Enquanto a economia argentina despenca 4% em novembro em relação ao mesmo mês de 2017 (dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos – INDEC), o governo de Mauricio Macri joga gasolina na inflação que, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BCRA), chegou a 47,5% nesse período.
O presente de Natal de Macri aos argentinos, foi mais um tarifaço baixado durante a última semana do ano. O pacote do governo impõe aumentos – que chama de ‘ajustes’ – nas tarifas de transporte, eletricidade e gás. Ônibus e trens serão elevados em de 38,5 a 42% em três meses. No caso do metrô de Buenos Aires, embora ainda não acabou de ser implementado o último aumento de um parcelamento que começou em novembro, já é anunciada mais uma majoração de 27,3% de seu preço em abril próximo. A luz aumentará mais 55% durante 2019 e o gás, 35%.
Por setor econômico, os de pior desempenho registrado nos últimos doze meses foram o Comércio atacadista, varejista e de restauros, com uma baixa de 11,2%, a Indústria manufatureira, com 5,3% de queda e a Construção, que diminuiu em 4,7%.
A derrubada do consumo público e privado, do investimento e das importações mostra o péssimo desempenho da atividade econômica entre julho e setembro, período dentro do qual se registrou uma descontrolada desvalorização da moeda.
Aproveitando-se disso, o governo Macri determinou um aumento da taxa básica de juros que levou a Argentina a ocupar o primeiro lugar do mundo em termos de juros reais, com 14,52% para o mês de dezembro (taxa de juros atuais descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, um valor quase três vezes maior do que a taxa do segundo país colocado, neste ranking, a Turquia – fonte Asset Management).
Macri reforçou os planos de aplicar um arrocho fiscal para o ano que vem, associado a contração monetária para chegar ao déficit zero, com o objetivo de garantir ao Fundo Monetário Internacional e especuladores estrangeiros o pagamento da dívida que assumiu com eles durante 2018, assinando protocolos que, na prática, entregam ao FMI o controle da economia argentina, com as desastrosas e previsíveis consequências, como as já vistas em todos os países que se renderam, adotando esse grau de submissão.
Todos os setores da população foram afetados por essa política. A pobreza na Argentina subiu cinco pontos no último ano ao atingir mais 2,2 milhões de pessoas e chegou a 33,6% da população no terceiro trimestre de 2018, o que representa um total de 13,6 milhões de habitantes, a cifra é a mais alta na última década, segundo informe da Universidade Católica Argentina (UCA).
Com um aumento nominal de 24,6% acumulado até novembro, os fundos destinados ao pagamento de aposentadorias e pensões ficaram, de fato, 15 pontos abaixo da inflação acumulada no período.
Como previsível, o desemprego aumentou ainda mais e atingiu os 9% no terceiro trimestre, o que indica um aumento de sete décimos em relação à taxa de 8,3% registrada em igual período do ano anterior, segundo informou o INDEC. Por ramo de atividade, a principal variação em pessoas ocupadas se registrou na indústria manufatureira, que passou de 11,5% a 11,1%, com este setor perdendo, também, peso relativo no total da atividade econômica argentina.
O investimento público foi extremamente afetado pela tesourada aplicada pelo governo de Macri para ‘habilitar o país’ ao financiamento do FMI. A queda chega a 11,9% em onze meses.
A Confederação Geral do Trabalho da Argentina (CGT) exigiu que o governo reuna os Conselhos de Salários, órgãos tripartites formados por trabalhadores, empresários e governo, devido a que o aumento de 25% do salário mínimo outorgado é insuficiente diante de uma inflação de cerca de 50%, como informou na quinta-feira, 27, o jornal Âmbito Financeiro.
“A petição se baseia na queda do poder de compra dos salários dos trabalhadores por causa do processo inflacionário. Desde agosto, data da última reunião, a inflação não só não tem decrescido, senão que tem se depreciado notavelmente o valor real dos ingressos trabalhistas. Nós trabalhadores já mostramos que não vamos ficar assistindo passivamente o ataque aos nossos direitos”, declara a CGT em carta ao Ministro da Produção e Trabalho, Dante Sica.
SUSANA LISCHINSKY