Economistas, empresários e instituições financeiras preveem um futuro ainda mais sombrio para o desempenho econômico do país em 2022, tornando a sobrevivência das famílias brasileiras mais difíceis do que no atual momento.
Segundo esses economistas e representantes da área, a expectativa para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no próximo ano caiu para menos de 1%. Ontem, o Itaú Unibanco, o maior banco privado do país, cortou a projeção para 2022 de 1,5% para 0,5%, e a MB Associados, de 1,4% para 0,4%. O J.P. Morgan reduziu sua estimativa de 1,5% para 0,9%, no início do mês, e o Banco Fator prevê a economia crescendo 0,5%.
A revisão das previsões ocorreram logo após o resultado do PIB do segundo trimestre de menos 0,1% em relação ao trimestre anterior. A situação ficou ainda mais dramática quando saiu o resultado da produção industrial de julho, que iniciou o terceiro trimestre em queda de -1,3% em julho sobre junho. Assim como o resultado da inflação de agosto, a maior para o mês em 21 anos, com acumulado em 12 meses perto de 10%.
Com tudo isso, as ameaças de Bolsonaro à democracia no dia 7 de Setembro contribuíram para aumentar as tensões e a desconfiança nos rumos da economia.
As previsões até lembram a frase dita por Bolsonaro no dia 8 de setembro, logo após sua tentativa malograda de golpe. A um grupo de apoiadores fanáticos na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que “nada não está tão ruim que não possa piorar”, ao colocar a culpa da inflação nos governadores.
Ao culpar os governadores lá no seu cercadinho, pela inflação, dizendo que as medidas para conter a pandemia promovida pelos Estados, com distanciamento social, é que provocaram o baixíssimo desempenho econômico, o que Bolsonaro faz, como sempre, é inverter as coisas.
Com a inflação batendo recordes, o preço do gás de cozinha e o usado por empresas nas alturas explodiram, com aval de Bolsonaro, assim como o preço da gasolina, da conta de luz e dos alimentos de maneira geral e, em especial, os da cesta básica. Com mais de 14 milhões de trabalhadores desempregados, a previsão é de que a recuperação da economia está longe de acontecer, ainda mais em meio ao caos político engendrado por Bolsonaro, e ainda a crise energética, com risco de apagão.
Se as medidas que deveriam ter sido tomadas pelo Governo Federal para enfrentar a Covid-19, promovendo o distanciamento e lockdowns programados e nos momentos certos, e vacinas para a população, assim que elas ficaram disponíveis, o país certamente estaria começando um processo de recuperação econômica, como vem acontecendo em muitos países, e não afundando como está.
A previsão de queda no PIB não é isolada, como afirmam diversos analistas da área, 2022 terá aumento do desemprego e da inflação, e juros ainda mais altos.
Como afirmou em entrevista ao Estadão o economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1995-1998) e sócio-fundador da consultoria MB Associados, logo após os atos do 7 de Setembro convocados pelo presidente, “há um casamento da crise econômica com a política”.
O economista avalia que instabilidade política só piora o já difícil quadro dos indicadores econômicos, com inflação em alta, desemprego elevado e a perspectiva de uma crise hídrica que deixa investidores, empresas e a população mais inseguros.
“O discurso radical não tem nada a ver com os problemas que o Brasil enfrenta, e deixa as pessoas e os empresários inseguros”, declarou.