsa de clientes e operações irreais para tentar justificar negociações bilionárias com o Banco de Brasília. O BRB está sendo investigado por uma negociata que transferiu R$ 12,5 bilhões ao Master. Para o BC, a fraude vem desde fevereiro de 2025 e representou criminalmente contra as entidades no Ministério Público e na Polícia Federal. Estão sendo investigadas as transferências do BRB e as aplicações feitas pela fundo Rioprevidência, no valor de R$ 2,6 bilhões, que eles dizem ser de R$ 1 bilhão, no Banco Master.

O Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ), está investigando a “notável coincidência” entre a nomeação de diretores do Rioprevidência e os investimentos fraudulentos no Banco Master. Três integrantes da diretoria do órgão estadual foram nomeados poucos meses antes do primeiro investimento no Master; tribunal de contas vai investigar se alguma cidade fluminense fez aporte no banco liquidado.

O Fundo é responsável pelo pagamento de aposentadorias e pensões a 235 mil servidores estaduais inativos. Ele passou por uma mudança em sua diretoria poucos meses antes de começar a “investir” no Banco Master, que foi liquidado. De acordo com uma auditoria do (TCE-RJ), o órgão aplicou R$ 2,6 bilhões em Letras Financeiras e títulos do grupo financeiro desde novembro de 2023. Documento sigiloso da corte destaca a “notável coincidência” entre as nomeações e os aportes.

Entre julho e outubro de 2023, foram nomeados para o Rioprevidência Deivis Marcon Antunes, como diretor-presidente; Eucherio Lerner Rodrigues, para a Diretoria de Investimentos; e o gerente de investimentos Pedro Pinheiro Guerra Leal. Os aportes no Master começaram no início de novembro daquele ano. Só Antunes e Leal continuam hoje na gestão da autarquia.

O documento do TCE destaca ainda que a nomeação de Eucherio saiu no Diário Oficial do estado no dia 4 de outubro, mesma data em que o Master enviou um e-mail solicitando credenciamento junto ao Rioprevidência — medida necessária para que recebesse aportes do órgão público. E neste mesmo dia foi aberto um procedimento para analisar o pedido.

Doze dias depois, Pedro Leal enviou um ofício à Gerência de Controle Interno e Auditoria (GERCIA) do Rioprevidência, informando que o banco atendia aos requisitos. Nessa resposta, ele também encaminha documentos para análise e parecer de conformidade. Deivis Antunes bate o martelo em 19 de outubro e autoriza o credenciamento do banco. De acordo com o TCE, esse processo de aplicação aconteceu de forma “acelerada” e “com aparentes irregularidades”.

A defesa de Daniel Vorcaro, que está preso, tenta um habeas corpus na Justiça Federal sob alegação de que ele sempre colaborou com as apurações e que não estava tentando fugir do país. Ele foi preso praticamente dentro de um jatinho particular tentando embarcar para o exterior.

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