Com Selic a 10,75%, país ocupa o primeiro lugar no ranking de 40 países
Após a decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros (Selic) a 10,75% ao ano, o Brasil retornou a primeira posição vexatória de campeão mundial de juros reais.
Compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management, o ranking de 40 países possui apenas 10 praticando juros reais acima de zero. No topo, a taxa de juros real (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) do Brasil está em 6,41%. Os países logo abaixo são: Rússia (4,61%), Colômbia (3,02%), Chile (2,09%) e México (1,99%). Os Estados Unidos, por exemplo, cuja economia o governo de Jair Bolsonaro sempre usa como referência, praticam juros reais negativos de 4,90%.
Na quarta-feira (2), o Banco Central, orientado pela política de arrocho de Paulo Guedes (Ministro da Economia) e Bolsonaro, elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1,5 ponto percentual, de 9,25% ao ano para 10,75%. Considerando-a nominalmente (sem desconto da inflação), o Brasil aparece em terceiro lugar no ranking mundial.
A magnitude do aumento dos juros do BC numa economia estagnada, a pretexto de combater a inflação, só beneficia meia dúzia de bancos e rentistas. A opção é asfixiar ainda mais o consumo e os investimentos em um cenário em que a economia beira de novo a recessão, as rendas estão arrochadas e os brasileiros sem emprego, com os preços nas alturas dos alimentos, combustíveis, energia elétrica, tudo com aval de Bolsonaro.
O economista José Luis Oreiro declarou em entrevista ao HP que a consequência dos juros altos vai ser um empurrão a mais na crise.
“Uma economia que tem uma elevada taxa de desemprego, mais de 12 milhões de pessoas estão desempregadas, é uma economia que tem uma expectativa de crescimento muito baixa para 2022. A expectativa de crescimento está em 0,5%, mas já existem instituições financeiras que estão prevendo inclusive contração do nível de atividade econômica em 2022. Então, o Banco Central está pondo mais lenha na fogueira da recessão. Está aumentando o custo do dinheiro. Isso vai aumentar o custo do crédito para as empresas, para os consumidores. O que nós vamos ver como consequência disso é uma desaceleração ainda maior do nível de atividade”, afirmou o professor Oreiro.
“Mais uma vez eu tenho que enfatizar que o Banco Central do Brasil é o único banco central do mundo que está elevando, sistematicamente, a taxa de juros”, enfatizou Oreiro.