Bolsonaro deixou país atrás apenas da Turquia no ranking de desconforto econômico, o pior resultado desde 2016
O desemprego recorde e a inflação alta levaram o Brasil a ocupar o 2º lugar do mundo no ranking de mal-estar econômico no início de 2021. O índice leva em consideração 38 países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da qual o Brasil é convidado. Em termos de desconforto econômico da população, medido em 19,83% no primeiro trimestre de 2021, perdemos apenas para a Turquia – onde a última taxa registrada (no quarto trimestre de 2020), chegou a 26,27%.
O levantamento que leva em consideração a situação atual do país e a comparação com as demais nações foi realizado pelo pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV). Segundo o estudo, a taxa de Desconforto ou de mal-estar econômico “busca medir o grau de estresse econômico sofrido pela população, devido ao risco de perder emprego combinado com um aumento do custo de vida. O índice é calculado somando a taxa de desemprego à taxa de inflação”.
O indicador é usado pelo Banco Mundial como sinalizadores de boa gestão macroeconômica (capazes de reduzir as taxas de desemprego e inflação) e avaliação de como os cidadãos sentem os efeitos da economia ao longo do tempo. De acordo com a instituição, a média mundial da Taxa de Desconforto cresceu durante a pandemia, atingindo 8,4% – o que não chega nem perto de atingir os níveis do Brasil.
Para trazer o cálculo para a situação atual, os pesquisadores do Ibre somaram consideraram uma média trimestral da inflação e do desemprego. No Brasil, segundo dados do IBGE, a taxa de desemprego chegou a 14,49% em março (ou 14,8 milhões de pessoas), enquanto a inflação foi de 6,10% em 12 meses. Se for considerada a subutilização, 29,7% da força do trabalho do país está desempregada, desalentada ou trabalhando menos do que gostaria.
Os dados apontam que, por aqui, este é o pior nível de percepção sobre a situação econômica desde a recessão de 2016, quando a taxa chegou a 20,60%. Duque acrescenta que a percepção só não foi pior por conta do pagamento das parcelas do auxílio emergencial. E ainda que, potencialmente, a situação do país vai piorar em relação a 2016.
“Tendo em vista as projeções de alta inflacionária nos próximos meses e o grande contingente de trabalhadores ainda fora da força de trabalho, que tendem a voltar a procurar emprego nos próximos trimestres, a Taxa de Desconforto tende a passar a sua máxima desde 2016”, reflete o pesquisador no estudo.
A inflação em doze meses até maio já alcança 8,06% e o desemprego segue em escalada.
“Começamos a ver um aumento dos preços administrados, como energia e gasolina, puxados pela seca e pelo dólar. E ainda vamos ver um grande número de pessoas voltando a procurar trabalho, (o que pressiona a taxa), antes que o número de empregos gerados possa ser maior do que isso. Sem dúvidas a gente supera a situação em que estivemos em 2016”, afirmou Duque para reportagem do O Globo.
“Adicionalmente, potencialmente veremos o país piorando significativamente sua posição em relação aos demais países, tendo em vista que em muitos locais, a Taxa de Desemprego tem mostrado sinais de retração, ainda que a inflação tenha acelerado de forma mais generalizada”, acrescenta.