Em documentos internos, a ONU chama a situação criada por Israel de “inferno na Terra”
Mesmo com a Assembleia Geral da ONU aprovando por 120 a 14 o cessar-fogo imediato, a ditadura israelense intensificou a carnificina de palestinos na Faixa de Gaza neste sábado, através de ataques por ar, mar e terra. A votação mostrou o profundo isolamento dos EUA, a única potência a votar contra a proposta de paz. O número de civis mortos por Israel na região é incalculável.
O governo brasileiro realiza várias consultas para convocar de forma emergencial o Conselho de Segurança da ONU diante do terror israelense.
O Itamaraty recebeu um pedido do governo dos Emirados Árabes e avalia a possibilidade de que a reunião ocorra ainda já neste domingo. Em documentos internos, a ONU chama a situação de “inferno na Terra” e uma tentativa deliberada de Israel de impedir que ajuda humanitária chegue às vítimas.
A ideia é de que a reunião sirva para que a ONU pressione o governo de Israel a parar o genocídio. Ela servirá também para atualizar os membros do órgão sobre a dramática situação em Gaza, um dia depois de Israel iniciar o que chamou de nova fase de ataques. Governos ainda aproveitarão para denunciar a situação.
Numa declaração neste sábado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, comemorou a aprovação do documento na Assembleia Geral pedindo a trégua, o que foi considerado nos bastidores como um sinal de um amplo consenso internacional e um isolamento cada vez maior de EUA e Israel.
“Senti-me encorajado nos últimos dias pelo que parecia ser um consenso crescente na comunidade internacional, incluindo os países que apoiam Israel, quanto à necessidade de pelo menos uma pausa humanitária nos combates para facilitar a libertação dos reféns em Gaza, a evacuação de cidadãos de países terceiros e a necessária ampliação em massa da entrega de ajuda humanitária à população de Gaza”, disse Guterres…
Mas, segundo ele, a aprovação foi ignorada por Israel. “Lamentavelmente, em vez da pausa, fui surpreendido por uma escalada sem precedentes dos bombardeios e seus impactos devastadores, prejudicando os objetivos humanitários mencionados”, disse. “Devido ao colapso nas comunicações, também estou extremamente preocupado com a equipe da ONU que está em Gaza para prestar assistência humanitária”, alertou…
“Essa situação precisa ser revertida. Reitero meu forte apelo por um cessar-fogo humanitário imediato, juntamente com a libertação incondicional dos reféns e a entrega de ajuda humanitária no nível que corresponda às necessidades dramáticas da população de Gaza, onde uma catástrofe humanitária está se desenrolando diante de nossos olhos”, reafirmou o secretário da ONU.
Guterres insistiu no que vem dizendo nos últimos dias: “este é o momento da verdade. Todos devem assumir suas responsabilidades. A história nos julgará a todos”…
Volker Türk, chefe da ONU para Direitos Humanos, também denunciou os ataques das últimas horas. “Para agravar a miséria e o sofrimento dos civis, os ataques israelenses às instalações de telecomunicações e o subsequente desligamento da Internet deixaram os habitantes de Gaza sem nenhuma maneira de saber o que está acontecendo em Gaza e os isolaram do mundo exterior”, disse.
Segundo ele, o bombardeio da infraestrutura de telecomunicações coloca a população civil em perigo. “Ambulâncias e equipes de defesa civil não conseguem mais localizar os feridos ou as milhares de pessoas que, segundo estimativas, ainda estão sob os escombros. Os civis não conseguem mais receber informações atualizadas sobre onde podem ter acesso à ajuda humanitária e onde podem estar em menor perigo. Muitos jornalistas não podem mais fazer reportagens sobre a situação”, disse.
Ele ainda confirmou que perdeu contato com seus colegas em Gaza na noite passada. “Eles perderam famílias, amigos e casas em ataques que mataram milhares de pessoas em apenas três semanas e arrasaram bairros inteiros em Gaza. Não há lugar seguro em Gaza e não há saída. Estou muito preocupado com meus colegas, assim como estou com todos os civis de Gaza”, prosseguiu.
Para Türk, as consequências humanitárias e de direitos humanos serão “devastadoras e duradouras”. “Milhares de pessoas já morreram, muitas delas crianças. Dada a maneira como as operações militares foram conduzidas até agora, no contexto da ocupação de 56 anos, estou alertando sobre as consequências possivelmente catastróficas de operações terrestres em larga escala em Gaza e a possibilidade de morte de milhares de outros civis”, afirmou.
Em mensagem a seus funcionários, enviada por Phillipe Lazzarini, chefe da agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), ele diz que Gaza é o “inferno na terra”. O órgão ja perdeu 57 pessoas. “Espero sinceramente que esta mensagem chegue até vocês e que respondam em breve para me dizer que estão todos bem”, diz um trecho da carta.
Toda a família UNRWA, inclusive eu, está profundamente preocupada com vocês, pois a maioria dos canais de comunicação foi cortada em Gaza desde a noite passada. Só consegui entrar em contato com alguns colegas que estão na base da UNRWA em Rafah por meio de comunicação via telefone via satélite. No entanto, continuo sem contato com a grande maioria da minha equipe na Faixa de Gaza, o que me deixa imensamente preocupado com os colegas e suas famílias”, prosseguiu.
“Estou sempre torcendo para para que este inferno na Terra acabe logo e que vocês e suas famílias estejam em segurança. Tenho a esperança de que em breve os verei e os ouvirei quando me contarem sobre a dor pela qual todos passaram. Tento afastar o pensamento de que já perdemos 53 colegas e que muitos de vocês perderam parentes e entes queridos. Que todos eles descansem em paz”, conclui o dirigente do órgão.