“O ano de 2021 foi marcado por uma continuidade daquilo que se presenciou no ano anterior: houve falta de animais para abastecer o mercado doméstico”, afirmam os pesquisadores
“A pandemia da Covid-19 provocou mudanças na mesa dos brasileiros, que reduziram o consumo de carne bovina para o menor nível em 25 anos”, afirmam os pesquisadores Guilherme Malafaia, Sérgio de Medeiros e Fernando Teixeira Dias no Boletim “Perspectivas para a pecuária de corte em 2022”, divulgado pela Embrapa na segunda-feira (27).
O consumo de carne bovina entre os brasileiros desabou desde o início da pandemia e chegou a 26,5 quilos por habitante em 2021. Em relação a 2006, quando o consumo atingiu 42,8 quilos por habitante, o recuo é de quase 40%.
Com a alta do preço da carne bovina o brasileiro foi forçado a substituir o produto por outras proteínas mais baratas, como o frango, pressionado pela inflação generalizada, desemprego elevado e queda na renda.
Ao mesmo tempo em que a carne disparava, a gasolina, a energia elétrica e o botijão de gás também corroíam a renda do consumidor.
No final do ano passado, a queda no consumo de carne bovina acelerou, assim como as imagens da fome, de brasileiros, na maioria mulheres e idosos, nas filas por doação de ossos, em busca por restos de comida em caçambas de supermercados.
“O ano de 2021 foi marcado por uma continuidade daquilo que se presenciou no ano anterior: houve falta de animais para abastecer o mercado doméstico”, afirmam os especialistas da Embrapa.
“Seguiremos com aumentos nos preços dos insumos, dos animais de reposição e uma menor disponibilidade de animais. O produtor rural conviverá com o alto custo dos fertilizantes, o que impactará o custo de produção do milho e da soja, afetando o preço da ração para suplementação. Em 2021, houve um aumento de mais de 100% nos custos com fertilizantes e defensivos para culturas como milho e soja”, assinala o boletim.
“O custo com animais de reposição, em virtude da tendência de alta no ciclo pecuário, também deverá impactar o custo final da terminação. As margens devem continuar apertadas em 2022. Faltarão vacas para abate e abastecimento do mercado interno e as indústrias buscarão bois, que estarão com a demanda aquecida no mercado externo e com a arroba valorizada”, ressaltam os especialistas. O patamar elevado de preços da arroba do boi gordo manteve-se no primeiro semestre acima dos R$ 300,00.
“A China deve se manter como o principal parceiro comercial da cadeia produtiva da carne bovina brasileira. Para o câmbio, as expectativas em função das incertezas globais causadas pela COVID-19 são de preços firmes, com o mercado projetando o dólar em R$ 5,50 ao fim de 2022 e alta volatilidade. O avanço da vacinação e a retomada das economias globais, apesar da inflação mundial projetada, mantém uma perspectiva positiva para 2022, entretanto, a inflação e o desemprego deverão pressionar o consumo de carne bovina no Brasil, que representa 75% do total da produção”.