“A inflação corrente elevada e disseminada tem deteriorado os orçamentos domésticos e diminuído o poder de compra das famílias, em especial as na faixa de menor renda”, diz CNC
A combinação inflação alta, juros elevados e desemprego continuou pressionando a renda das famílias em outubro, refletindo no crescimento do percentual de famílias endividadas para 74,6%.
O dado é da pesquisa mensal de endividamento e inadimplência realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada nesta quinta-feira (04). Esse é o 11° aumento consecutivo no percentual de famílias endividadas e representa um aumento de 8,1 pontos na comparação com outubro de 2020 – o segundo maior salto na série histórica da pesquisa da entidade.
São dívidas a vencer com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa.
Os dados também mostram que a proporção de pessoas endividadas por mais de um ano é crescente desde o fim do primeiro trimestre, atingindo, em outubro, a máxima histórica de 35,8% dos que declararam dever.
“A inflação corrente elevada e disseminada tem deteriorado os orçamentos domésticos e diminuído o poder de compra das famílias, em especial as na faixa de menor renda”, avalia o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
De acordo com o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a prévia da inflação de outubro foi de 1,20%, alcançando em 12 meses uma variação de 10,34% – a maior dos últimos 27 anos.
A carestia volta a assombrar o país, com elevação generalizada dos preços, mas que atinge especialmente os alimentos, os combustíveis, a conta de luz e o gás de cozinha – produtos que poderiam ser regulados pelo governo. Diante desse cenário combinado com o desemprego, as famílias têm feito dívidas até mesmo para as despesas básicas mensais. A resposta do governo para a explosão inflacionária foi o aperto fiscal elevando a Selic (taxa básica de juros) para 7,75% ao ano, que além de frear o consumo, aperta ainda mais a renda das famílias.
O cartão de crédito, que em muitas casas brasileiras tem servido para as despesas mais elementares, como alimentação, continua sendo o principal meio de endividamento: 84,9% do total das dívidas. Em relação a outubro de 2020, o avanço foi de 6,4 pontos, o maior incremento anual da série histórica do indicador. Comparativamente a outubro de 2019, antes da pandemia, o incremento é de 6 pontos. Carnês de lojas e o financiamento automotivo também seguem ganhando destaque no endividamento.
Inadimplência aumenta
De acordo com a pesquisa da CNC, o percentual de famílias inadimplentes, ou seja, com dívidas e contas em atraso cresceu e atingiu 25,6% em outubro. A parcela que declarou não ter condições de pagar contas ou dívidas foi de 10,1%.