“A renda se mantém baixa, com fragilidades no mercado de trabalho, incluindo um menor impacto de benefícios assistenciais, caso do auxílio emergencial reduzido”, avalia o presidente da CNC, José Roberto Tadros
No auge da pandemia e com o desemprego batendo recordes, os percentuais de brasileiros atolados em dívidas e inadimplentes subiram de abril para maio na mais intensa alta desde o início da pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Segundo a pesquisa, a parcela de endividados ficou em 68% em maio, sexto aumento consecutivo e superior à de abril (67,5%) e à de maio de 2020 (66,5%).
Já para os que não conseguem pagar as contas, o índice cresceu de 24,2% em abril para 24,3% em maio. Destes, 10,4% declararam que não têm condições de pagar as dívidas.
Para o presidente da entidade, José Roberto Tadros, “houve uma piora no orçamento das famílias em maio, com a alta da inadimplência, mas esse era um movimento esperado. A renda se mantém baixa, com fragilidades no mercado de trabalho, incluindo um menor impacto de benefícios assistenciais, caso do auxílio emergencial reduzido”.
A proporção das famílias que se declararam muito endividadas aumentou para 14,6%, maior parcela desde agosto do ano passado. Em relação à capacidade de pagamento, entre as famílias endividadas, a parcela média da renda comprometida com dívidas voltou a subir para 30,1% da renda mensal, a mesma proporção de março. Entre as famílias com dívidas, 20,2% afirmaram ter mais da metade da renda mensal comprometida com pagamento dessas dívidas em maio.
Mas, se para a direção da CNC, a nona rodada do auxílio emergencial que começou a ser paga em abril pode ajudar o brasileiro a pagar suas contas e dívidas, a realidade está se mostrando muito mais cruel.
Além do desemprego se aproximar de 15 milhões de brasileiros, entre 33 milhões de desempregados e subempregados, com desalento recorde atingindo 6 milhões de pessoas, o auxílio emergencial que foi reduzido à metade dos R$ 300 pagos em dezembro do ano passado, ficou ainda mais difícil comprar uma cesta básica de R$ 600, em média, assim como o botijão de gás que aumentou e a conta de luz que agora em junho passará a ser bandeira vermelha nível 2, corroendo ainda mais a pouca renda do brasileiro, seja aquele que recebe auxílio, seja o assalariado.
Entre as modalidades de dívidas apontadas na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta segunda-feira (31), o cartão de crédito é apontado em primeiro lugar por 80,9% do total dos entrevistados. Com os juros abusivos cobrados pelos bancos, com o aval do governo, o sujeito acaba se endividando ainda mais para pagar juros sobre juros.
Ainda que para o comércio o auxílio emergencial possa vir a ajudar os consumidores a pagarem suas dívidas, não é o que se verificou em abril, quando o governo retomou o pagamento do auxílio emergencial após três meses por pressão da sociedade.
Com valor menor, para menos brasileiros, a opção ainda é comprar um pouco de comida para suas famílias.