Com Bolsonaro, a fuga de profissionais brasileiros para os EUA saltou 40%, segundo dados do Departamento de Imigração norte-americano, compilados pelas consultorias JBJ Partners e Hayman-Woodward.
Em 2019 a 2020, a busca por vistos permanentes – tipos EB1 e EB2 – aumentou 40%, na comparação com os anos de 2017 e 2018, e 135% frente ao período de 2015 e 2016, época do auge da crise econômica que foi deflagrada em 2014. No ano passado, cerca de 3,3 mil profissionais de alta qualificação buscaram visto preferencial para os EUA – o maior número dos últimos dez anos.
Enquanto as solicitações de pedidos de entrada no mercado de trabalho estadunidense cresceram em 2020, a soma de pedidos feitos por todas as nacionalidades recuou em 13%. Entre os destinos de preferência dos brasileiros, estão países como Portugal, Canadá e Inglaterra, além de China e os Emirados Árabes.
Ao todo, entre 2019 e 2020, 44.663 mil brasileiros buscaram a Receita Federal (RFB) para encerrar suas obrigações fiscais no Brasil por meio da declaração de saída definitiva.
Entre os motivos apontados pelas famílias que partiram para outras nações, estão a violência e as crises políticas e econômicas – nas quais elas não acreditam em uma solução no curto prazo.
“O Brasil passa, sem dúvida, por uma nova rodada de fuga de cérebros“. “Há cada vez mais médicos, empresários, altos executivos de empresas e profissionais de tecnologia que sonham em morar no exterior. Sendo que mais da metade deles acaba buscando os EUA”, afirmou o sócio da consultoria JBJ Parterns, Jorge Botrel.
Outro fator que agrava a fuga de profissionais brasileiros para o exterior é a falta de incentivo aos jovens pesquisadores e cientistas brasileiros, situação essa que se agravou no último período com o governo negacionista de Jair Bolsonaro.
Em plena pandemia, o governo Bolsonaro mantém bloqueados ilegalmente R$ 5 bilhões do Fundo de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT) que deveriam ser usados para financiar projetos de ciência e tecnologia – incluindo pesquisas relacionadas à Covid-19. E apenas R$ 1,21 bilhão foi liberado para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), valor que é quase metade do disponível em 2000, quando foram destinados R$ 2,35 bilhões, e o menor do século 21, segundo dados do Sistema Integrado de Operações (Siop) do Governo Federal.
Neste ano, dos 3.080 projetos de doutorado e pós-doutorado aprovados com mérito pelo CNPq, apenas 396 vão receber bolsa de estudos este ano.
“É triste ver o número de bolsas dentro do país diminuindo”, disse a vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, alertando para uma “fuga de cérebros” do país. “Os Estados Unidos estão distribuindo bolsas porque sabem que, assim, identificam as ‘melhores cabeças’. O mesmo acontece na China e na Europa”. “E os estudantes brasileiros estão ganhando bolsas nestas instituições, mas não estão ganhando aqui no Brasil. Não porque não têm mérito, mas porque não há bolsas suficientes”, disse em entrevista ao Globo, divulgada no mês passado.